'Fato novo' na eleição, Ezabella adota discurso de modernização

Candidato de oposição no Corinthians, advogado encomendou estudo para mudar modelo de administração

Alex Sabino Luiz Cosenzo
São Paulo
Felipe Ezabella, 39, é candidato de oposição a presidente do Corinthians
Felipe Ezabella, 39, é candidato de oposição a presidente do Corinthians - Jorge Araujo/Folhapress

Felipe Ezabella, 39, diz que não pensava em ser candidato a presidente do Corinthians. O que gostaria no início era que algum concorrente encampasse as ideias que ele e seu grupo político acreditavam. Algumas delas surgiram como resultado de estudo encomendado à Universidade do Futebol.

"A gente viu que a aceitação entre os sócios era muito boa. Então por que não apresentar uma candidatura própria? O clube precisa ter mais transparência", defende o advogado.

Ele reconhece que a palavra transparência está na boca de todos os candidatos de oposição. Ezabella se apresenta como uma opção moderada. Daquelas que não pretende destruir tudo o que for iniciado e começar do zero, nem aceitar qualquer realização da administração de Roberto de Andrade.

Durante a campanha, se acostumou a ter de responder sobre a ligação com Andrés Sanchez e o grupo Renovação e Transparência. Ele foi diretor de Esportes Terrestres do Corinthians entre 2007 e 2009, quando Sanchez era presidente.

"Nós temos pessoas na nossa chapa que são dissidentes da situação. Mas temos muita gente da oposição também", afirma.

Além da transparência nas contas, Ezabella pretende fazer o Itaquerão render mais. Lembra que mesmo se não houvesse a necessidade de pagar o empréstimo da Caixa Econômica Federal, o estádio seria deficitário.

"A Arena foi feita para ter atividades 365 dias por ano. Tem auditório, lugar para shows, para eventos, estacionamentos... Precisa ter receitas e hoje o clube não tem. Hoje tem os jogos, que são 40 ou 45 dias por ano e o tour que começou no ano passado. Não tem mais nada."

Ao afirmar ser a novidade na eleição por ser uma cara nova na política interna corintiana, Ezabella quer também descentralizar o poder, separando a gestão do futebol e a do clube

 

Folha - Sua candidatura é de oposição?

Felipe Ezabella - Quem não está no poder, é oposição. Temos nos colocado como candidatura independente, surgida pelo anseio de pessoas do nosso grupo que não queriam votar no Andrés, nem no Citadini, que na época era oposição. A gente se denominava terceira via. Nem tudo no clube está errado, como diz a oposição, nem tudo está certo, como diz a situação. As duas outras candidaturas [Paulo Garcia e Romeu Tuma Júnior] apareceram depois.

O Citadini define a sua candidatura como um racha da situação.

Tem gente que era da situação e está conosco, mas temos muita gente que é de oposição também.

São cinco candidatos. Isso ajuda um candidato com um eleitorado cativo, como o Andrés Sanchez?

Sem segundo turno, ajuda. Mas a gente lutou tanto pela democracia desde que comecei a militar no clube, que quando você tem a oportunidade de ter suas próprias ideias e empunhar essa bandeira, não tem sentido se juntar a pessoas que não pensam da mesma forma ou não tenham os mesmos ideais. Facilita para quem está no poder. Quem ganhar, vai ganhar com a minoria. Capaz que o vencedor tenha 30% ou 35% dos votos.

É difícil até fazer um debate entre os candidatos.

É difícil até porque toda vez que se tentou o Andrés não se mostrou interessado em participar. Paulo Garcia também disse que não participa de debates.

Qual o senhor definiria como sua principal proposta?

