As crônicas medievais russas trazem, em suas primeiras páginas, o interessante relato da conversão do povo ao cristianismo: no fim do século 10, durante o reinado de Vladimir, o Grande, a antiga capital Kiev foi visitada por delegações das quatro religiões abraâmicas: o judaísmo, o islamismo, o cristianismo de rito romano e o de rito grego.
Inicialmente, o príncipe dos eslavos demonstrou interesse pelos ensinamentos de Maomé, mas acabou desistindo ao saber da proibição do consumo de álcool. "Os russos têm sua alegria na bebida, sem ela não podemos ficar."
Para os estudiosos, a espirituosa anedota é uma invenção, um gracejo do monge que escrevia muito depois do fato histórico. Mas a imagem corresponde bem à visão que fazemos dos russos: um povo inseparável de sua garrafa de vodca. No entanto, o transparente destilado que para muitos simboliza a Rússia tem origem obscura.
A palavra vodka é praticamente ausente nos textos mais antigos e só aparece nos dicionários russos no século 19. De todo modo, a etimologia do termo é curiosa. Trata-se de um provável diminutivo de vodá, "água": algo próximo de "aguinha". Se não vodca, o que o príncipe Vladimir e seus súditos bebiam? Em primeiro lugar, miod, o hidromel, fermentado a partir do mel. Mas havia ainda um líquido castanho e turvo, de sabor ao mesmo tempo ácido e adocicado, chamado kvas.
A bebida tem baixo teor alcoólico e é produzida com sobras de pão de centeio. É costume acrescentar frutas cítricas ou silvestres. Chamado jocosamente de "a Coca-Cola socialista" no período soviético, o kvas é até hoje muito popular nos países da ex-URSS e pode ser encontrado em supermercados ou banquinhas.
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