Médica engana ao dizer que vacinas contra a Covid causam infarto e morte súbita em crianças

Autora de post viral já teve outras afirmações apontadas como mentirosas

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São Paulo

Dados do estudo do Observatório Infância, da Fiocruz, mostram que é falso que crianças têm Covid-19 de forma muito leve, ao contrário do que afirma post viral nas redes sociais. De acordo com a pesquisa, em 2020 e 2021, a doença causou a morte de 539 crianças de 6 meses a 3 anos de idade.

Sobre a ocorrência de pericardite e miocardite como efeitos adversos pós-vacinação, o conteúdo investigado pelo Comprova confunde ao não deixar claro que se tratam de ocorrências consideradas muito raras. Além disso, um estudo publicado no site do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), dos Estados Unidos, mostrou que o risco de complicações cardíacas, incluindo miocardite e pericardite, foi significativamente maior após a infecção pelo vírus Sars-CoV-2, que provoca a Covid-19, do que após a aplicação da vacina entre pessoas com ao menos 5 anos.

Diante da baixa incidência de miocardite e pericardite como evento adverso pós-vacinação, a última nota técnica do Ministério da Saúde sobre o tema, de número 139/2022, reforça o benefício da vacina em comparação com o risco de infecção por Covid-19 e desenvolvimento das formas graves da doença.

Criança recebe vacina contra a Covid em São Paulo; em vídeo, médica engana ao sugerir que imunizantes provocam morte súbita, infarto e outros problemas - Bruno Santos - 20.jan.2022/Folhapress

Em relação a outras complicações em crianças que, segundo a responsável pela gravação, seriam consequências da vacina —morte súbita, infarto, problemas neurológicos e catatonias musculares—, não há dados no boletim de monitoramento da segurança das vacinas, do Ministério da Saúde, que confirmem a alegação. A autora também não cita o que poderia embasar a alegação. Já sobre convulsão como possível evento adverso, a informação aparece (página 12) com uma incidência de menos de 0,06% a cada 100 mil doses aplicadas da vacina Pfizer/Wyeth e 0,03% a cada mil doses da Janssen —mas sem necessariamente ter relação de causalidade com a vacina comprovada.

A responsável pelo vídeo também afirma que a bula da vacina pediátrica da Pfizer não indica que o imunizante foi testado em crianças menores de 5 anos. Mas o documento cita estudos clínicos em crianças a partir de 6 meses de idade. Em pessoas com 5 anos de idade ou mais, a miocardite e a pericardite são classificadas como eventos adversos "muito raros", com ocorrência em menos de 0,01% dos pacientes que usaram o imunizante.

A reportagem fez contato com a médica Raissa Soares, autora do post, mas não houve retorno até a publicação desta verificação. Ela já teve diversas afirmações apontadas como desinformação.

O Comprova considerou o conteúdo enganoso por trazer informações imprecisas sobre a vacinação infantil, distorcendo o que os dados oficiais e a bula da citada vacina apontam.

Por que investigamos

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984. Sugestões e dúvidas relacionadas a conteúdos duvidosos também podem ser enviadas para a Folha pelo WhatsApp 11 99486-0293.

Leia a verificação completa no site do Comprova.

A investigação desse conteúdo foi feita por Estadão e Alma Preta e publicada em 29 de novembro pelo Comprova, coalizão que reúne 41 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, NSC, A Gazeta, GZH, SBT e SBT News.

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