Nossa principal proposta é ter transparência no clube. Nós precisamos ter renovação e transparência sem o grupo "Renovação e Transparência". A frase nem é minha, mas temos de ter transparência. Efetiva transparência faz o clube voltar a ter credibilidade. Todos os candidatos falam que é preciso transparência porque a atual administração não tem. O estatuto fala que tem de se publicar o balancete mensalmente. Não se publica. Publicou-se em 1º de julho e depois não se publicou mais. A transferência do Jô. A gente nem sabe se o que vazou de pagamento é o oficial. O clube não confirma nem desmente. A gente não consegue ter acesso a nada. Foi criada uma comissão dentro do conselho deliberativo para analisar as contas do estádio, no relatório diz que está incompleto porque a diretoria não forneceu vários documentos. Pensaram em entrar com uma ação contra a diretoria para ter acesso a alguns documentos. Contratos, lista de funcionários. Você não é transparente nem com seu conselheiro, imagina com seu associado, patrocinador, torcedor...

Como vai ser sua relação com a Odebrecht e com a dívida?

Não quero trabalhar com a Odebrecht. Não conheço ninguém lá, não tenho relacionamento e acho que hoje em dia a Odebrecht tira a nossa credibilidade para conseguir novos negócios. A gente deverá ter uma negociação na parte financeira do estádio muito dura com a Odebrecht. Não tenho nada contra a empresa. Ela tem novo CEO e daqui a pouco estará na lista do Exame das melhores para se trabalhar, empresa do século. Daqui a pouco ela se recompõe porque é uma gigante, mas não quero saber dela e não tenho nada a ver com ela. Nosso foco será para tirá-la do negócio. É uma negociação dura. A dívida é composta pelo BNDES, que é repassada via empréstimo ponte pela Caixa e dívida que a Odebrecht pegou via emissão de debêntures com a Caixa. Da parte da Odebrecht, a negociação são os CIDs entre R$ 350 milhões e R$ 400 milhões. A negociação tem de ser tipo: pega isso aqui e sai do negócio. Dizem (e a gente não sabe exatamente qual é a real) que ela não tem mais interesse no negócio. Saiu do Maracanã. Foco dela não é construir apartamento, não é o público. Mas o principal empecilho tem sido as garantias do acordo global, que são dela. Não quero trabalhar com a Odebrecht. Se tiver de brigar via arbitragem vamos brigar via arbitragem, mas antes tentar uma negociação independente. E a questão da BNDES/Odebrecht é alongar a dívida e ir pagando. É obrigação moral  nossa, mais do que legal, arcar com essa dívida do empréstimo do BNDES.

O modelo de negócios do estádio é bom?

O atual?

É.

A gente tem visto que ele não consegue "performar". Não sei qual a trava. Foi feito para ter atividade 365 dias por ano. Tem auditório, lugar para shows, para eventos, estacionamentos... Tudo fechado. Precisa ter receitas e hoje o clube não tem. Hoje tem os jogos, que são 40 ou 45 dias por ano, o tour que começou no ano passado e está bem legal. Não tem mais nada. Mesmo que não tivesse dívida do empréstimo, se estivesse quitado, a gente não estaria conseguindo pagar as despesas correntes. Então a gente precisa abrir os estacionamentos, fluxo de gente, comércio, supermercado, lotérica, farmácia... Tem de ter show. Não precisa concorrer com o Morumbi e o Allianz Parque, que têm shows para 100 mil pessoas. Pode concorrer com o Anhembi com show para 20 ou 30 mil pessoas no estacionamento. Sem mexer no gramado, sem ter depois de reformar o gramado. Em vez de fazer cinco ou seis show no ano, fazer 12 shows pequenos e faturar igual ou mais. O modelo de negócios é deficitário. A operação está deficitária.

Fala-se que a Odebrecht teria de fazer mais obras e a Odebrecht diz que não, o estádio está pronto.

