Dívida do Corinthians com fundo que gere Itaquerão cresce 382%

Débito que era de R$ 11 milhões em dezembro de 2016 foi para R$ 53 milhões

Torcida do Corinthians na primeira partida da final do Campeonato Paulista de 2018
Torcida do Corinthians na primeira partida da final do Campeonato Paulista de 2018 - Zanone Fraissat - 31.mar.2018/Folhapress
Alex Sabino Diego Garcia
São Paulo

Nos últimos 15 meses, o Corinthians aumentou em cerca de 382% sua dívida com a Arena Fundo de Investimento Imobiliário, administrado pela BRL Trust Distribuidora de Títulos e Valores e que é responsável por receber as rendas de bilheteria para pagar pela construção do estádio.

O débito, que até fevereiro de 2017 era de cerca de R$ 11 milhões, já está em aproximadamente R$ 53 milhões. O aumento da dívida é resultado de valores não recebidos pelo fundo por parte do Corinthians.

Por contrato, o dinheiro arrecadado com o estádio deveria ser colocado no fundo para pagar pela construção da arena, inaugurada em 2014 para a Copa do Mundo. As quantias vêm sendo usadas para outros fins.

“Não é tão simples. A gente passava [para o fundo] quando tinha os valores compatíveis com o que tínhamos de repassar. É necessário fazer a manutenção da arena, que é cara. Temos de pagar as parcelas do empréstimo da Caixa. O restante vai para o fundo”, afirma Emerson Piovezan, que era o diretor de finanças do Corinthians até o final do ano passado.

Os valores estão em informes mensais de rendimentos entregues à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda que regulamenta e fiscaliza o mercado de valores, e aos quais a Folha teve acesso.

Demonstrativos financeiros são apresentados mensalmente à CVM, ao contrário do balanço, que é anual. Este deverá ser entregue nos próximos dez dias. 

As dívidas começaram a crescer a partir de janeiro do ano passado e estão identificadas nos documentos como “outros valores a receber”. Não há uma descrição nos documentos sobre qual a origem deste crédito que o fundo tem. 

administração

O fundo funciona como administrador das rendas de bilheteria do Corinthians no Itaquerão. Por contrato, o clube não fica com nenhuma parcela do valor arrecadado.

“Pela configuração do fundo imobiliário, que se encaixa neste caso, ele [fundo] não deveria ter outros valores a receber [do Corinthians]”, diz o consultor de investimentos Marcelo d’Agosto à Folha.

Os informes, porém, apresentam valores a serem recebidos. Em fevereiro de 2018, eram R$ 35.640 referentes a aluguéis e R$ 52.453.006,32, como “outros valores”.

Pela configuração do fundo imobiliário, os valores a receber são os repasses das rendas, já que este foi criado para cuidar do Itaquerão

Rodrigo Cavalcante, nome apresentado na documentação como responsável pela BRL Trust disse ser política da empresa não comentar qualquer informação, mesmo as que são públicas.

O clube afirma que não vai se pronunciar sobre a dívida, pois é assunto para a BRL Trust, que cuida do fundo.

A assessoria de imprensa da Odebrecht disse que a construtora não tem nenhuma informação a dar.

O contrato prevê que em caso de não pagamento por parte do clube, a construtora pode assumir o controle do estádio. É um cenário apenas teórico, já que nenhuma das partes envolvida na construção e administração da arena considera essa hipótese. 

Custo

O custo original do Itaquerão, quando o estádio foi inaugurado, em 2011, era de R$ 820 milhões (R$ 1,25 bilhão em valores corrigidos). Em setembro de 2017, em reunião do conselho deliberativo do Corinthians, a estimativa apresentada foi de que o custo da construção estava em R$ 1,7 bilhão. 

O valor foge da engenharia financeira original que pagaria a obra feita pela Odebrecht

O planejamento inicial era que R$ 400 milhões viriam de financiamento aprovado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento e Social) e repassado pela Caixa Econômica Federal. 

Esse empréstimo seria quitado com a venda de naming rights. Uma empresa compraria por R$ 400 milhões o direito de dar nome ao estádio.

Outros R$ 420 milhões seriam obtidos pelos CIDs  (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento)  emitidos pela Prefeitura de São Paulo. Cada papel, no valor de cerca de R$ 90 mil, é comprado por empresas com desconto e usado para pagar impostos municipais como IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e ISS (Imposto sobre Serviços). 

O plano financeiro não deu certo já no início, quando o clube não conseguiu fechar a venda dos naming rights. Apesar das informações de que o acerto estaria próximo com diferentes empresas, o contrato não foi concretizado até o momento. 

Do empréstimo do BNDES e repassado pela Caixa, o Corinthians atualmente paga parcelas de R$ 5,6 milhões depois de ficar inadimplente por mais de um ano.

O custo final do estádio e a relação com a Odebrecht geraram descontentamento entre conselheiros, que pediram investigação. Antes da eleição para presidente, em fevereiro, Andrés Sanchez prometeu resolver a dívida rapidamente.

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