Descrição de chapéu Copa Libertadores

Caldeirão do Boca, La Bombonera pode estar com os dias contados

Presidente do clube defende construção de nova arena para 80 mil pessoas

Alex Sabino
Buenos Aires

De toda a mística em torno do Boca Juniors (ARG), adversário do Palmeiras na semifinal da Libertadores nesta quarta (24), La Bombonera é parte central. Além do slogan que o clube é “a metade mais um” (de torcedores na Argentina), há o estádio, atração turística.

Encravado no bairro pobre de La Boca, a três minutos a pé do Caminito, é importante fonte de receitas para a região e o clube. Mas no que depender do presidente Daniel Angelici, isso está com os dias contados.

Desde 2011, quando assumiu o cargo, o mandatário do Boca Juniors não defende a antiga ideia de reformar La Bombonera. Ele quer uma nova e moderna arena.

La Bombonera foi inaugurada em 1940 e torcedores mais tradicionalistas não querem estádio novo
La Bombonera foi inaugurada em 1940 e torcedores mais tradicionalistas não querem estádio novo - Maxi Failla/AFP

“Eu nunca deixei de acreditar que o clube precisa de um estádio para 80 mil pessoas. Sempre acreditei nisso. Há um envolvimento emocional com La Bombonera, mas o Boca precisa de um novo estádio”, defende.

É ideia que encontra forte oposição dentro do clube e entre torcedores. Estes não desejam perder a mística do local batizado com esse nome porque lembra o formato de uma caixa de bombons, com arquibancadas íngremes e acústica que ajuda a empurrar os jogadores em campo.

Angelici procurou apoio até do presidente do país, Maurício Macri, ex-presidente do Boca Juniors. Não recebeu nem sim, nem não. Com a crise econômica nacional, o político teme se envolver em um assunto tão delicado.

Para evitar a construção de nova arena, grupo de conselheiros do clube se reuniu neste ano com o arquiteto esloveno Tomaz Camernik. Ele apresentou projeto que prega a demolição da parte lateral, onde estão os camarotes, a construção de mais arquibancadas e fechamento do anel superior e inferior do estádio, com cobertura. Isso acrescentaria 15 mil pessoas à capacidade atual de 49 mil.

Este é apenas o último de dezenas de projetos para reformar La Bombonera apresentado nas últimas décadas. A diferença da ideia de Camernik é que não seria necessário comprar todos os terrenos ao redor do estádio, o que sempre encontrou oposição de moradores que não desejam vender suas casas.

Segundo o esloveno, 19 residências teriam de ser adquiridas. O Boca poderia continuar atuando no estádio durante as obras, uma das grandes preocupações do técnico Guillermo Barros Schelotto.

Dirigentes e sócios foram a uma reunião na embaixada eslovena em Buenos Aires e se empolgaram com o projeto.

Camernik é discípulo de Viktor Sulsic, o arquiteto responsável pelo projeto original do estádio.

“La Bombonera é uma maravilha da arquitetura. Não podemos mexer nela”, disse o esloveno que quer reformar o campo do Boca.

O problema do clube é ter 49 mil ingressos a cada partida, mas 200 mil sócios, dentro de diferentes programas e preferências na compra de entradas. Isso faz surgir um lucrativo mercado para cambistas, controlados pela 12, a maior organizada do Boca.

Dirigentes gostaram da ideia de Camernik, mas Angelici, não. Ele disse que o projeto apresentado possui “erros de cálculo” e que não pode ser utilizado. Ele insiste na necessidade de construir uma nova e moderna arena, com shopping em anexo, para horror dos tradicionalistas. 

O presidente citou como opções de locais a própria La Bombonera (apesar das dificuldades de espaço) ou o Complexo Pompillo, formado por terrenos que o clube possui em Ezeiza, região fora de Buenos Aires e próxima do aeroporto internacional.

Não há orçamento de quanto custaria a nova arena. A reforma proposta por Camernik sairia por cerca de R$ 250 milhões.

Para preservar La Bombonera, Angelici citou que o estádio poderia ter campo sintético e ser usado pela equipe reserva e categorias de base. Receberia também shows. Ele deseja que a última palavra seja dada pelos sócios, em uma votação ainda a ser marcada porque todos os planos ainda não são claros.

“Estou certo de que a melhor opção é um novo estádio. Mas não sou dono do Boca. Sou o presidente”, conclui.

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