Andrés promete renegociar contrato por receitas do Itaquerão

Favorito a vencer a eleição, ex-presidente quer rever contratos da Arena Corinthians

André Sanchez concede entrevista para a Folha em 2014
Andrés Sanchez tenta voltar a ser presidente do Corinthians - Folhapress
Diego Garcia

Andrés Sanchez se tornou presidente do Corinthians pouco antes da maior tragédia nos 107 anos do clube, o rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro, em 2007. Logo após o impeachment de Alberto Dualib, o ex-vice de futebol e ex-vice de esportes terrestres venceu Paulo Garcia e Osmar Stabile em eleição no Conselho Deliberativo para assumir o time do coração pela primeira vez.

Líder da chapa "Renovação e Transparência", Andrés comandou o renascimento do Corinthians. Depois de assumir, levou o clube de volta à primeira divisão nacional e fez uma das maiores contratações da história alvinegra, ao anunciar Ronaldo como principal reforço para a temporada 2009. Com ele, foi campeão paulista invicto e ainda triunfou na conquista da Copa do Brasil.

Andrés deixou a presidência corintiana em dezembro de 2011, pouco depois de se sagrar campeão brasileiro de futebol. Não sem antes dar aquela que seria suas duas maiores tacadas à frente da agremiação alvinegra: a construção do CT do Parque Ecológico e o anúncio do tão sonhado estádio do Corinthians, uma arena no bairro de Itaquera, que seria sede da Copa do Mundo de 2014.

Mais de seis anos depois, contudo, o sonho da casa própria idealizado por Andrés vem se tornando o pesadelo dos cofres corintianos. Afinal, a dívida pela arena só cresce, estando o preço total hoje na faixa de R$ 1,8 bilhão. E o agora candidato pretende fazer o possível para renegociar os termos de pagamento do estádio com a Caixa Econômica Federal e a Odebrecht.

"Em 2011, o Brasil era um país, e hoje é outro país economicamente falando. Em um país onde todos estão em crise, é difícil sentar na mesa para negociar. Mas vou tentar negociar de uma maneira melhor para o Corinthians", afirma Andrés.

 

O que pode falar sobre suas vices?

Você conhece os vices dos outros candidatos? Ninguém perguntou para eles sobre o vice deles. É um país machista. Frequentam o clube há mais de 40 anos. São conselheiras há dez anos. (Nota da reportagem: a entrevista foi feita no início de dezembro, quando Edna  Murad  Hadlik e Maria de Lourdes Jacob Mattavo ainda eram as vices da chapa de Andrés).

Por que escolheu as duas?

Quem escolhe sou eu. Tinha vários pretendentes, o futebol é machista e nada melhor que por duas mulheres. Hoje, 40% do público é feminino e elas sabem os problemas do clube, vão ajudar a resolver. (Nota da reportagem: dias depois da entrevista, Maria de Lourdes deixou a chapa acusando ter sido retirada por "excesso de mulheres". Na época, Andrés respondeu dizendo que muitos da chapa queriam a saída dela)

O Alessandro continua como gerente de futebol?

Nem teve a eleição. Não vou te falar o que pretendo fazer.

E se você ganhar?

Se ganhar não tem problema nenhum. Não sei o que fica perguntando se o Alessandro fica ou não. Me dá um motivo para ele sair.

Eu não sou candidato, você é.

E eu não sou presidente.

Mas é candidato a presidente. Como candidato a presidente, você acha que tem algum motivo para ele sair?

Vocês têm que fazer perguntas mais concretas, perguntem o que eu vou fazer no clube.

Eu estou perguntando o que você vai fazer no clube com relação ao Alessandro.

O que eu já fiz pelo clube, vou procurar fazer o melhor possível. Trazer as pessoas que acho certas e consertar o que acho que está errado.

O que você acha que está errado?

Um monte de coisas que precisam acertar no dia a dia, não dá para arrumar todas. Administrar bem o clube e tentar ganhar títulos, essa é a função do presidente.

Você não citou nem uma coisa que acha que está errada. 

Estar mais presente no clube, participar das coisas, esse tipo de coisa.

O Danilo renovou o contrato recentemente. Você...

(interrompe) Você quer perguntar para um candidato ou para um diretor de futebol? Não vou te responder nada de futebol.

Um candidato a presidente do Corinthians não tem que responder sobre o futebol?

Por que não faz essas perguntas ao Roque?

Mas eu também vou entrevistar o Roque.

Você vai perguntar para ele se o Danilo vai renovar ou não?

O Danilo já renovou... Minha pergunta é se você tem planos de mantê-lo no clube após encerrar a carreira, durante o seu mandato.

O Danilo é uma baita pessoa, um baita profissional, acho que o clube precisa ajudar o máximo possível os ex-jogadores. Se ele ainda quiser, tem as portas abertas.