O relatório da comissão do conselho deliberativo tinha relatórios financeiros, de dívida e contrato e uma perícia de engenharia unilateral, a Odebrecht não reconhece e não vai reconhecer nunca, mas dá uma margem para a gente ver o que se tem hoje lá. Há identificado de R$ 200 milhões a R$ 250 milhões de obras que deveriam ter sido entregues. É nítido que na área VIP tem tapumes. Os camarotes não têm cozinha industrial. Há várias questões que precisam ser feitas e outras que precisam ser refeitas. A Odebrecht chegou a falar que o próprio clube que pediu para fazer diferente. Por isso tem de sentar e negociar. É melhor um péssimo acordo do que uma boa briga e tirar logo a empresa do negócio e caminhar com as próprias pernas.

E os naming rights?

Foi utilizado politicamente. Falaram: "estádio vai custar R$ 820 milhões". Depois teve aditivo, sendo que R$ 420 milhões eram os CIDs e R$ 400 milhões seriam naming  rights. Vinte parcelas de R$ 20 milhões. Mas aí era conta que nem português da padaria faria porque tem juros, um monte de coisas envolvidas. No final das contas, a gente fez estudos. Não existe nenhum estádio da América do Sul, nem na Europa, que tem naming  rights de R$ 20 milhões por ano por 20 anos de contrato. Naming  rights é uma propriedade nova no Brasil, pouquíssima utilizada. É uma ou outra casa de shows, houve experiência frustrada no Atlético-PR, o Palmeiras tem conseguido alguma coisa com a Allianz, mas patinando... É uma propriedade nova. A Juventus de Turim vendeu os naming  rights do estádio novo dela na véspera da final da Liga dos Campeões da Europa. Cinco anos de contrato, 3 milhões de euros por ano (cerca de R$ 12 milhões). Nós estamos falando aqui de 20 anos de R$ 20 milhões por ano. Isso há quatro anos. Agora atualizando daria quanto? Foi supervalorizada. Talvez no Brasil de mentira tivesse uma JBS, uma Caixa, uma Petrobras que pagasse R$ 20 milhões por 20 anos. Pode ser que venha uma empresa maluca chinesa ou árabe que jogue esse dinheiro lá. Mas é um valor que está fora de mercado. Prazo e valor. Se mensurar por agências, vê que não tem como. Primeiro porque nenhuma empresa quer amarrar uma marca por 20 anos com um clube. Mesmo Palmeiras e Flamengo, que hoje são queridinhos, se daqui a dois anos entra o presidente errado, a reputação vai para baixo. Naming  rights é possível ser vendido, é importante pelo modelo de negócios, mas não esperamos R$ 20 milhões por ano, não.

O que é possível saber sobre a situação financeira do Corinthians hoje?

É uma vergonha o último balancete ser de junho. As informações que a gente tem são de junho. Teve de fazer essa prorrogação do contrato com a Nike, o que é outra vergonha, para pegar luvas de R$ 25 milhões para poder fechar as contas em atraso. Não dá para saber muita coisa. Não deve ter aumentado as contas muito porque de junho para cá o time é o mesmo, na verdade até saiu, já chegou mais, teve pagamento. Talvez esteja até um pouco melhor. A gente sabe que existe uma dificuldade muito grande no dia a dia no fluxo de pagamentos. Está programado o pagamento de salário do mês, mas aí aparece uma penhora e não há contingenciamento nenhum. Sabe que há um processo que vai estourar e não consegue resolver. Sabemos que a situação é delicada, mas não sabemos o quanto é, não.

Não te preocupa?

Muito. É o que mais preocupa.

Você assume no dia 3, depois da eleição. Não tem prazo de lua de mel.

