Futuro presidente da CBF multiplica seu patrimônio após virar cartola

Bens de Rogério Caboclo cresceram principalmente depois de entrar em comitê da Copa 2014 e CBF

Rogério Caboclo e Marco Polo Del Nero dão coletiva de imprensa na Confederação Brasileira de Futebol
Rogério Caboclo e Marco Polo Del Nero: aliados na CBF - Rafael Ribeiro/CBF/Divulgação
Diego Garcia
São Paulo

O futuro presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Rogério Caboclo, 45, viu seu patrimônio em carros e imóveis se multiplicar desde que começou a trabalhar como dirigente de federações de futebol.

Em 2001, quando assumiu seu primeiro cargo como diretor da FPF (Federação Paulista de Futebol), ele tinha cerca de R$ 570 mil de patrimônio. Após 17 anos, já acumula R$ 8,6 milhões, cerca de 15 vezes a quantia original —os valores foram corrigidos pelo IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado).

Caboclo diz que o crescimento do patrimônio é condizente com a sua renda no período.

O aumento dos bens aconteceu principalmente a partir de 2012, quando o advogado entrou no Comitê Organizador Local da Copa de 2014. 

Depois de assumir como diretor de relações institucionais do COL, e também o cargo de diretor executivo de gestão da CBF —posto ocupado por Caboclo desde 2014— adquiriu, entre outros bens, dois apartamentos, que somados custaram R$ 4,5 milhões, um carro BMW (R$ 320 mil) e um veículo da marca Mercedes-Benz (R$ 360 mil). Além disso, tem 16,8% de cinco imóveis adquiridos por R$ 7,2 milhões que estão em nome de uma empresa de sua família, da qual é sócio.

Um dos apartamentos comprados por Caboclo é avaliado atualmente em R$ 5,3 milhões e fica na zona sul de São Paulo.

O imóvel foi adquirido em junho de 2013, um ano antes do dirigente assumir o cargo de diretor financeiro da CBF. 

Na época, Rogério era diretor do comitê organizador da Copa de 2014, financiado com recursos da Fifa.

Segundo a CBF, Caboclo ingressou na diretoria da confederação em outubro de 2014, quando José Maria Marin era o presidente e Marco Polo Del Nero o vice. Entre setembro e novembro do mesmo ano, sua empresa arrematou em leilões quatro imóveis, dois em São Paulo e dois em São Bernardo do Campo, por aproximadamente R$ 1,7 milhão.

As compras mais expressivas da empresa foram feitas em julho de 2017, quando adquiriu um prédio e um terreno na zona sul de São Paulo por R$ 5,5 milhões.

O investimento da firma em propriedades triplicou após o ingresso de Rogério no comitê organizador e na CBF.

Antes de 2014, a Caboclo Participações e Empreendimentos havia desembolsado R$ 2,361 milhões em investimentos imobiliários, distribuídos em cinco imóveis, sendo que somente um deles, comprado ainda em 2007, ano de criação da empresa, custou R$ 1,5 milhão. 

Em 2015, Rogério Caboclo ainda adquiriu outro apartamento em seu nome. O imóvel custou cerca de R$ 390 mil e fica localizado no bairro do Ibirapuera, em São Paulo.

Os gastos do advogado com imóveis antes de ingressar na CBF eram inferiores. Como pessoa física, sua última aquisição havia sido um apartamento no bairro de Indianópolis, por R$ 460,6 mil, em valores corrigidos, em 2007. O mesmo foi vendido em 2012 por R$ 2,2 milhões.

Quando comprou esse apartamento, Caboclo trabalhava como diretor financeiro da FPF (Federação Paulista de Futebol). Na época, a entidade era comandada por Marco Polo Del Nero, presidente afastado da CBF e que escolheu Caboclo para sucedê-lo. 

Hoje Caboclo mora no Rio de Janeiro, em um luxuoso apartamento na Barra da Tijuca, o qual a reportagem não encontrou entre seus bens pessoais.

Carros de luxo

Os bens de Caboclo não ficam restritos a imóveis. Desde que entrou na diretoria da CBF, Rogério Caboclo adquiriu dois carros de luxo. 

