Em 50 anos, Super Bowl passou de um simples jogo a evento milionário

Um dos feriados mais importantes do país tem fortes relações com consumismo e patriotismo

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Tom Brady, do New England Patriots, de capacete e uniforme
Tom Brady, do New England Patriots - Associated Press

São Paulo

ualquer estrangeiro que entra em um supermercado no interior dos Estados Unidos na semana do Super Bowl, e nem sabe direito o que é futebol americano, percebe que existe um grande evento pela frente.

As ofertas se multiplicam. À disposição estão salgadinhos para muitas pessoas. Bebidas, alcoólicas ou não, em profusão. Asas de frango, guacamole, batata chips... O cardápio é farto e calórico.

Os números cada vez mais superlativos no comércio, na audiência da televisão e nos negócios que envolvem o jogo transformaram, durante as últimas cinco décadas, uma simples partida de futebol americano no maior evento esportivo de um dia único da humanidade.

A receita, segundo Peter Hopsicker, pesquisador da Universidade da Pensilvânia, tem várias referências importantes da cultura americana, desde o patriotismo até o consumo notável no país.

"O Super Bowl é uma experiência compartilhada nos EUA e além de suas fronteiras. O evento é um feriado nacional e tem vínculos com acontecimentos nacionais, comerciais e culturais", diz Hopsicker à Folha.

Em 1967, no primeiro Super Bowl da história -a partida reúne os campeões das duas conferências do futebol americano-, o Los Angeles Memorial Coliseum, com 90 mil lugares, tinha 35 mil assentos vazios. O preço médio do ingresso era US$ 67, em valores corrigidos para 2018.

No domingo (4), na partida entre Philadelphia Eagles e New England Patriots, às 21h30 pelo horário de Brasília, os mais de 66 mil lugares do estádio US Bank, em Minneapolis, estarão cheios.

O preço médio do ingresso, apesar de poucos bilhetes serem vendidos ao público em geral -a maioria é distribuída aos times, patrocinadores e demais clientes corporativos-, é de US$ 5.680.

"Os ingredientes acrescentados ao longo do tempo, além do jogo em si, como os comerciais exclusivos, os shows com grandes estrelas de música e as ligações patrióticas do evento [como caças voando sobre o estádio ou as cerimônias após os terríveis atentados de 11 de Setembro] forjaram o Super Bowl que temos hoje", afirma Hopsicker.

O acadêmico cita como comercial emblemático um realizado em 1984.

Naquele ano em que o Los Angeles Raiders atropelou o Washington Redskins por 38 a 9 em Tampa (Flórida), a Apple apresentou sua nova máquina, o computador Macintosh. O anúncio de 1 minuto, transmitido uma vez durante o Super Bowl 18, custou US$ 1 milhão (o equivalente, hoje, a US$ 2,4 milhões). A publicidade fazia alusão ao livro "1984", do escritor George Orwell (1903 a 1950).

Segundo levantamento de Hopsicker, se o comercial de 30 segundos custava em média US$ 368 mil em 1984, ele valorizou desde então 11,65% ao ano. A estimativa é que os 30 segundos mais caros da televisão, que vão ao ar no domingo, custam US$ 5 mi.

A audiência televisiva também segue o mesmo ritmo. Estimativas conservadoras dão conta de que o jogo é visto por pelo menos 200 milhões de pessoas em todo mundo. Contra 100 milhões em meados dos anos 1980.

"Não conseguimos medir a presença on-line no dia de jogo. Se conseguirmos ver com precisão, perceberemos mudanças significativas neste milênio", diz Hopsicker.

ESPETÁCULO ESPORTIVO

Apesar de integrar o hall dos grandes feriados dos EUA, como o 4 de Julho e o Dia de Ação de Graças (que fica na frente do Super Bowl em consumo de gêneros alimentícios), o evento da NFL não é unanimidade entre acadêmicos e nem entre jornalistas.

A mídia muitas vezes critica o nível técnico do espetáculo. Diz que o jogo é amarrado ou desigual, com poucas exceções, caso de 2017, quando, pela primeira vez, o campeão saiu após a disputa da prorrogação. Também se discute a elitização do espetáculo, sendo o futebol um esporte muito popular.

Para pesquisadores,o Super Bowl estimula o consumismo e o enriquecimento exagerado de entidades como a própria NFL. E não oferecem muitas contrapartidas para as cidades-sede.

Mesmo com as críticas ao evento, Hopsicker afirma que o Super Bowl continuará impactando a sociedade. "O jogo e a atmosfera de férias com as atividades culturais passaram a dividir uma relação mútua só de benefícios".

TRANSMISSÃO NO BRASIL

Quem preferir assistir fora de casa ao jogo entre o New England Patriots, cinco vezes campeão do Super Bowl, e o Philadelphia Eagles, no domingo (4), terá várias opções. O início será às 21h30, pelo horário de Brasília.

Em São Paulo, bares prometem transmitir o jogo em telões. Outra opção é assistir ao jogo na tela grande, em um dos cinemas da rede Cinemark que exibirão a partida em parceria com a ESPN, rede televisiva que tem exclusividade na transmissão do evento no país.

Os ingressos custam R$ 60. Ao todo 119 salas de cinema devem fazer a transmissão no Brasil.

Os lances protagonizados por Tom Brady e Nick Foles também serão vistos na televisão e nos serviços online da emissora.

"A média da audiência nas últimas três temporadas cresceu 78% no Brasil", afirma German Hartenstein, diretor geral da ESPN no país.

Segundo o executivo, a estratégia de mostrar o futebol americano de uma forma didática tem dado certo e aumentado a audiência do esporte não apenas durante o Super Bowl, mas ao longo de toda a temporada.

"Temos um público na maioria jovem, mas todas as idades estão assistindo à temporada. Inclusive há aumento do público feminino", diz.

De acordo com ele, todas as cotas de patrocínio do futebol americano foram vendidas para a temporada 2017/2018.

Os torcedores podem ainda assistir à transmissão do jogo em inglês no site gamepass.nfl.com/packages por R$ 34,99.

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