E já tem de rodar a folha de pagamento no dia 5. Não acredito que as pessoas sejam tão irresponsáveis que não tenham deixado nada programado. Até porque imagino que estejam pensando em ganhar a eleição. Não vão querer ganhar e chegar na segunda-feira não ter dinheiro para pagar a conta de luz. Tem uma questão que me deixa um pouco tranquilo. O Profut proíbe que o gestor avance mais de 15% das receitas futuras fora do mandato. Caso tenha adiantamento de cota de TV, Nike, essas coisas. Então, o Roberto não pegou mais de 15%. Se pegou, vamos denunciar. Com certeza, ele não faria isso. Não tem como um administrador chegar lá e não pensar que vai precisar de dinheiro em caixa e eventualmente fazer algum tipo de antecipação de receita. Não preciso antecipar nada além do mandato, mas posso pedir para a Globo me adiantar algo de 2020, não de 2021, quando não vou estar mais no clube, para apagar algum incêndio. Acho que esse é um grande desafio que a Renovação e Transparência não conseguiu fazer. Porque quando ela entrou, em 2007 e eu participava, não havia dinheiro nenhum. Não só não tinha como havia o processo na Fifa do Nilmar para estourar. O pepino era até maior. Quer dizer, a gente acha que era maior. A forma de financiar na época foram antecipações e o maldito fatiamento de jogadores. Ligava para A, B ou C e falava que estava precisando de R$ 3 milhões para pagar a folha e dava 20% de um jogador. O clube não se organizou para não precisar mais disso. Quando o Roberto chegou há havia mais R$ 100 milhões antecipados da gestão anterior. Foi aquela crise de 2015, com dívidas, saídas. Teve de sair correndo atrás de dinheiro para solucionar o curto prazo. Tem de ter credibilidade para tentar zerar esses protestos. Se for devido, pagar. Se não for, depositar a garantia e brigar na Justiça. Mas zerar o nome.

Houve muita reclamação que foi aliado do Andrés e agora está concorrendo contra ele?

Não é reclamação. Tem questionamento. O tempo inteiro. Os próprios adversários exploram isso. Eu fui, com muito orgulho. Não tenho vergonha disso. Foi a minha porta de entrada no clube, fiquei até o ponto que eu achava que tinha de ficar e quando me desentendi e não concordava mais com o que era feito, tive a hombridade de devolver a minha carteirinha e sair. As pessoas falam, falam, falam. Citadini veio falar isso no debate. Eu fui mesmo, mas ele ficou o tempo inteiro com o Dualibi. Faz parte. Ele achava que era melhor e o Dualib está devendo para o clube até hoje e ele o defendendo, a neta [Carla Dualib] que tinha contrato de marketing. Faz parte. Os quadros dos clubes são poucas pessoas. Difícil haver renovação do quadro diretivo. O vice do Tuma é o Ilmar [Schiavenato]. Ficou mais tempo do que eu na diretoria da Renovação e Transparência. Um dos vices do Citadini é o Augusto [Melo], que era diretor da base na gestão do Roberto, quando deu escândalo do americano [o empresário americano Helmut Niki Apaza denunciou desvio de dinheiro na base do Corinthians] . Todo mundo teve algum cargo até para poder participar. Se eu não tivesse participado diriam que eu nunca fui nada no clube. Mas tenho bom relacionamento com todos eles. Quando a gente se encontra no clube, conversa, almoça...

O time é bom o suficiente para a Libertadores?

O time é muito bom. Segredo vai ser essas peças de reposição, como vai encaixar o Henrique na zaga, como o Capixaba vai dar conta do recado. Nos primeiros jogos foi bem e a tendência é evoluir. Ainda está precisando de um atacante camisa nove para o lugar do Jô. O Jô, em si, é insubstituível. Mas ainda falta. Tenho falado para todo mundo que não gostei desse sistema da Libertadores. Desprestigia o nosso campeonato. O Grêmio abriu mão de vários jogos no ano passado. A janela de agosto te arregaça e ainda tem a Copa do Mundo. A Libertadores tinha de ser o primeiro semestre, um campeonato de tiro curto. Esse negócio de ser ano inteiro perde um pouco o sentido. Contratação de peso depende das finanças. Eu vou ganhar no sábado a eleição às 18h. Domingo, tenho de ir a Novo Horizonte. Vou chegar lá e já vai estar o time pronto, não contratei ninguém. Não conheço ninguém e se perder a culpa é minha. Tem de chegar no vestiário e dizer que estarei junto com eles por três anos, na alegria e na tristeza. Poderia estar no meu sofá e ar condicionado e recebê-los na segunda-feira. Faço questão de pegar 400 km para estar com eles. Na segunda-feira tenho de ir de Novo Horizonte a Rio Preto de carro. De lá para o Rio de Janeiro, onde tem o arbitral do Brasileiro com os presidentes dos 20 clubes.