O primeiro foi uma Mercedes CLS400 ano 2015, que à época custava cerca de R$ 360 mil. Atualmente, o veículo vale R$ 259 mil. O segundo é uma BMW X4 XDrive35I, ano de fabricação 2016, que custou cerca de R$ 320 mil. 

Em 2002, Caboclo tinha em seu nome uma Mercedes Classe A (modelo mais popular da montadora alemã) e um Ford Focus, que na época valiam juntos R$ 70 mil.

Apesar dos automóveis de luxo, segundo fontes ouvidas pela Folha, Caboclo costuma se locomover de helicóptero. 

Outro lado

Por meio da assessoria de imprensa da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Rogério Caboclo afirmou que seu patrimônio é compatível com seus rendimentos.

“Todos os bens adquiridos, seja por Rogério Caboclo, seja pelas empresas das quais é sócio, foram declarados no Imposto de Renda e são perfeitamente compatíveis com seus rendimentos”, disse a confederação em nota enviada à reportagem.

O futuro presidente da CBF recebe atualmente salário de R$ 120 mil como diretor executivo de gestão da entidade. Seu último salário na FPF, onde trabalhou entre 2001 e 2015, foi de R$ 35 mil —quando ocupava o cargo de diretor financeiro da federação.

Rogério Caboclo se tornou membro do comitê organizador do Mundial de 2014 em 2012. Chegou ao órgão por indicação de Marco Polo Del Nero junto com o ex-presidente da CBF José Maria Marinhoje preso nos Estados Unidos por corrupção. Entrou na CBF após a Copa do Mundo.

A confederação afirma ainda que a Caboclo Participações e Empreendimentos Imobiliários, empresa da família do dirigente, atua há mais de dez anos na compra, venda e aluguel de imóveis e que a firma —da qual Caboclo é sócio minoritário— não tem qualquer relação com sua atividade na CBF.

Rogério Caboclo tem cinco empresas registradas em seu nome, mas só uma conta com a participação de pessoas que não fazem parte de sua família: a Caboclo Advogados Associados. Queila Girelli é a sócia do dirigente no escritório de advocacia.

A Folha encontrou poucos processos sob a responsabilidade de Caboclo. Um deles, defendendo a FPF, é da época em que o dirigente trabalhava na própria entidade. 

Nas outras empresas, ele tem parentes como sócios, incluindo seus pais: a Caboclo Distribuitor Ltda, a Cromma Logística Empresarial e a Rommac Distribuidora de Produtos Alimentícios.

Antes de entrar na Federação Paulista de Futebol, Rogério Caboclo tinha em seu nome quatro propriedades imobiliárias, todas heranças de família, compartilhadas com seus pais e irmãos.

Duas delas pertenciam a ele desde 1988, uma outra foi registrada em seu nome em 1991 e a última em 1994.

Seu primeiro imóvel adquirido individualmente foi um apartamento comprado em 2001 —mesmo ano em que ingressou na FPF— por R$ 185,1 mil, em Indianópolis, na zona sul da capital. 

Já em julho de 2006, Caboclo adquiriu em sociedade com seus parentes uma casa na Vila Guarani, também na zona sul, por R$ 108 mil.

Manobra de Del Nero

Rogério Caboclo conseguiu o apoio da maioria dos presidentes das federações para concorrer ao próximo mandato de presidente da CBF, com a ajuda de Marco Polo Del Nero.

Para registrar chapa na eleição da entidade, o candidato tem que ter o apoio de oito federações e cinco clubes. Caboclo já teria acertado com 20 dirigentes, todos a pedidos de Del Nero, o que inviabiliza outra candidatura.

Presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, tentou articular uma chapa de oposição, em vão. Agora, o pleito poderá ser realizado a partir do dia 15 de abril

Na semana passada, a Fifa ainda renovou por mais 45 dias o banimento do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. O caso agora será julgado pela Câmara de Arbitragem do Comitê de Ética da Fifa, comandada pelo grego Vassilios Skouris.

Em dezembro, Del Nero já havia sido banido preventivamente por 90 dias pelo órgão da Fifa

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