Conselho aprova, e sócios do Santos definirão impeachment de presidente

Definição do futuro político de José Carlos Peres deve ocorrer no dia 29

Conselheiros do Santos aprovaram impeachment do presidente José Carlos Peres
Conselheiros do Santos aprovaram impeachment do presidente José Carlos Peres - Folhapress
Klaus Richmond
Santos

O conselho deliberativo do Santos aprovou nesta segunda-feira (10), em reunião na Vila Belmiro, dois pareceres que recomendam o impeachment do presidente José Carlos Peres.

Em um colégio de 242 votantes, o primeiro documento teve 165 votos favoráveis (68,1%). No segundo, 164 (68,6%) de 239 votantes aprovaram a acusação. Eram necessários ao menos dois terços para que os processos avançassem.

Agora, a definição do futuro político de Peres –eleito em dezembro para um mandato de três anos, até 2020– terá um desfecho em votação aberta aos associados, que deve ocorrer no próximo dia 29. Se eles decidirem, por maioria simples, pelo impeachment, o atual presidente deixará o cargo.

A reunião foi marcada por faixas colocadas no entorno do estádio dirigidas ao dirigente com os dizeres “fora, Peres”, “conselheiros: os sócios querem decidir o futuro do Santos” e “presidente ou empresário?”.

Conselheiros do Santos estenderam faixa pedindo a saída do presidente José Carlos Peres
Conselheiros do Santos estenderam faixa pedindo a saída do presidente José Carlos Peres - Klaus Richmond/Folhapress

Peres sofre acusações de supostas irregularidades. Em uma delas, é acusado de ser sócio de empresas de agenciamento de jogadores enquanto presidia o clube. Ele afirma que a empresa jamais atuou no mercado, não emitiu notas e existia apenas no papel. As companhias foram encerradas neste ano.

A outra acusação é de que editou portaria definindo que todas as contratações realizadas pelo Santos deveriam ser determinadas pelo presidente, algo que vai contra o estatuto do clube, que prevê o Comitê Gestor, grupo formado por presidente, vice-presidente e até sete membros, como principal órgão administrativo responsável pelas decisões.

A oposição busca explicações também sobre a negociação para a contratação do zagueiro equatoriano Jackson Porozo, 17. O Santos prometeu repassar 30% do lucro de uma venda futura para a Hi Talent, empresa que não fez qualquer investimento na negociação e que já teve como um dos cotistas Ricardo Crivelli, ex-sócio de Peres e contratado por ele para ser coordenador das categorias de base.

Apelidado de Lica, ele está afastado do cargo, acusado de abuso sexual. Crivelli nega ter cometido o crime e o caso é investigado pela polícia.

A decisão acentuou ainda mais o caos político instaurado desde o início da era Peres. Em recuperação dentro de campo com a chegada do técnico Cuca, com quem não perde há oito jogos, a gestão é marcada por um racha político com o grupo liderado pelo vice-presidente Orlando Rollo menos de três meses após a posse.

Os nove meses já tiveram troca de farpas públicas, escândalo de assédio sexual nas categorias de base, a saída de três homens fortes no futebol –Gustavo Oliveira, William Machado e, mais recentemente, Ricardo Gomes– e uma série de polêmicas nos bastidores.

A última delas foi o erro na inscrição do meio-campista uruguaio Carlos Sánchez, que transformou em derrota por 3 a 0 o empate por 0 a 0 conquistado contra o Independiente, na Argentina, e culminou com a eliminação da equipe nas oitavas de final da Copa Libertadores da América. O episódio ainda ganhou desdobramentos com a demissão de um funcionário.

 

Essa é a terceira vez que a oposição tenta tirá-lo do cargo, o que lhe dá munição para bater na tecla que o processo é político. Mas até seus aliados reconhecem que Peres traiu a promessa sob a qual foi eleito: a de unir os santistas.

Antes da votação, os dois processos foram lidos na íntegra. O primeiro, com 12 páginas, encabeçado por Esmeraldo Soares Tarquínio de Campos Neto e o segundo, com 34, liderado por Alexandre Santos e Silva. Eles já haviam sido disponibilizados e posteriormente foram enviados para conhecimento dos conselheiros no último dia 5.

A imprensa e funcionários do clube não puderam participar de nenhum momento da reunião. Peres foi à Vila Belmiro, mas não concedeu entrevistas.

No Conselho, o presidente teve a sua defesa apresentada pelo advogado Luciano Tadeu Telles, que argumentou que o cartola teve a defesa cerceada pela Comissão de Inquérito e Sindicância, responsável pelos pareceres.

A defesa do Peres também questionou a contagem dos votos do primeiro documento, pedindo que os quatro membros da Comissão de Inquérito e Sindicância, que não podem votar, fossem incluídos na contagem final de votantes. Esses conselheiros assinaram a lista de presença, mas não participaram da votação.

O pedido levou o presidente do Conselho, Marcelo Teixeira, a convocar membros da comissão de estatuto do clube para uma reunião fechada a fim de esclarecer a dúvida, que acarretaria em uma mudança no desfecho do impeachment. A decisão pela continuidade do processo, no entanto, foi confirmada.

OUTRO LADO

Na véspera, Peres gravou um vídeo de pouco mais de dez minutos em que falou sobre os pedidos de impeachment, classificados por ele como “políticos e que não refletem a realidade das acusações”. O mandatário ainda disse não ter tido direito a ampla defesa durante o procedimento.

“Isso tudo vem de pessoas insatisfeitas com o processo de seis meses atrás, o eleitoral, onde não aceitam a derrota. Eu fui eleito democraticamente. É um momento difícil, crítico e de muito prejuízo para o Santos Futebol Clube”, disse em um dos trechos da gravação.

O dirigente explicou ter encontrado dez contas bancárias zeradas do clube quando assumiu, além de salários atrasados e “negócios obscuros e lesivos ao Santos”, um deles um acordo com a Doyen realizado, segundo ele, em período eleitoral, algo proibido estatutariamente, para repasse de parte dos valores de vendas futuras de jogadores para a Europa.

Peres ainda disse que a venda de Rodrygo para o Real Madrid, em junho, por 45 milhões de euros (R$ 213 milhões pela cotação atual), foi a “tábua de salvação para o clube para os próximos dois anos”.

Além disso, o mandatário teve nesta segunda um pedido de defesa para impedir a votação negado pela Justiça de São Paulo. Foi a terceira tentativa dos advogados do dirigente de interromper o processo de impeachment.

Em agosto, o atual presidente teve uma liminar concedida, posteriormente derrubada.

"Nesse momento, qualquer informação ou afirmação é leviana. Acompanhei toda a sessão e entendo que os pedidos [de impeachment] não foram aprovados. O certo seria contabilizar o voto de todos os presentes e, se contar, não chegamos aos dois terços de votos favoráveis ao afastamento do presidente. O que faremos amanhã [terça] é um estudo responsável de tudo o que aconteceu e quais as medidas que serão tomadas", disse o advogado de Peres,  Luciano Tadeu Telles, em contato com a reportagem da Folha na madrugada desta terça-feira (11).

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