Em 45 anos, fertilização in vitro gera mais de 10 milhões de bebês no mundo

Criada em 1978, técnica de reprodução assistida realiza o sonho de todos os tipos de pais

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São Paulo

Em 25 de julho, há 45 anos, a história da medicina ganhava um novo capítulo com o nascimento da inglesa Louise Brown, a primeira bebê de proveta da história.

Após nove anos de tentativas em vão de engravidar, seus pais, Lesley e John, aceitaram uma nova técnica proposta pelo ginecologista Patrick Steptoe e pelo profissional de reprodução Robert Edwards, a fertilização in vitro (FIV).

A técnica consiste em coletar óvulos dos ovários da mulher e fecundá-los em laboratório com os espermatozoides do marido. Em seguida, os embriões formados são selecionados e transferidos para o útero da mulher.

O casal Eduardo de Noronha Lopes e Ana Carolina Duran com o filho Caio; Ana precisou enfrentou uma endometriose e outras complicações para conseguir engravidar com a FIV
O casal Eduardo de Noronha Lopes e Ana Carolina Duran com o filho Caio; Ana precisou enfrentar uma endometriose e outras complicações para conseguir engravidar com a FIV - Arquivo pessoal

O procedimento deu tanto certo que quatro anos depois Louise ganhou uma irmã, Natalie, também pela FIV. E a dupla de médicos foi premiada com o Prêmio Nobel de medicina em 2010 pelo tratamento. Atualmente, Louise tem dois filhos e Natalie, quatro. Todos gerados naturalmente.

Segundo a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (Eshre, na sigla em inglês), até janeiro de 2022 mais de 10 milhões de bebês nasceram em todo o mundo por meio da técnica.

No Brasil, não há um levantamento de nascimentos. A SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida) diz que houve 384.962 ciclos de FIV no país nos últimos dez anos. Nem todo ciclo resulta em gravidez, uma vez que o processo depende de vários fatores, como a idade da mulher, a saúde do casal e o desenvolvimento dos embriões, afirma Alvaro Pigatto Ceschin, presidente da entidade.

"Não se consegue gravidez em 100% dos ciclos. O aprimoramento da técnica evoluiu muito com o passar dos anos, mas para se ter sucesso são necessárias duas ou três tentativas", afirma.

Outro fator limitante é o custo do tratamento, uma vez que a FIV ainda é para poucos no país.

"Os avanços na seleção dos melhores embriões também permitiram que os provedores transferissem apenas um, em vez de vários embriões para o útero de cada vez, reduzindo o risco de gêmeos ou mais", diz Rodrigo Rosa, médico especialista em reprodução humana e sócio fundador da clínica Mater Prime.

O profissional conta que, no passado, a infertilidade era frequentemente associada a um sentimento de inadequação ou fracasso, que foi superado com a esperança que trouxe a FIV.

"Além disso, promoveu mudanças na cultura. A técnica permitiu que casais do mesmo sexo, pessoas solteiras, mulheres com mais idade e indivíduos com problemas genéticos hereditários concebessem e desfrutassem da experiência maravilhosa de criar uma família. Isso mudou a forma como a sociedade encara a maternidade e a paternidade, ampliando as possibilidades de formação de famílias e desafiando as concepções tradicionais de parentalidade", afirma Rosa.

Um dos pontos positivos destacados pelos especialistas da área é que as crianças nascidas por meio da FIV crescem saudáveis, sem diferenças em questões como crescimento, saúde metabólica e mental.

"Essa é uma prova tangível do poder da ciência e da perseverança humana. O sorriso radiante da criança é um testemunho vivo do amor e da alegria que a FIV traz à vida das famílias", diz o ginecologista e obstetra Fernando Prado, especialista em reprodução humana, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.

Técnica realiza o sonho de todos os pais

A FIV foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1984, quando Anna Paula Caldeira nasceu em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba (PR). Desde então, a técnica tem acompanhado a evolução internacional, realizando o sonho de muitas pessoas, sejam elas casais héteros, homoafetivos e até pais solo.

A analista de planejamento e controle sênior Ana Carolina Duran, 38, por exemplo, lidou com três problemas até dar à luz o filho Caio, hoje com 1 ano e 3 meses.

Primeiro, ela se tratava de uma endometriose. Depois, descobriu estar com adenomiose (presença das células do endométrio infiltradas no músculo uterino) e o hormônio antimülleriano (AMH) baixo. Este hormônio, produzido pelas células do ovário, é responsável por regular o desenvolvimento e o crescimento dos folículos, as estruturas que contêm o óvulo.

Com isso, após o tratamento, apenas dois folículos estavam maduros e apenas um chegou ao estágio de blastocisto (embrião com 5 a 7 dias após a fecundação do óvulo). Mesmo assim, Ana conseguiu engravidar.

"Só sobrou um embrião, foi implantado e deu certo", comemora. "Meu Caio tem saúde para dar e vender. Não teve nenhum problema decorrente da FIV."

Já os casais formados pelos empresários Ranulfo Caldas Pereira, 36, e Victor Hugo, 33, e pelos bancários Vinícius Caroli Flor, 34, e Arthur Correa Silva, 27, contaram com a doação de óvulos e barrigas solidárias para realizarem seus sonhos de parentalidade.

Em março de 2022, a vida de Ranulfo e Victor Hugo ganhou um novo sentido com o nascimento de Benício. "Sempre quis ter filho. Procuramos a clínica em 2020, quando veio a vontade de executar o nosso planejamento de construir a nossa família. Benício é uma criança muito saudável, feliz, brincalhão. É um menino muito especial. Está com um ano e quatro meses e agora é a razão das nossas vidas", diz Ranulfo. O casal planeja ter mais um filho.

Vinícius e Arthur, por sua vez, tiveram Joaquim, hoje com um ano e oito meses. "O processo de fertilização em vitro foi feito com os óvulos de uma doadora anônima e fertilizamos com o material genético dos dois. Transferimos dois embriões, um de cada pai, e um fixou. Não sabemos qual. Posso destacar que o nascimento do Joaquim foi a prova de que o amor vence qualquer barreira. A chegada dele deixou a nossa casa e a nossa vida mais feliz", diz Vinícius.

Já o advogado Eduardo Veríssimo, 45, tornou-se pai solteiro e registrou dois filhos nascidos por fertilização in vitro: os gêmeos Julia e Vitor, hoje com cinco anos.

"O nascimento mudou minha vida, foi a realização de um sonho que batalhei muito para conseguir realizar. Na criação deles, tenho uma rede de apoio, mas todas as decisões partem de mim e sou muito apegado a eles e eles, a mim. Já me acostumei, sou muito organizado, isto ajuda. O maior desafio é dividir a atenção entre os dois", diz Eduardo. "Na época, tinha 37 anos, queria ser pai e as coisas aconteceram desta forma. Hoje estou em um relacionamento, a família aumentou."

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