Já teve algum contato com o Carille?

Não, nunca falei com o Carille. Chegou em um momento que eu ia procurá-lo, mas achei melhor não. Já estive com o Alessandro, o conheço há muito tempo. Pedi para o Roberto e tive uma reunião com ele depois do Brasileiro. Bate-papo sobre necessidades, planejamento...

Quais são as ideias para o futebol?

A principal é mexer no organograma do futebol. A gente tem diretor de base, um diretor de futebol, abaixo a superintendência. Com o Roberto chegou a ter um diretor de futebol e um diretor de base que nem se conheciam e eram de grupos políticos distintos.

Mas é uma questão de trabalho ou de filosofia do clube?

Os dois. Passa por ser estatuário e ter organograma para ter um controle, porque você tem a base porque quer chegar ao profissional. Tem um pouco de ser a cultura de jogo e passa pela criação de um time B, que seria fase preparatória para esses moleques que saem da Copa São Paulo, têm contrato e não vai ser aproveitado no principal ou se for vai lá completar treino. Ele não é aproveitado, é emprestado e joga contra você mesmo. Projeto de médio prazo é ter um time na Copa Paulista, depois classificar para a Série C, depois Série B como tem Barcelona, Benfica, Sporting, Real Madrid e aproveitar essa fase de transição. Tem estilo de jogo, formação de comissão técnica. O Osmar Loss poderia dirigir o time B. Se o time B estiver bem, pode jogar na Arena. Todo ano tem um time de porte na Série B. Tem também um projeto legal que é a Fundação Corinthians, que é um projeto social próprio, com CNPJ próprio para ações sociais contínuas.

Nesse momento de crise, em que quase nenhum clube tem contrato de patrocínio como teve antes, como faz para conseguir patrocínio?

Patrocínio hoje em dia passa muito pela credibilidade da sua máquina e no que esta pode ajudar essa marca que vai te patrocinar. Antigamente o patrocínio era exposição. Vai patrocinar o Corinthians porque todo domingo à tarde ele está na Globo. Isso não é assim mais. É uma parte importante, mas não é tudo. Que tipo de instituição é o Corinthians? Que tipo de notícia que sai? É protesto, Odebrecht, Lava Jato, tudo impacta. Por isso que a gente não quer mais a Odebrecht. É uma forma de tirar a imagem dela. Tendo governância maior, tendo compliance, transparência, tentar uma entidade externa certificadora, talvez um ISO. A CVM [Comissão de Valores Mobiliários] dá um tipo de certificação mesmo se você não estiver listado na bolsa. O instituto "Sou do Esporte" tem uma lista de empresas que só vão patrocinar clubes que adotem boas práticas de mercado. O clube atrai porque está sempre na mídia, é vencedor. Mas faz o estudo e vê que está em uma fase muito turbulenta e não quer ser envolvido em escândalos.

Está preparado para uma situação em que você tem essa preocupação de transparência, sanear o clube, mas a percepção que muitas pessoas vão ter de você depende se o centroavante perder ou não o pênalti no domingo à tarde?

