Até que ponto é grave ter Covid pela segunda vez (ou a 3ª ou mesmo 4ª)?

Especialistas ainda não sabem ao certo quão prejudiciais as reinfecções podem ser

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Dani Blum
The New York Times

Médicos e cientistas que estudam a Covid-19 concordam que para a maioria das pessoas, ser infectadas uma segunda vez —ou mesmo uma terceira ou quarta— é quase inevitável. Quanto mais tempo o vírus permanece entre nós, mais comuns se tornam e já se tornaram as reinfecções, especialmente à luz do aumento de casos visto no verão e de uma nova cepa dominante.

Não existe infecção por Covid que seja isenta de risco. Mas pesquisadores estão procurando determinar até que ponto infecções reiteradas com o vírus podem ser prejudiciais: se os sintomas tendem a se agravar ou amenizar de uma vez a outra e se o risco de uma pessoa desenvolver Covid longa aumenta após múltiplas infecções.

Os dados sobre as consequências da Covid são escassos, incluindo sobre a proporção de pessoas que se reinfectam e acabam desenvolvendo complicações de mais longo prazo, disse Marc Sala, codiretor do Centro de Covid-19 do Northwestern Medicine Comprehensive. Veja o que sabemos até agora.

Ilustração de uma célula do coronavírus feita com dados e setas
Pesquisadores estão tentando descobrir quão prejudiciais podem ser as reinfecções repetidas de Covid-19 - Matt Chase for NYT

A intensidade das infecções repetidas

Para muitas pessoas que contraem Covid várias vezes, as infecções subsequentes serão tão ou mais leves que a primeira, revelam dados emergentes, provavelmente devido à imunidade parcial adquirida por infecções anteriores, pela vacinação e pelo fato de que as variantes mais recentes em circulação geralmente provocam sintomas menos graves. Existem algumas exceções, notadamente entre pessoas imunocomprometidas, mais velhas ou que tiveram infecções anteriores especialmente intensas. Pessoas que tiveram uma primeira infecção intensa têm mais chances de acabar hospitalizadas ou precisar de atendimento médico quando se reinfectam, disse Emily Hadley, cientista pesquisadora da RTI International que estuda a Covid longa.

Reinfecções e Covid longa

As chances de você apresentar Covid longa após uma reinfecção são imprevisíveis; vários especialistas entrevistados para esta reportagem usaram a metáfora da roleta russa. Quanto mais leves seus sintomas, menor é a probabilidade de você ficar com Covid longa, disse Peter Chin-Hong, especialista em doenças infecciosas da Universidade da Califórnia em San Francisco. Mas cada vez que você é infectado, não importa a intensidade, sempre existe a possibilidade de que desenvolva sintomas de mais longo prazo.

Um artigo científico instigante publicado na Nature Medicine no outono passado mostrou que pessoas que tiveram duas ou mais infecções por Covid têm probabilidade três vezes mais alta de desenvolver problemas pulmonares e cardíacos e mais de 1,5 vezes maior de apresentar uma desordem neurológica, incluindo confusão mental e AVCs, do que pessoas infectadas apenas uma vez. O estudo usou dados colhidos dos centros de saúde do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA, razão pela qual os participantes eram mais velhos que a maioria da população e em sua grande maioria homens. Mas ele demonstrou de maneira cabal que sofrer infecções múltiplas é pior do que ter apenas uma, disse um de seus autores, Ziyad Al-Aly, chefe de pesquisas e desenvolvimento do Sistema de Saúde V.A. St. Louis.

Sala disse que frequentemente vê pacientes que passaram mais ou menos bem após as duas primeiras infecções acabarem apresentando Covid longa após a terceira ou quarta infecção.

"Só porque você teve a sorte de não apresentar sintomas mais persistentes anteriormente, isso não quer dizer que isso não possa ocorrer da próxima vez", ele disse.

Mesmo assim, não é garantido que a reinfecção eleve definitivamente o risco de Covid longa, disse o virologista Fikadu Tafesse, da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon. "A reinfecção é algo que divide opiniões", ele disse. "Literalmente dependendo de qual artigo científico você estiver lendo, verá informações contraditórias a esse respeito. Por isso mesmo, não sei no que acreditar."

Paul Sax, diretor clínico da divisão de doenças infecciosas do Hospital Brigham and Women’s, disse que o risco geral de uma pessoa contrair Covid longa ainda é baixo e é muito menor hoje do que era no início da pandemia, quando as infecções tendiam a ser piores.

Reinfecções podem agravar os sintomas de pessoas que já estão com Covid longa, disse Chin-Hong. Outras pessoas com Covid longa podem não ver nenhuma mudança em seus sintomas.

Então o que fazer?

É fácil ter uma atitude fatalista em relação à reinfecção, disse Davey Smith, especialista em doenças infecciosas da Universidade da Califórnia em San Diego. Mas ele destacou que as pessoas podem reduzir o risco tomando medidas de bom senso, como comer ao ar livre quando o tempo estiver quente e não sair com amigos quando eles estão se sentindo doentes.

Mesmo assim, há muita coisa que foge do nosso controle. "Devemos tentar não contrair Covid, se possível, mas pessoalmente, acho que eu não quereria viver em uma bolha só para evitar contrair o vírus", disse Chin-Hong.

Ele observou também que há maneiras de reduzir o risco de complicações de longo prazo da Covid: uma vacina atualizada, que pode ajudar a proteger as pessoas contra a reinfecção, estará disponível neste outono no hemisfério norte, e antivirais como Paxlovid podem reduzir o risco de desenvolver Covid longa.

Chin-Hong disse que anda com uma máscara no bolso, mas que não desistiria de fazer uma viagem ou de abraçar um amigo com quem se encontrasse, devido à preocupação com o vírus. "Faço o melhor que posso, mas não vivo com medo", ele disse.

Tradução de Clara Allain

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