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Amazonas tem alta de febre oropouche em meio a aumento de casos de dengue e de Covid

Doença tem quadro semelhante ao da dengue, com febre, dor de cabeça, náuseas e vômitos persistentes por até sete dias

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Manaus

A estação chuvosa na Amazônia acendeu um novo alerta sanitário em Manaus, a capital mais populosa da região. A cidade registra três vezes mais casos de febre oropouche do que todos os registros do ano passado. Os dados consideram os casos confirmados até o dia 3 de fevereiro deste ano monitorados pela Semsa (Secretaria Municipal de Saúde) da Prefeitura de Manaus.

Segundo a secretaria, foram 217 pessoas infectadas em 2023 e, em 2024, 672 casos confirmados só até o dia 3 de fevereiro. No dia 6 de fevereiro, a Semsa informou a morte de uma adolescente de 15 anos por infecção simultânea de oropouche e dengue, outra doença infecciosa que voltou a subir nas últimas semanas no Amazonas.

A maioria dos registros de oropouche 2023 se acumula no final do ano, segundo dados divulgados pela Prefeitura de Manaus. Ou seja, há um aumento de registros da doença nos últimos meses na região, que recentemente sofreu os efeitos da maior seca dos últimos 121 anos.

Prefeitura de Manaus faz ação de limpeza e coleta de resíduos sólidos contra o mosquito da dengue
Prefeitura de Manaus faz ação de limpeza e coleta de resíduos sólidos contra o mosquito da dengue - Valdo Leão/Secom

O quadro levou a Semsa, a SES (Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas) e a Opas (Organização Pan Americana de Saúde), vinculada à OMS (Organização Mundial de Saúde), a publicarem alertas epidemiológicos sobre a transmissão de oropouche no Amazonas. As publicações da Semsa e da SES foram feitas no início de janeiro e da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) no início de fevereiro.

Segundo as notas técnicas da FVS (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas) e a Opas, a febre oropouche é uma arbovirose —doença transmitida por insetos como mosquitos, aranhas e carrapatos.

O vírus oropouche infecta os seres humanos principalmente pela picada do mosquito Culicoides paraensi, conhecido como maruim. Primatas e bichos-preguiça são os hospedeiros do vírus. Em áreas urbanas, os humanos se tornam os hospedeiros.

A febre oropouche produz um quadro semelhante ao da dengue com febre, dor de cabeça, artralgia (dor nas articulações), mialgia (dor muscular), calafrios, náuseas e vômitos persistentes por até sete dias, na maioria dos casos. Quadros mais graves podem levar à meningite asséptica e efeitos da doença por semanas, segundo a Opas.

Peru, Equador, Guiana, Colômbia e Brasil tiveram registros da doença em anos anteriores e, de acordo com a nota da Opas, os casos se concentram nos últimos dez anos na Amazônia. Em 2011, também no período chuvoso, Manaus teve um surto de oropouche.

Dados do Governo do Amazonas indicam que, até o dia 9 de fevereiro, o número de pessoas confirmadas com a infecção era de 1.134 e que, em 2023, o número total de casos confirmados foi de 10 doentes.

As informações da Prefeitura de Manaus e do Governo do Amazonas são contraditórias sobre os registros da infecção pelo vírus e o aumento de casos. A reportagem solicitou dados atualizados deste ano e do mesmo período do ano passado, mas eles não foram fornecidos nem pelo Governo do Amazonas e nem pela Prefeitura de Manaus.

No alerta epidemiológico, a Opas, recomenda diagnóstico diferencial do vírus, medidas de controle e proteção individual contra a doença.

A Opas também alerta para vigilância genômica com o objetivo de identificação de novas variáveis do vírus e destacou que o aumento de contágio de oropouche ocorre num momento em que há "intensa circulação de dengue em várias regiões do Brasil".

No Amazonas, os casos de dengue neste ano estão no mesmo padrão dos registros do ano passado. Foram 1.024 casos confirmados até o dia 9 de fevereiro de 2024, enquanto no mesmo período de 2023 foram 995 casos confirmados, segundo a FVS.

Para o pesquisador da Fiocruz e epidemiologista, Jesem Orellana, os registros de dengue, covid-19 e oropouche mostram que o Amazonas passa neste momento por uma tripla epidemia com forte característica de subnotificação, sobretudo no interior do Estado. Orellana afirma que o quadro é semelhante em Rondônia.

O epidemiologista da Fiocruz declarou que, enquanto as cidades estão infestadas de maruim, há falhas na infraestrutura laboratorial e no treinamento para diagnosticar casos de febre oropouche. "Há um esforço da Fiocruz nessas cidades, mas não é o suficiente. Municípios e estado deveriam estar melhor preparados para o diagnóstico em meio a epidemias", disse.

Orellana criticou o atraso nos alertas epidemiológicos. Para ele, no momento em que houve a identificação de surtos das doenças, o que ocorreu em dezembro, os alertas deveriam ser emitidos e medidas tomadas para conter o avanço do vírus.

Para ele, não houve aprendizado com os dois colapsos do sistema de saúde no Amazonas durante a pandemia de covid-19 e o roteiro de erros é o mesmo. "Não tem medida preventiva, nem sistema de alerta. É aquela mesma lógica da epidemia: a coisa acontece, as pessoas adoecem, a demanda ocorre e, depois de tudo isso, conta história para a imprensa para fins de registro".

O pesquisador afirma que o atual quadro de proliferação dos mosquitos transmissores de dengue e oropouche está associado aos efeitos da crise climática na região porque os insetos se adaptaram aos novos tempos enquanto o poder público age com negacionismo em relação às mudanças climáticas. Ele diz que a falta de saneamento básico nas cidades da Amazônia é outro fator que favorece as epidemias por arboviroses.

"Os mosquitos adotaram novas estratégias para se multiplicarem. E nós estamos ignorando a crise climática e adotando estratégias de controle anteriores a ela. Por isso, estamos levando uma surra do mosquito da dengue e do maruim. Ignorar a questão da crise climática é a fórmula do fracasso", declarou o epidemiologista da Fiocruz.

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