Estou preparado porque eu sei que é isso. No final das contas, as pessoas não querem saber disso que eu estou falando. Querem saber que o time foi campeão e o time foi campeão no ano passado, então... Dificuldade na eleição é essa. Para que mudar? É o atual campeão brasileiro. Mas eu que estudo muito isso e trabalho com isso sei que chega uma hora que essa corda arrebenta. Essa dívida vai te sufocar. Você tem uma receita elevada para pagar essa dívida elevada. Tem de ter tudo isso organizado e um time competitivo. Se não tiver um time forte. Se não tiver um time forte, que dê emoção, você não gera receita. venda de camisas, de produtos, interesse da mídia e patrocinador. É um projeto sistêmico, de um departamento influenciando o outro. Em compensação o cara pode fazer tudo errado, quebrar o clube, ser campeão da Libertadores e ter uma estátua dele. Tem aquele livro do [Ferran] Soriano, do Barcelona, que a bola não entra por acaso. Você pode fazer tudo errado neste ano e ganhar. Mas se você fizer tudo certo, pode não ganhar neste ano, mas uma hora vai ganhar mais vezes. Pega os exemplos do Palmeiras e do Flamengo. Eu não quero riqueza, quero ganhar, lógico. Mas eu sei que sem receita e fluxo de caixa, eu sou engolido pela dívida. Não preciso esbanjar e fazer contratação de 20 milhões de euros todo ano. Mas preciso ter o mínimo de verba para não ser atropelado.

O que sua mulher disse quando você avisou que seria candidato a presidente do Corinthians?

Ela disse que acharia estranho se eu não fosse o candidato. Foi natural. Ela acompanha todo o movimento. Quando chegou o momento de que não apoiaríamos nenhum candidato e se chegou a um consenso que seria eu, pedi 15 dias para resolver a questão do escritório, família... Minha mulher disse: se não fosse você eu ficaria preocupada.

Qual vai ser a relação com organizadas?

Tem de ser uma relação institucional, sem privilégios. Não sei se alguma já teve privilégio de receber dinheiro ou outra coisa. Não preciso recebê-los na frente de ninguém. Digo que vou receber o conselheiro que pediu primeiro, depois recebo a organizada. Não tem problema nenhum. Não tem favor a mais e é transparente. As pessoas podem dizer: "ah, mas você vai receber a organizada para falar do time." Qual o problema? Conselheiro bate todo dia na porta para reclamar, associado também, o porteiro todo dia reclama. O cara da organizada não pode reclamar? Se for com respeito, civilidade... Presidente tem de representar o clube, estar no conselho, fazer a função de presidente. Não de resolver da lâmpada, do cafezinho... Aí é coisa do administrador, do funcionário, de um diretor.

Mas a organizada ir no CT e cobrar os jogadores, acha que é algo positivo?

Não vejo como positivo ou negativo. Pouco importa no sentido que todo sábado tem torcedor no CT conversando com jogadores. Filho de alguém, amigo... No dia que a organizada quer conversar é a pauta. Antigamente não era conversar, era botar o dedo na cara, ensinar como tem de driblar.

Mas se você for torcedor e leva sua família para conhecer os jogadores é uma coisa, torcida organizada batendo bumbo é outra.

Não, isso nunca. Teve um episódio, na véspera do jogo contra o Palmeiras, que o torcedor foi lá para bater papo. Isso não tem problema nenhum. Mas aquela vez que foi com bumbo, invadiu, colocou faixa, é no amor ou no terror, aí não. É baderna.

Sua candidatura, na pior das hipóteses, tem um efeito de longo prazo?

É a novidade nessa eleição, pelo fato de surgir uma pessoa nova que não é conselheiro vitalício, com uma bandeira nova, um projeto que ninguém tem igual. Ela é para o dia 3 de fevereiro. Mas o que a gente tem conversado é que depois disso, continuar trabalhando. Temos nossa chapa de conselho e ir acompanhando as coisas. Se a gente não ganhar, ter uma linha independente, nem ser oposição nem ser situação, apoiar as boas práticas. Na próxima eleição, sentar e começar tudo de novo. É um movimento que a gente acredita que veio para ficar. No Corinthians é tudo muito personalizado. É Matheus, Wadih, Dualib, Andrés... Por mais que o Andrés não tivesse sido presidente nas duas últimas, ele era o grande padrinho. A gente não quer transformar nosso movimento em algo de uma pessoa só.

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