CBF usa festa do Palmeiras para se aproximar de governo Bolsonaro

Com histórico de corrupção, entidade perdeu representantes no Congresso na última eleição

Bolsonaro entregou taça de campeão ao Palmeiras no Allianz Parque
Bolsonaro entregou taça de campeão ao Palmeiras no Allianz Parque - Paulo Whitaker/Reuters
São Paulo e Rio de Janeiro

A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) faz lobby para se aproximar do presidente eleito Jair Bolsonaro.

O primeiro gesto público foi visto neste domingo (2), no Allianz Parque, quando a cúpula da entidade aproveitou a festa de campeão nacional do Palmeiras para se apresentar oficialmente ao político do PSL.

Pivô de uma série de escândalos de corrupção nos últimos anos, a CBF ainda não havia conseguido estreitar laços com o novo governo.

A confederação perdeu aliados importantes em Brasília na última eleição. Parlamentares próximos à CBF, da chamada bancada da bola, não conseguiram se reeleger. Casos do senador Romero Jucá (PMDB-RR) e dos deputados Marcus Vicente (PP-ES) e Sarney Filho (PV-MA), irmão de Fernando Sarney, vices da entidade.  

Já Zezé Perrela (PTB-MG) e Vicente Cândido (PT-SP) não se candidataram.

Oposicionistas da entidade como Otavio Leite (PSDB-RJ) e Silvio Torres (PSDB-SP), relatores da Lei do Profut e da CPI da CBF/Nike, também não conseguiram se eleger.

No domingo (2), os cartolas da CBF chegaram cedo ao estádio do Palmeiras e aguardaram no camarote do clube o encontro com o presidente eleito. Bolsonaro foi cordial com o coronel Antônio Carlos Nunes, atual presidente da CBF, e Rogério Caboclo, que assumirá o cargo em abril. 

Com seus três ex-presidentes envolvidos em denúncias de corrupção — Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero —, a CBF tenta se blindar de uma investigação do novo governo, segundo apurou a Folha.

A entidade possui histórico de propinas em contratos de TV e da seleção brasileira. Marin está preso nos EUA desde 2015, enquanto Del Nero não sai do Brasil devido a investigações das autoridades americanas contra cartolas da Fifa.

Nesta segunda-feira (3), Caboclo comemorava o sucesso do encontro com o presidente eleito. Em reunião com os dirigentes de federações, ele fez um balanço positivo do primeiro contato com Bolsonaro.

Os dirigentes da entidade articularam para o presidente eleito entregar o troféu de campeão. Avisaram ao clube que existiria a possibilidade dele participar da festa. Motivada também por publicação do político em redes sociais em que parabenizava o Palmeiras pela conquista, a diretoria do time oficializou o convite ao político do PSL.

Com o chamado feito pelo Palmeiras, a CBF agilizou os procedimentos para que o presidente eleito fosse bem recebido pela cúpula da entidade. Organizou os trâmites do protocolo para que Bolsonaro entregasse a taça de campeão brasileiro no gramado para os jogadores erguerem após a partida. 

No camarote oficial do clube, os cartolas da confederação tietaram o presidente eleito antes do jogo diante do Vitória. Além de Nunes e Caboclo, o diretor de competições, Manoel Flores, o secretário-geral, Walter Feldman, participaram do encontro.


Pela relação militar, Nunes, coronel aposentado da Polícia do Pará, foi quem mais conversou com o Bolsonaro, capitão reformado, no momento imediato após a chegada do político. Eles estiveram juntos durante alguns minutos, enquanto conselheiros do Palmeiras pediam fotos e elogiavam o político do PSL.

Em seguida, Flores, Feldman e Caboclo foram os responsáveis por reforçar o convite para o presidente eleito entregar a taça dentro do campo. O filho do ex-presidente banido da CBF, Marco Polo Del Nero Filho, também estava nos camarotes e conversou com membros da CBF.

O senador eleito Major Olímpio (PSL-RJ) era outro político presente no mesmo camarote que a cúpula da CBF. Aliado de Bolsonaro, ele já atuou contra a confederação como deputado federal. 

Em 2015, por exemplo, chegou a atacar Walter Feldman, em sabatina na Câmara de Deputados. Na época, publicou em sua página do Facebook que “enquadrou o secretário-geral da CBF durante CPI da Máfia do Futebol”. Ainda questionou: “Tudo isso é uma vergonha, não acham?”. Neste domingo, eles dividiram o mesmo camarote no estádio do campeão brasileiro.

Como o Palmeiras não estava vencendo a partida — o jogo estava 2 a 2 até o último minuto —, ficou a dúvida se Bolsonaro participaria da festa. Tanto que a cúpula da CBF deixou o camarote aos 35 minutos do segundo tempo com direção ao campo, e o presidente eleito continuou no local. Somente após o terceiro gol que o capitão saiu do camarote e foi correndo para os elevadores que dão acesso ao gramado.

Em campo, o presidente eleito recebeu apoio do elenco e da torcida, ficou meia hora no gramado, deu a volta olímpica e até ergueu a taça. 

Mesmo após o encontro de domingo, porém, a relação da CBF com o governo Jair Bolsonaro ainda é uma incógnita.

A entidade foi bem próxima do poder durante os governos Lula (2003-10), onde não enfrentou investigações. 

Já com Dilma Rousseff no poder, o governo se afastou de cartolas da CBF. A ex-presidente se aproximou do movimento Bom Senso, crítico aos dirigentes. O grupo de jogadores cobrava profissionalização na gestão dos clubes, mudança no calendário e pelo fim da inadimplência no pagamento de salários de atletas. 

Presidentes do Brasil e o futebol ​


Médici e Copa de 70 - Entre os presidentes da ditadura militar, Emílio Garrastazu Médici é lembrado como o governante que levantou a taça do Mundial de 1970. Usou o sucesso esportivo para tentar alavancar sua popularidade.

​Collor cartola - Antes de ser presidente da República, Collor foi cartola. Comandou o CSA, de Alagoas, de 1973 a 1974. 

FHC, Pelé e estatuto - Com o ex-presidente do PSDB, Pelé foi ministro do Esporte. Criou a Lei Pelé, além do Estatuto do Torcedor e a Lei da Moralização do Esporte. Essa, porém, sofreu com sabotagens de parlamentares ligados à CBF.

Lula, Corinthians e CBF - Torcedor do Corinthians, Lula ajudou o clube a construir seu estádio para a Copa. Se aliou a Ricardo Teixeira e à CBF. No seu governo, o país ganhou o direito de receber a Copa do Mundo.

Dilma anticartolas - Sua principal ação no futebol foi se aproximar do Bom Senso FC, movimento liderado por jogadores, e vetar a Medida Provisória 656, que previa o refinanciamento das dívidas dos clubes sem contrapartidas. 

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