Com todo o respeito e admiração que tenho pela Argentina, sua cultura e seu futebol, um dos meus jogos inesquecíveis foi a goleada que ela sofreu para a Holanda por 4 a 0, há longos 44 anos.
Embora nem de longe se possa comparar as duas partidas, o encontro veio à memória com o empate diante da Islândia neste sábado e o pênalti perdido por Messi.
Era a primeira das minhas dez Copas do Mundo. Eu não acreditava no que se passava diante dos meus olhos naquele início chuvoso do verão alemão de 1974.
Se havia um argentino com a bola, vinham dois, três, quatro holandeses para roubá-la.
Como este então jovem repórter, eles pareciam não compreender o que acontecia no gramado de Gelsenkirchen, enquanto os gols se sucediam. Em certo momento, desconcertado, o grande zagueiro Roberto Perfumo caiu sentado. “Parecia que eles jogavam com 18”, diria depois.
Quando tudo terminou, com placar de certa forma modesto pelo que haviam feito Cruyff, Neeskens, Krol, Resenbrink e os outros cavalinhos encantados do Carrossel que girava durante 90 minutos, outra cena que nunca sairia das minhas recordações.
Eu estava na tribuna de imprensa ao lado de um grupo de jornalistas argentinos simplesmente boquiabertos. Depois do apito final, eles permaneceram estáticos por alguns minutos, como se tentassem decifrar aquele pesadelo.
Até que um deles, o lendário Julio Cesar Pasquato, que assinava belas crônicas esportivas com o pseudônimo de Juvenal na revista “El Grafico”, se levantou, segurando sua máquina de escrever portátil, e disse para os colegas: “Se acabó. Vamos, pibes. Vimos los campeones”. Eles o seguiram em silêncio.
Eu testemunharia, ao vivo ou pela TV, outras tristezas em Copas passadas do maravilhoso futebol argentino, que, como no tango “Cuesta abajo”, de Gardel, “en cada vuelta dejaba pedazos de corazon”: a derrota para Camarões na estreia em 1990, a eliminação em 1994 depois que o time se desequilibrou com o célebre caso do doping de Maradona ou as vitórias da Alemanha em duas finais, a última delas há quatro anos, no Maracanã.
Perto de tudo isso, empatar com a brava e surpreendente Islândia não chega a ser um drama que mereça trilha sonora de letra de tango. Basta uma frase: ellos van a volver.
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