Descrição de chapéu The New York Times

Crescem as mortes relacionadas ao álcool entre mulheres nos EUA

Pesquisa observa aumento sobretudo entre mulheres com 65 anos ou mais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Dani Blum
The New York Times

Um novo estudo mostra que as mortes relacionadas a bebidas alcoólicas entre as mulheres estão aumentando nos Estados Unidos num ritmo mais rápido do que entre os homens, principalmente para pessoas com 65 anos ou mais.

O estudo analisou dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) sobre mais de 600 mil mortes relacionadas ao álcool entre 1999 e 2020, incluindo intoxicação por álcool, doença hepática alcoólica, cardiomiopatia alcoólica, intoxicação aguda e transtornos mentais e comportamentais relacionados ao consumo de álcool, entre outras causas.

Nos últimos 15 anos, as mortes ligadas ao álcool aumentaram constantemente nos Estados Unidos e, historicamente, mais homens morreram de causas relacionadas à bebida. Esse ainda é o caso, mostra esse estudo, mas a diferença está diminuindo. De 2018 a 2020, as mortes relacionadas ao álcool aumentaram 12,5% ao ano para homens, mas 14,7% ao ano para mulheres.

A pesquisa observou taxas crescentes entre mulheres mais velhas. De 2012 a 2020, as mortes relacionadas ao álcool entre aquelas com 65 anos ou mais aumentaram 6,7% ao ano, em comparação com um aumento de 5,2% ao ano para homens na mesma faixa etária.

Mulher bebe vinho em uma taça de cristal
Estudo mostra que as mortes relacionadas ao álcool entre as mulheres estão aumentando mais rapidamente do que entre os homens, especialmente para pessoas com 65 anos ou mais - Karsten Moran - 26.out.22/NYT

O estudo não aponta as razões do aumento das mortes femininas relacionadas ao álcool, disse Ibraheem Karaye, professor assistente de saúde populacional da Universidade Hofstra e principal autor do estudo. Mas ele ofereceu algumas possíveis explicações.

Primeiro, as taxas de consumo de álcool parecem estar crescendo entre as mulheres, disse Karaye. Ele também observou que a bebida alcoólica atinge as mulheres de forma diferente: os corpos femininos tendem a ter menos líquido para diluir o álcool em comparação com os corpos masculinos, o que resulta em maiores concentrações de álcool no sangue e pode tornar as mulheres mais vulneráveis a complicações de saúde.

As mulheres também correm maior risco de depressão e ansiedade, segundo George Koob, diretor do Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo, e podem estar recorrendo ao álcool para lidar com isso, especialmente após a pandemia de Covid-19. As mulheres mais velhas são propensas a experimentar sentimentos de solidão, disse ele, já que muitas vezes sobrevivem a seus parceiros.

As taxas de mortalidade mais altas entre as mulheres mais velhas também podem resultar do preço que o álcool cobra ao longo da vida, disse Karaye. Mulheres com mais de 65 anos talvez não estejam consumindo mais álcool do que as mais jovens, mas sofrem os efeitos de décadas de consumo crônico.

Qualquer pessoa pode se beneficiar de beber menos álcool. Ao longo dos últimos anos, a pesquisa aguçou a ligação entre o consumo casual e as consequências graves para a saúde.

Mesmo que você tenha bebido constantemente ao longo da vida, diminuir agora pode ajudar a reduzir o risco, disse Johannes Thrul, professor associado da Escola de Saúde Pública Bloomberg da Universidade Johns Hopkins.

Vários especialistas recomendaram um guia do Instituto Nacional sobre Abuso de Álcool e Alcoolismo chamado "Repensando o consumo de álcool", que pode ajudá-lo a avaliar seu uso de álcool, criar um plano para reduzir ou parar e determinar se você deve procurar ajuda profissional.

Para os adultos mais velhos que estão se perguntando se o consumo de bebida alcoólica é problemático, Koob disse que há alguns fatores que devem ser considerados. O álcool pode fazer com que suas interações sociais se deteriorem, disse ele —por exemplo, se você estiver enrolando a língua ao falar por telefone com seus netos à noite, ou agindo de forma mais irritadiça durante o dia. As pessoas também podem achar que beber atrapalha o sono ou as impede de se exercitar, ou que ficam mais propensas a sofrer quedas.

Tirar alguns dias de folga da bebida também pode ajudá-lo a avaliar seu relacionamento com o álcool, aconselhou Koob: se você se sentir melhor nesses dias —você fica mais lúcido, dorme mais profundamente—, é um forte indício de que você deve reduzir o consumo.

É importante não pensar em seu uso de álcool como estritamente binário —que você tem um problema ou não, disse Holly Whitaker, autora de "Quit Like a Woman: The Radical Choice to Not Drink in a Culture Obsessed With Alcohol" (pare como uma mulher: a escolha radical de não beber numa cultura obcecada pelo álcool). Em vez disso, ela disse, é crucial pensar no impacto final do álcool em sua vida e "realmente sintonizar: isso não é bom?"

Thrul disse que uma estratégia para reduzir é identificar as ocasiões em que você mais deseja beber, para poder pensar em alternativas, como bebidas sem álcool.

"Realmente, beber com baixo risco é não beber nada", disse Thrul. "Isso é algo que a sociedade está apenas começando a entender."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.