Nem fotos, muito menos vídeos, e agora um crachá de identificação pendurado no pescoço.
Há nove dias, a rotina de atletas russos e de turistas que se hospedam em dois hotéis que fazem parte do complexo esportivo que abriga os treinos da seleção brasileira em Sochi (pronuncia-se Sôtchi) foi alterada. Eles têm restrições para fazer fotos e filmagens, além de horário para deixar os quartos e uso obrigatório de crachá de identificação para andar pelas instalações.
Pelo menos são essas as orientações que receberam cinco atletas que residem no local e conversaram com a Folha em frente ao portão de entrada do prédio, que fica ao lado do hotel da seleção e a menos de 30 metros do acesso aos dois campos.
"Normalmente aqui é um lugar silencioso e não há tantos seguranças como agora. Com a presença do Brasil, a segurança foi reforçada. Precisamos usar credenciais, e as regras estão rígidas. Os seguranças e os policiais ficam observando as pessoas", disse Ury Selihov, atleta russo de bobsled (espécie de trenó), que usa as estruturas para realizar parte do seu treinamento.
Olga Potylisyna, 28, disse que é proibido tirar fotos e vídeos nas varandas durante a atividade da seleção. Ela disputou os Jogos Olímpicos de Inverno na Coreia do Sul em fevereiro na prova de skeleton --outra categoria de trenó.
"É possível ver os treinos fechados das janelas, mas da varanda do quarto a segurança não permite. Temos uma visão boa dos dois campos de níveis superiores do hotel", disse ela, que acabara de treinar com Renata Khuzina, 24, também do skeleton.
O hotel, que já foi destinado só a atletas e familiares, também recebe turistas, que aproveitam as instalações para realizar treinamentos. O alemão Heung Franz Helmut, que está em Sochi de férias e assistirá a alguns jogos da Copa, confirmou que recebeu a orientação de não fotografar as atividades fechadas da seleção.
"Fui informado de que não era permitido ficar na varanda quando o treino é secreto, como aconteceu na sexta-feira (15). Os seguranças também avisaram que é proibido o uso de máquinas e filmadoras nas janelas e nas varandas", disse.
A comissão técnica escolheu Sochi por causa da privacidade. O centro de treinamento é separado do luxuoso hotel da seleção por apenas uma rua tranquila.
A preocupação com espiões é tão grande que na quarta-feira (13) três funcionários contratados pela Fifa ficaram em cima de um prédio vizinho ao campo de treinamento da seleção observando a movimentação.
De binóculos, eles procuravam drones, que poderiam ser usados por adversários para estudar o ensaio do time comandado por Tite.
O grupo tinha autorização para "abater" os drones. Eles bloqueariam a frequência do aparelho.
Um segurança, que não quis se identificar e fica na guarita em frente ao portão do prédio, afirmou que foi recomendado às pessoas que estão hospedadas no local que fiquem dentro dos quartos no momento das atividades fechadas.
Apesar das restrições, as pessoas ouvidas pela reportagem não reclamaram da situação. "Eu acho que o treinamento deveria ser privado porque todos os times devem guardar os seus segredos importantes", disse Selihov.
"No dia em que o treino foi aberto, não vi nada de interessante. Era como um show em que eles estavam mais correndo. Eu esperava ver mais", afirmou Dmitry Pastuh, jogador de futebol, referindo-se à atividade do dia 12, que teve treino físico e comemorações do aniversário de Philippe Coutinho e Fagner --receberam ovadas dos companheiros.
Até agora, a única atividade que foi totalmente fechada no local para a imprensa e torcedores ocorreu na sexta. O treino foi o último em Sochi antes da viagem para Rostov, onde o Brasil empatou com a Suíça por 1 a 1, no domingo (17).
A situação se repetirá novamente nesta quarta-feira (20), quando Tite deverá ensaiar a equipe que vai enfrentar a Costa Rica na sexta-feira (22), às 9h, em São Petersburgo.
Na semana passada, a seleção realizou um treino aberto para os torcedores e a imprensa no dia 12 e duas atividades abertas por 20 minutos para os jornalistas.
BASE OLÍMPICA
Administrado pelo Ministério do Esporte desde 2009, o com plexo esportivo IUG Sport serviu de base para a delegação russa nos Jogos Olímpícos de inverno de 2014, em Sochi.
O complexo tem dois hotéis que acomodam 192 pessoas e tem a finalidade de abrigar atletas e treinadores russos. A reportagem, porém, encontrou o turista alemão Helmut, que está no local em férias.
É possível encontrar ainda vagas no hotel para se hospedar por cerca de R$ 300.
Há dois campos de futebol, o principal com capacidade para 10 mil pessoas.
Colaborou Fábio Aleixo, de Moscou
JOGOS DO BRASIL
22/06 – Sexta-feira, às 9h
Copa do Mundo
Brasil x Costa Rica – São Petersburgo, Rússia
Na TV: Globo, SporTV e Fox Sports
27/06 – Quarta-feira, às 15h
Copa do Mundo
Sérvia x Brasil – Moscou, Rússia
Na TV: Globo, SporTV e Fox Sports
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