Cigarro eletrônico aumenta risco de infarto em 1,79, diz Sociedade Brasileira de Cardiologia

Entidade defende que proibição seja mantida; organização afirma que Brasil tem cerca de 3 milhões de usuários

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São Paulo

O consumo regular de cigarros eletrônicos aumenta em 1,79 vez o risco de infarto do miocárdio, de acordo com estudos observados pela SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).

Há ainda outros efeitos nocivos comuns ao cigarro, como o risco aumentado de AVC (acidente vascular cerebral).

A nicotina, segundo o cardiologista Gerson Luiz Bredt Júnior, vice-presidente do conselho administrativo da SBC, é o principal vilão. A substância, presente tanto no tabaco quanto nos vapes, favorece a aterosclerose, condição que leva à obstrução do fluxo sanguíneo em diferentes partes do corpo.

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Cigarro eletrônico é proibido no Brasil desde 2009 - Eduardo Knapp - 09.ago.2017/Folhapress

"A obstrução das artérias coronárias é o que leva ao infarto, enquanto a obstrução das artérias cerebrovasculares leva ao AVC", explica o médico.

"Já é muito conhecido o efeito do tabagismo convencional, que é devastador. Num prazo de duas a três décadas de exposição, aumenta muito a incidência de doenças cardiovasculares, respiratórias e neoplásicas –os cânceres."

Estudos que já investigaram os efeitos de cigarros eletrônicos na saúde e viram danos parecidos aos modelos tradicionais, embora faltem evidências de longo prazo para um entendimento mais robusto. O médico alerta que diferentes substâncias contidas nos vapes, como solventes e metais pesados, ainda tem efeitos de longo prazo desconhecidos. O aumento da concentração de nicotina nos produtos também preocupa.

"Os dispositivos têm cada vez mais nicotina, em quantidades até maiores que no cigarro convencional. A gente ainda não tem tempo de exposição para observar esses efeitos de maneira mais robusta, mas é notório que as consequências serão as mesmas [que do tabagismo]", acrescenta o especialista.

Segundo a SBC, aproximadamente 3 milhões de brasileiros fazem uso regular dos DEFs (dispositivos eletrônicos de fumar), também conhecidos como vapes. Os cigarros eletrônicos são cada vez mais consumidos no Brasil, apesar de proibidos desde 2009.

Na semana passada, a entidade médica divulgou posicionamento defendendo que a proibição seja mantida.

A questão está sendo avaliada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que nos últimos meses coletou mais de 7 mil contribuições da sociedade sobre o tema em consulta pública encerrada nesta sexta-feira (9).

Como noticiou a Folha, a área técnica do órgão regulador se manifestou favorável à proibição, devido aos riscos à saúde, dependência e incentivo ao consumo por jovens.

"Os cigarros eletrônicos estão criando uma nova geração de fumantes, após décadas de redução no consumo de tabaco", diz Bredt. "Milhares de crianças e adolescentes que nunca fumaram estão consumindo esses dispositivos".

Os diferentes aromas e essências dos vapes são apontados como fatores de estímulo ao tabagismo entre os mais jovens.

Segundo o documento da SBC, a alegação da indústria do tabaco de que os DEFs são uma alternativa de menor risco à saúde para quem quer substituir o cigarro convencional não encontra respaldo na literatura científica.

"Além disso, adultos fumantes que recorrem aos vapes exibem uma notável inclinação para a dupla utilização, que envolve cigarros tanto eletrônicos quanto regulares, o que aumenta os riscos à saúde", diz o documento.

"A presença de nicotina nos dispositivos está vinculada a aumento da frequência cardíaca, elevação da pressão arterial e intensificação do estresse oxidativo".

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