Como candidato a presidente, acha que esse time atual vai brigar por tudo em 2018?

Por tudo eu não sei, mas vai disputar todos os campeonatos. Mas com três campeonatos o ano inteiro, é difícil disputar os três, por mais jogadores que tenha.

Tem alguma prioridade entre Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores?

Vencer a Copa do Brasil e o Brasileiro, até porque a Libertadores podem ter nove times brasileiros e sete argentinos, é um mini Brasileiro, tem que ter mudança, não pode ter tanto time brasileiro assim disputando a Libertadores, mas a regra é essa e vamos respeitar.

Como presidente do Corinthians, pretende brigar para mudar essa regra?

Vamos tentar participar, 50% dos times brasileiros podem estar na Libertadores. O ideal é cinco no máximo.

O time atual, apesar do título, teve uma queda no segundo turno do Brasileiro, com a 12ª melhor campanha. Isso preocupa para a atual temporada?

É normal, o anormal é a primeira fase que o Corinthians fez no primeiro turno. Nenhum time vai manter o mesmo nível o ano inteiro, no campeonato você tem altos e baixos, quando está em baixa, a gordura faz você continuar na briga pelo título.

Como presidente é melhor pagar as dívidas e não ser campeão ou não pagar as dívidas e ser campeão?

Tem que achar um equilíbrio. Se ganha 400, arrecada 800, tem que estar a 50% da dívida, precisa de um equilíbrio, pois 95% das despesas do clube são com futebol, e 98% das receitas são com futebol, então você precisa achar um equilíbrio. Tem que amenizar a dívida, amenizar a receita e ganhar o máximo possível de títulos.

Com a dívida atual do Corinthians, é possível encontrar esse equilíbrio?

Lógico que é.

De que forma?

Aumentando a receita. Trabalhando radicalmente para aumentar a receita. Tem que juntar tudo. Arrumar patrocínio, arrumar as receitas, baixar as despesas é uma regra que todos precisam ter, mas quanto mais aumentar a receita, menor fica a dívida.

Tem alguma forma de renegociar a renda da Arena, que vai toda para o Fundo e não para o clube?

Isso foi aprovado pelo Conselho, todo mundo sabia que ia ser assim. É óbvio que a cada seis meses precisa sentar na mesa para negociar. E se eu vier a ser presidente, vou sentar na mesa e renegociar novamente. Não sei se vai ser assim ou assado, mas vou tentar amenizar para que seja da melhor forma possível para o clube. Mas todo mundo sabia que a renda da Arena ia para pagar a Arena, isso foi aprovado no Conselho. Tem que renegociar de um jeito ou de outro. Isso é normal.

Olhando para trás, com a Arena como está hoje, difícil de pagar e...

(interrompe)... Está em dia. Estamos pagando.

Você ainda acha que o acordo foi bom para o clube?

Foi o acordo que foi possível se fazer na época. Foi aprovado em todos os lugares. Se foi bom ou ruim, o tempo vai dizer. Em 2011, 2012, o Brasil era um país, e hoje é outro país economicamente falando. Em um país onde todos estão em crise, é difícil sentar na mesa negociar. Eu espero não aumentar prazo nenhum, até porque aumenta os juros, mas tentar negociar de uma maneira melhor. Agora, o país, quando foi feita a Arena, estava assessorado por um jurídico externo, um jurídico do clube, por um financeiro, por uma engenharia e arquitetura, foi a melhor maneira que todo mundo achou. 

Uma auditoria recente que mostraram no Conselho apontava, entre obras inacabadas e multas não pagas, além de reparos, R$ 230 milhões por receber da Odebrecht.

Eu não sei isso, estou sabendo pela imprensa. Quando eu assumir o clube, vou sentar na mesa e avaliar tudo isso, sem nenhum problema. Tem que fazer o contrato e mostrar na frente de todo mundo. Se provar que tem essa diferença, precisa ir atrás.

Outra coisa que sugeriram na auditoria foi passar os CIDs para a Odebrecht para abater da dívida. É uma alternativa?

Isso faz parte da negociação. Se ganhar a eleição, vou negociar. Tem que sentar na mesa e negociar na época que ganhar a eleição.

Hoje, descontando as CIDs que não venderam mais os juros, o custo do estádio está em R$ 1,8 bilhão. 

(interrompe) R$ 1,3 bilhão é a dívida se não vende a CIDs, se vende é R$ 800 milhões. (nota da reportagem: a auditoria citada aponta que R$ 1,338 bilhão é a dívida, que sem as CIDs alcança R$ 1,8 bilhão)

Ok. De que forma vai abater isso?

Assim que começar a vender precisa ser renegociado. Precisa sentar e negociar. Vamos renegociar.

