Jorge Sampaoli é o maior bielsista de todos. Fã confesso do estilo pessoal e de futebol de Marcelo Bielsa, o técnico assumiu a seleção argentina em junho do ano passado para superar o seu mestre. Se ainda tem chance razoável de obter isso, deve agradecer à Nigéria.
Os africanos recolocaram a equipe de Lionel Messi na briga pela classificação na Copa do Mundo com a vitória por 2 a 0 sobre a Islândia nesta sexta (22). A Argentina tem a oportunidade de evitar um vexame histórico: ser eliminado na fase de grupos do torneio. Algo que não acontece desde 2002.
Os resultados não importam. Porque o próprio Bielsa reconhece ser um treinador de poucos títulos. Seu discípulo é mais vencedor. Levou a Universidad de Chile ao título da Copa Sul-Americana de 2011, no que é considerado um dos melhores times do continente na década. Entrou na seleção chilena e a chegou à conquista da Copa América de 2015 sobre a própria Argentina.
Bielsa havia dirigido também o Chile e caiu nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2010 por 3 a 0 diante do Brasil. No torneio seguinte, em 2014, o mesmo aconteceu, mas com Sampaoli o time fez uma partida muito mais dura contra a então seleção de Luiz Felipe Scolari. Só perdeu nos pênaltis e depois de chutar uma bola na trave no último minuto da prorrogação.
Mas que ninguém diga a Sampaoli que ele superou Bielsa.
Não é apenas a El Loco que o atual treinador do selecionado argentino é ligado. Ele esteve no lançamento da escola de treinadores de Cesar Luis Menotti, campeão mundial de 1978, de quem volta e meia escuta conselhos. No caldeirão das rivalidades e vaidades pessoais do futebol do país, Sampaoli pende para o lado do “menotismo”.
Assim como Bielsa já foi um dia, embora tenha conseguido escapar dessa pecha. É o oposto do “bilardismo”, linha pragmática de Carlos Bilardo, vencedor da Copa de 1986 e vice em 1990.
Bilardo foi um dos maiores críticos da escolha de Sampaoli para dirigir a seleção na Copa do Mundo da Rússia.
Apesar da eliminação na fase de grupos, Marcelo Bielsa continuou no comando da Argentina e só saiu em 2004. Caso Sampaoli o iguale, há a promessa de continuidade do trabalho.
“Não importa que a equipe seja eliminada no início da Copa do Mundo. Jorge vai ficar. O ciclo dele vai até o Mundial de 2022”, assegurou, antes mesmo da viagem à Rússia, o presidente da AFA (Associação de Futebol Argentino) Claudio Tapia.
Não deixa de ser irônico que uma das cobranças feitas a Sampaoli até agora é que ele abriu mão das próprias convicções. Falta-lhe acreditar no seu estilo de jogo e no esquema que crê ser o mais indicado para a seleção. Estaria ausente nele o espírito de loucura do seu mestre Bielsa.
Por causa da Nigéria, a Argentina e Sampaoli respiram aliviados e podem continuar vivos no Mundial. O que significaria ao treinador superar o seu ídolo mais uma vez.
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