Banido, Del Nero articula para colocar aliado na Federação Paulista

Entidade terá pleito para presidente em setembro de 2018

Luiz Cosenzo
São Paulo

Banido para sempre do futebol pela Fifa, Marco Polo Del Nero, 77, trabalha nos bastidores para eleger um candidato para assumir a presidência da FPF (Federação Paulista de Futebol), entidade que comandou entre 2003 e 2015, quando assumiu a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Segundo dirigentes ouvidos pela Folha, o ex-cartola trabalhou na formação da chapa de apoio ao nome de Marquinhos Chedid, 60, presidente do Bragantino. A candidatura seria de oposição ao atual presidente Reinaldo Carneiro Bastos, antigo aliado e agora desafeto de Del Nero.

Há 20 anos no Bragantino, Chedid tem ligado para presidentes dos clubes do interior do Estado solicitando apoio. Dirigentes afirmam que ele diz ter o apoio de Del Nero e, inclusive, passa o contato telefônico do ex-presidente da CBF para que os times tenham certeza da aliança.

Ex-dirigentes que trabalharam nos clubes quando Del Nero foi presidente da Federação Paulista também são acionados para conversar com os atuais mandatários das agremiações com a intenção de reforçarem ajuda na candidatura de Chedid.

O pleito deverá ser realizado em setembro. A data ainda não foi definida. 

Caso se confirme a candidatura de Chedid, será a primeira eleição com dois candidatos desde 1987, quando Eduardo José Farah superou seu concorrente, Carlos Alberto de Oliveira. Desde então, todos os pleitos da entidade tiveram apenas uma chapa. 

Marquinhos Chedid negou que tenha o apoio do ex-presidente da CBF e afirmou que ainda não é candidato.

“Estamos fazendo um movimento para recuperar o futebol do interior de São Paulo, que está acabando. Os times de São Paulo estão perdendo espaço no futebol nacional. Temos uma federação rica e clubes cada vez mais pobres. Não está definido se serei o candidato. O candidato à presidência pode ser qualquer um do grupo”, disse Chedid.

“Não estou com o Del Nero. Inclusive, o Reinaldo [Carneiro Bastos] já me perguntou isso e já passei para ele que estamos fazendo este movimento. Temos uma bandeira e quem quiser colaborar aceitamos”, completou o dirigente.

Del Nero afirmou que “não tem nada a falar, nem comentar sobre isso [eleição na Federação Paulista de Futebol]”.

A FPF se manifestou através de uma nota.

“Causa perplexidade que uma pessoa banida do futebol pela Fifa e acusada pelo FBI ainda atue, mesmo que nos bastidores, em processos eleitorais do esporte. Os clubes, treinadores, atletas e profissionais do futebol merecem mais respeito”, afirma.

Para concorrer, uma chapa precisa ter o apoio de cinco clubes da Série A1 do Paulista, três da Série A2, dois da Série A3, um da quarta divisão e um de uma Liga Amadora.

Marco Chedid é filho de Nabi Abi Chedid, ex-presidente do Bragantino e da Federação Paulista de Futebol
Marco Chedid é filho de Nabi Abi Chedid, ex-presidente do Bragantino e da Federação Paulista de Futebol - Luis Moura/Folhapress

Um dos clubes que devem se reunir com Chedid na próxima semana é o Oeste, integrante da Série B do Brasileiro e que disputará a elite de São Paulo em 2019.

Aparecido Roberto, o Cidão, proprietário do clube, que está sediado agora em Barueri desde 2017 —antes estava em  Itápolis—, confirmou que foi procurado por Chedid, mas diz desconhecer a participação de Del Nero.

O dirigente do Bragantino prometeu aumento de 100% nas cotas para os times da Série A2 e A3 do futebol paulista, que variou entre R$ 1 milhão e R$ 400 mil em 2018. A distribuição dos valores é definida também através de um critério de desempenho nas competições anteriores.

Chedid disse também aos presidentes de clubes do interior que todas as equipes da Série A do futebol paulista estarão em uma divisão do Brasileiro. Neste ano, quatro times não disputaram a competição: Red Bull, Santo André, São Caetano e Ituano.

O Campeonato Brasileiro é organizado pela CBF, que tem o Coronel Nunes, aliado de Del Nero como presidente. Em 2019, Rogério Caboclo, que teve apoio do ex-presidente, assumirá o cargo. Em abril, Del Nero conseguiu articular a eleição de Caboclo após promover uma reunião às pressas e conseguir o apoio da maioria dos presidentes das federações estaduais para concorrer ao próximo mandato.

Na época, Reinaldo Carneiro Bastos tentou articular uma chapa de oposição, mas foi avisado por aliados para desistir, já que não teria apoio suficiente, uma vez que a maioria dos dirigentes de federação tinham acertado com o candidato apoiado pelo ex-presidente da CBF.

Com a atitude, o ex-mandatário da CBF virou desafeto de Bastos. Em abril, o presidente da FPF disse que Del Nero “acabou. Não vejo nenhum futuro. Espero que não tenha futuro. Não no futebol”. Bastos foi vice-presidente da FPF na gestão de Del Nero.

Reinaldo Carneiro Bastos foi vice de Del Nero na FPF, hoje é desafeto do ex-presidente
Reinaldo Carneiro Bastos foi vice de Del Nero na FPF, hoje é desafeto do ex-presidente - Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Del Nero foi banido de qualquer atividade relacionada com o futebol pela Fifa em abril. Segundo o comunicado da entidade, a Câmara de Arbitragem do Comitê de Ética considerou o dirigente brasileiro culpado por suborno e corrupção, oferecer e aceitar presentes e outros benefícios e conflito de interesse.

Além da punição, o cartola terá que pagar uma multa de 1 milhão de francos suíços (cerca de R$ 3,5 milhões).

Desde dezembro, Del Nero estava afastado do cargo pelas acusações de corrupção feitas na Justiça dos EUA. “De um modo geral, qualquer violação do banimento de participar de qualquer atividade relacionada ao futebol deverá ser tratada pelo Comitê Disciplinar da Fifa (ver artigo 64 do Código Disciplinar”, afirma a Fifa.

O artigo citado pela entidade, o 64, diz que se houver descumprimento pode haver cobrança de multa ao clube, federação ou dirigente.

O artigo 108 do mesmo código diz que “qualquer pessoa ou entidade pode reportar uma conduta que considere incompatível com as regulamentações da Fifa aos órgão judiciais. Tais observações devem ser feitas por escrito”.

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