Descrição de chapéu Copa do Mundo

Escândalo no futebol croata faz craque ser contestado no país

Modric é acusado de perjúrio em caso de cartola condenado por desvios

Moscou

A Croácia chega à segunda semifinal em cinco Copas superando não apenas adversários e sua turbulenta história política, mas também os efeitos do maior escândalo do futebol no país.

Seu maior astro, Luka Modric, caiu em desgraça pública e pode pegar de seis meses a cinco anos de prisão se condenado por perjúrio no caso de corrupção envolvendo um dos mais influentes cartolas do país, Zdravko Mamic.

 

Modric foi acusado pela Justiça em março. Outro integrante do time, Dejan Lovren, está sendo investigado sob as mesmas acusações, que ainda respingam sobre outros dois jogadores da seleção.

Mamic era diretor do Dínamo Zagreb, um dos times mais populares do país. Pescava talentos, mas também os fazia assinar contratos fraudulentos nos quais lucros com transferências acabavam em seu bolso. Foi isso o que a Justiça apontou, condenando-o a seis anos e meio de cadeia a oito dias da Copa, assim como outros dois ex-dirigentes do Dínamo, com participação secundária na trama.

A ação diz que ele desviou o equivalente a R$ 68 milhões do clube, além de sonegar R$ 7,4 milhões em impostos.

Alegando inocência, Mamic fugiu para a Bósnia-Herzegóvina, que não tem tratado de extradição com a Croácia.

Em 2004, ele virou agente do jovem Modric, que, quatro anos depois, trocou o Dínamo pelo Tottenham por R$ 108 milhões. Metade do valor deveria ficar com o meia, hoje no Real Madrid, mas ele embolsou R$ 8,7 milhões. No início do processo contra Mamic, ele confirmou o esquema.

Em junho de 2017, Modric causou revolta ao voltar atrás na acusação. O hotel em que ele morou como refugiado de guerra na bela cidade costeira de Zadar foi pichado: “Luka, você vai lembrar desse dia”.

Pôsteres do craque pelo país foram vandalizados, e xingar Modric virou hábito em partidas do maior rival croata do Dínamo, o Hadjuk Split.

O caso de Lovren foi menos rumoroso, apesar de estar na mesma ação que Modric. Ele saiu do Dínamo em 2010 e hoje está no Liverpool. Seus colegas Vrsaljko e Kovacic também tiveram contratos com Mamic, mas por ora são vistos como vítimas. O único membro do time que se posicionou contra Mamic foi Andrej Kramaric, que se recusou a assinar contrato com o cartola.

A federação croata disse que não comentaria, e os jogadores se negaram a falar sobre o assunto durante a Copa.

Ambientes politicamente carregados estão no DNA da Croácia. Diferentemente dos times multiétnicos nas semifinais, a equipe balcânica é uma afirmação nacionalista clássica. Não seria diferente.

A seleção venceu por 2 a 1 seu primeiro jogo, um amistoso com os EUA em outubro de 1990, quando a Croácia ainda fazia parte da Iugoslávia.

O estado socialista do pós-guerra estava se esfacelando, com as minorias que se viam submetidas aos majoritários sérvios buscando a independência após o fim do regime de partido único.

O futebol sempre fora uma válvula de escape. Jogos do Dínamo contra os times de Belgrado, o Estrela Vermelha e o Partizan, eram marcados por disputas de torcidas.

A capital iugoslava era também a capital da Sérvia. Em 1990, houve dois jogos que acabaram em pancadaria na torcida entre sérvios e croatas.

Os eslovenos foram os primeiros a se separar. Os croatas declararam independência em 1991, no meio de sangrenta guerra civil. Morreram talvez 15 mil pessoas, e mais de 500 mil civis foram deslocados internamente.

A rivalidade entre vizinhos é amarga. Quando turistas vão a Dubrovnik e se encantam com os cenários que viraram locações da série “Game of Thrones”, esbarram também em diversas placas lembrando o cerco sérvio e montenegrino à cidade e seus mortos.

A antiga Iugoslávia tinha uma tradição rica no futebol. Participou de oito Copas e foi quarta colocada em duas.

O desempenho posterior do time sediado em Belgrado, caindo na primeira fase em 2010 e em 2018, mostra que o talento maior estava em Zagreb.

Após o surpreendente terceiro lugar de 1998, os croatas ficaram na fase de grupos em 2002, 2006 e 2014.

No embate direto, croatas venceram um e empataram quatro amistosos com os sérvios. O sucesso croata na Rússia ganhou mais contornos políticos quando Vida comemorou a vitória sobre os anfitriões nas quartas agradecendo ao apoio dos ucranianos.

Em 2014, um golpe derrubou o governo pró-Kremlin em Kiev, e Moscou respondeu anexando a Crimeia e fomentando separatistas. Vida desconversou e foi só advertido pela Fifa. A Rússia é aliada da Sérvia e divide não só a etnia eslava mas o alfabeto cirílico e a religião ortodoxa.

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