E quanto à dívida pelo empréstimo da Caixa? O Corinthians voltou a pagar recentemente e paga hoje R$ 5,6 milhões por mês. Como pagar?

Enquanto todas as arenas tiveram 36 meses de carência, o Corinthians só teve 19. Foi um acordo com a Caixa para renegociarmos e estamos pagando de novo. Preciso sentar na mesa e ver onde as pessoas podem melhorar essa situação. É tudo questão de renegociação.

O que achou do episódio dos anistiados?

Isso é uma coisa que eu não concordo, sou contra isso, mas é a regra que existe. Pagar R$ 1,6 mil está errado e R$ 1,2 mil está errado. O problema não é o valor, mas a intenção. Se você deve R$ 4 mil, paga R$ 1,2 mil ou R$ 600, o erro é o mesmo. Isso é ruim para a imagem do Corinthians. Já estão achando que é comprar voto, que é negócio de chapinha ganhar a eleição. Esses votos não deveriam ser válidos. Todo mundo pagou, não foi a situação. Eu não paguei ninguém. Os caras são maiores de idade e fazem o que querem, era uma regra que existia no clube. Ou se paga completo ou não se paga nada, não é justo com quem estava pagando o ano inteiro. Quem pagou foi chapinha.

Em 2014, você deu uma entrevista a um jornal suíço em que prometeu voltar à presidência do Corinthians em 2018 e...

(interrompe) Em 2018 não tem eleição.

A eleição é em 2018.

Eu não prometi que ia voltar, falei que esperava não precisar voltar, e que se precisasse eu voltaria. (nota da reportagem: a declaração de Andrés ao jornal suíço foi - "Eu posso ser o presidente do Corinthians em 2018. Vou ser. Em 2018! Daqui quatro anos. Gobbi sai no fim do ano, entra outro e depois venho eu​")

Nessa mesma entrevista, você falou que, se entrasse na CBF, faria uma composição para federações e clubes trabalharem juntos, mas que não quiseram. E disse que ia ser na marra. Que os clubes vão se revoltar, serão independentes e criarão uma liga.

E volto a dizer isso. Você está vendo o movimento do Atlético do Paraná, do Flamengo. Toda briga, todo rompimento drástico, é ruim para todo mundo. Tem que sentar na mesa da federação, clubes, e então ver o que é melhor para o futebol. Já melhorou bastante nos últimos anos e tem que melhorar muito mais. A melhor coisa é sentar em uma mesa e conversar. O termo liga está desgastado, mas os clubes precisam de uma independência maior para fazerem seus campeonatos.

Nessa mesma entrevista, que foi em 2014, você disse que o Corinthians seria um dos três clubes mais ricos do mundo em cinco ou seis anos.

(interrompe) Eu falei cinco. (nota da reportagem: Andrés falou o seguinte, segundo reprodução em português do Portal Terra, que teve acesso ao áudio da entrevista: "Em cinco ou seis anos, o Corinthians estará entre os três clubes mais ricos do mundo")

Ok. Cinco anos ainda está no prazo. Essa promessa está mantida?

Não tem essa de promessa. O momento do país mudou bastante nos últimos quatro anos. Querer, eu quero ser o primeiro, quero ser o melhor em tudo, mas entre querer e fazer tem uma diferença enorme. Quando eu saí do Corinthians, era o 16º do mundo. Se pega hoje a renda de Arena e fosse ao clube, estaria em oitavo ou nono, depende muito da conjuntura do país.

Na época, você disse que tinha um Corinthians antes e depois do estádio. Ainda acha isso?

Se a prefeitura cumprisse e pagasse o que não pagou, se vendesse as CIDs, as coisas que deram errado nós vamos conversar, foi tudo aprovado no clube inteiro, nada foi feito de antemão. Tudo foi aprovado. O Corinthians teria 70% de índice técnico em casa se fosse no Pacaembu? Historicamente no Pacaembu era 60%, então só por isso já valeu a pena. O desempenho em campo faz parte. Assim que o estádio estiver pago, o maior patrimônio do Corinthians além da torcida será o estádio.

Você também disse que tinha um Corinthians antes e um depois de você. Mantém isso?

Eu não falei isso. O cara perguntou e eu falei que era opinião dele. O Corinthians existe há 107 anos, alguns tiveram mais méritos, outros menos, mas todo mundo foi importante. (nota da reportagem: ainda segundo a reprodução do Portal Terra, Andrés falou, sobre o tema: "Tem o Corinthians antes de mim e depois de mim. Tem o Corinthians antes do Ronaldo e depois dele. E depois tem o Corinthians antes do estádio e depois do estádio").

O que pode dizer ao associado que quer votar em você?

Que vou representar bem o Corinthians, fazer o melhor papel possível.

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