Descrição de chapéu Copa do Mundo

Com Salah, Egito agita atribulada e muçulmana república da Tchetchênia

Região russa foi palco de duas guerras devastadoras durante década de 1990

Presidente da Tchetchênia, Ramzan Kadirov (esq.), e jogador da seleção egípcia e do Liverpool, Mohamed Salah (dir.), posam durante treino da equipe do Egito no estádio Akhmat, em Grozni
Presidente da Tchetchênia, Ramzan Kadirov (esq.), e jogador da seleção egípcia e do Liverpool, Mohamed Salah (dir.), posam durante treino da equipe do Egito no estádio Akhmat, em Grozni - Associated Press
 
Grozni

​O relógio marcava 55 minutos de treino, e os gritos de “Salah” e “Mo Salah, rei do Egito” já escasseavam quando uma guarda pretoriana de homens barbudos em ternos escuros surgiu no portão lateral do estádio Akhmat, em Grozni.

Eles abriram passagem para o novo “rei da Tchetchênia”, Mohamed Salah, e para o regente de fato da atribulada república no sul da Rússia, Ramzan Kadirov.

O maior jogador da história egípcia e único superstar muçulmano do futebol atual não treinou, contudo, no primeiro dia na base da seleção de seu país para a Copa.

Apesar de o zagueiro Ali Gabr ter dito à Folha no aeroporto de Grozni que ele “está bem e vai jogar” a estreia do Egito contra o Uruguai na sexta (15), o meia-atacante foi poupado.

O “rei do Egito”, como é chamado no grito da torcida de seu Liverpool (ING), está fora de combate desde que levou uma chave de braço e lesionou o ombro, na final da Liga dos Campeões em que o Real Madrid (ESP) derrotou os ingleses por 3 a 1.

Kadirov, por sua vez, ficou mais tempo em campo do que Salah. O autocrata de 41 anos, que comanda a Tchetchênia desde que tinha 31, é um notório fã de futebol.

Sua tacada de trazer o Egito de Salah para ficar em Grozni, supostamente com apoio de xeques do Golfo Pérsico, só é ofuscada pelo lado obscuro do seu regime.

Para o diretor jurídico da ONG Memorial, Kiril Koroteev, o Egito está copatrocinando violadores de direitos humanos ao aceitar a hospedagem “padrão faraó” ofertada, para ficar no apelido do time árabe.

A Memorial foi responsável por denúncias de repressão e prisão de homossexuais na Tchetchênia, e foi perseguida por isso.

“É uma vergonha”, resume o ativista. O governo e a Federação Egípcia de Futebol minimizam as acusações.

1996-99 – O governo autônomo buscou laços econômicos com a Rússia, e aumentou a insurgência islâmica no Cáucaso

1999 – Após uma série de atentados na Rússia, o então premiê Vladimir Putin lançou uma segunda guerra na Tchetchênia, subjugando o governo. Em 2000, Grozni foi retomada

2000-2007 – Período de grande turbulência e violência por parte de grupos rivais. Em 2004, o presidente Akhmat Kadirov foi assassinado, e seu filho Ramzan comanda o país desde então, como um aliado vital do Kremlin

2010-2018 – Com mão de ferro, Kadirov se estabeleceu na região e virou importante contato de Putin com países do Golfo, que investiram pesadamente na reconstrução do país

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.