Ó do Borogodó é destino certo para ouvir bom samba em São Paulo
São Paulo tem mais samba do que muita gente pensa, mas não é coisa que dá para ir encontrando assim, a qualquer hora e em qualquer lugar.
Quer dizer, existe, como não, um porto que costuma ser seguro para qualquer peregrinação do tipo: o Ó do Borogodó.
Só que, espremido numa casa igual a tantas outras de Pinheiros, ele exige do visitante de primeira viagem muita confiança nas recomendações.
Porque é do tipo de lugar onde quem vê cara não vê coração. No caso, quem olha só a discreta portinha perde a imponente janela, diante da qual 11 lâmpadas amarelas iluminam as mesas dos músicos.
Mesas, pois, já que palco não há, e é por aí que se entende o ambiente do Ó. As noites de samba, sempre tardias, destinam-se a um jogo de sedução entre público e músicos, no qual o primeiro sempre acabará por precingir os últimos, após um flerte que envolve um aquecimento digno do nome.
A imagem de Dilma, outrora figura de destaque, já não se avista mais atrás da roda de samba. Mas continuam ali em volta, como se nunca tivessem saído, pessoas que os que estão de regresso alguma vez conheceram, decerto sem lembrar quando foi. As paredes de tijolinho à vista sugerem que não se inventou nada melhor para a acústica do que o barro.
Resumido o ambiente interno, resta buscar a vizinhança, observada pela grande vidraça. Quem põe os olhos ali enxerga, do outro lado da rua, um cemitério de nome São Paulo —e acaba por concluir que nesta cidade, ao contrário da velha boutade, túmulo e samba não dividem a mesma quadra não.
Ó do Borogodó - R. Horácio Lane, 21, Pinheiros, tel. 3814-4087