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'Vacina' para prevenção ao HIV pode estar pronta no início da próxima década

Farmacêutica aumenta investimento em medicamento de ação prolongada para proteger aqueles expostos ao vírus

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Donato Paolo Mancini
Londres | Financial Times

Uma droga semelhante a uma vacina administrada uma vez por ano para prevenção ao HIV pode ficar pronta logo após 2030, segundo a fabricante de medicamentos ViiV, transformando o tratamento de um vírus que matou quase 40 milhões de pessoas em uma epidemia que dura mais de quatro décadas.

Embora não haja uma vacina para tratar o HIV, um vírus que pode levar à Aids, a profilaxia pré-exposição (PrEP) reduziu as taxas de transmissão ao oferecer proteção para aqueles que podem estar expostos ao vírus.

A maioria das terapias de PrEP depende da ingestão diária de medicamentos orais ou quando ocorrer sexo desprotegido, mas o possível surgimento de um medicamento preventivo com características de uma vacina poderia reduzir drasticamente o peso sobre os pacientes e as autoridades de saúde globalmente.

Mulher em Katmandu, no Nepal, usa laço vermelho na roupa, símbolo da consciência sobre o HIV e apoio a pessoa que vivem com o vírus
Mulher em Katmandu, no Nepal, usa laço vermelho na roupa, símbolo da consciência sobre o HIV e apoio a pessoa que vivem com o vírus - Navesh Chitrakar - 30.nov.16/Reuters

A desenvolvedora de medicamentos contra o HIV, ViiV, está acelerando a pesquisa sobre o VH184, um medicamento antirretroviral projetado para bloquear a ação da enzima integrase, que insere o código genético do vírus HIV no DNA da célula hospedeira.

Kimberly Smith, chefe de pesquisa e desenvolvimento na ViiV, disse que um medicamento de ação prolongada administrado a cada 12 meses em breve será alcançável: "Não posso dizer quando, mas não muito além do final desta década. Será possível, eu acredito".

"[VH184] demonstrou uma meia-vida muito longa em estudos pré-clínicos", disse ela ao Financial Times. "Precisamos determinar se essa meia-vida muito longa se traduz em humanos."

Medicamentos de ação prolongada são administrados por via intramuscular mensalmente ou com menor frequência, liberando substâncias químicas ao longo de um longo período de tempo. Meg Doherty, chefe do programa de HIV da Organização Mundial da Saúde (OMS), disse que o medicamentos de ação prolongada da ViiV em discussão é "empolgante", mas enfatizou a necessidade de garantir cobertura universal de baixo custo.

"Será importante continuar garantindo que esses tratamentos de prevenção [de HIV] e novas abordagens estejam disponíveis para todos, incluindo pessoas que vivem em países de baixa e média renda", disse ela.

A ViiV, uma empresa controlada pela GSK em parceria com a Pfizer dos EUA e a Shionogi do Japão, disse a investidores no fim de setembro que aumentou sua projeção de crescimento de vendas para entre 6% e 8% entre 2021 e 2026, à medida que sua aposta em medicamentos de ação prolongada compensa o "abismo de patentes" —ou perda de exclusividade— de seu tratamento oral de grande sucesso, o o atirretroviral dolutegravir.

A empresa dispõe de dois medicamentos de ação prolongada baseados no cabotegravir, outro inibidor da integrase, aprovados por reguladores: o cabenuva, em combinação com outra molécula, para o tratamento de pacientes que contraíram o HIV, e seu medicamento PrEP Apretude. Esses produtos não orais são geralmente tomados mensalmente ou a cada dois meses.

Smith disse que as pessoas começaram a dizer que Apretude é "quase como uma vacina... basicamente você toma a dose e depois não precisa mais pensar nisso, ao contrário da necessidade de tomar algo todos os dias".

"Certamente quanto mais tempo passamos com esses intervalos, mais parece isso", acrescentou, comparando-o às vacinas anuais contra a gripe e a Covid-19. A Gilead, sediada nos EUA, também está desenvolvendo tratamentos de longa duração para o HIV.

Enquanto Deborah Waterhouse, CEO da ViiV, afirmou que houve uma adesão forte aos medicamentos de PrEP de longa duração nos EUA, a situação foi variada na União Europeia, apesar da aprovação regulatória.

O reembolso precisa ser negociado com cada país individualmente, e, embora alguns governos tenham mostrado interesse, muitos não fizeram pedidos porque conseguiram controlar a carga de casos de HIV com tratamentos orais mais baratos.

O acesso a medicamentos de ação prolongada em nações mais pobres com altas taxas de HIV continua irregular, apesar da assinatura de licenças para sua fabricação genérica. A ONG Médicos sem Fronteiras se recusou a assinar um termo de confidencialidade sobre preços solicitado pela ViiV para um acordo de acesso em Moçambique e outros países.

Waterhouse disse que está procurando encontrar um meio-termo com a MSF e chegar a uma resolução "porque queremos que eles sejam parceiros".

"Será uma pena se houver uma repetição do que vemos agora com [PrEP de ação prolongada], onde pessoas na África, com a maior carga de HIV, têm pouco acesso a ele para prevenção", disse Doherty, da OMS.

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