Encerrada neste domingo (7), a Copa do Mundo feminina bateu recordes de audiência e foi palco para reivindicações de igualdade de gênero. Em campo, os dados técnicos do torneio mostram números semelhantes nos principais quesitos—distância percorrida, chutes a gol e gols marcados— na comparação com a última edição da competição masculina, disputada em 2018.
Número de passes e indicadores disciplinares são o que mais diferenciam as duas competições organizadas pela Fifa.
As médias de faltas e cartões amarelos por confronto no torneio feminino de 2019 foram menores que na disputa masculina de 2018. Enquanto as mulheres cometeram 20,13 infrações por partida, os homens o fizeram 27,09 vezes, 7 faltas a mais, em média.
Todos os números, extraídos do site da Fifa, foram comparados por jogo e não de forma absoluta, uma vez que a competição feminina tem oito times a menos --e, desta forma, 12 partidas a menos.
As mulheres também registraram menor média de cartões amarelos: foram 2,38 delas, por jogo, contra 3,42 deles. Com os mesmos 4 cartões vermelhos em todo o torneio, elas tiveram, porém, uma média maior neste quesito: 0,08 por jogo, enquanto a dos homens foi de 0,06.
Dentre os principais dados técnicos, o único em que elas tiveram uma distância significativa em relação a eles foi na quantidade de passes completados: 624,94, por jogo, na competição da França e 775,80 na da Rússia.
Entre as demais estatísticas relevantes, os números são parecidos, com pequenas vantagens para cada lado.
A média de gols por partida do Mundial da França deste ano é superior: 2,81 contra 2,64, em 2018. Porém, se excluída a goleada de 13 x 0 das estadunidenses sobre a seleção da Tailândia, o número muda: 2,61 gols por jogo, mais próximo do que se viu na Rússia em 2018.
As distâncias percorridas pelas equipes em cada partida também foram similares (106,95 km para os homens e 106,39 para as mulheres), apesar de na Copa masculina mais jogos terem ido para a prorrogação (5, enquanto na feminina foram apenas 3), fazendo com que a distância corrida aumente.
Outro similaridade é a quantidade de finalizações: as mulheres realizaram 25,50 arremates por partida, enquanto os homens o fazem 24,20 vezes. Para cada gol marcado, foram necessários 9,17 chutes deles e 9,08 delas.
Para René Simões, que treinou seleções masculina de base (sub-17, sub-20 e sub-23) e que foi o técnico do Brasil na conquista da medalha de prata do futebol feminino na Olimpíada de Atenas, em 2004, o equilíbrio atesta a evolução técnica da modalidade.
"Quando assumi a seleção, não era igual assim. Não era tanto passe, era muito chutão, muitas faltas bobas... agora é muito igual", avalia o treinador.
Segundo ele, utilizar os padrões masculinos como padrão de comparação para o feminino pode resultar em distorções pelo fato de o segundo ter demorado a receber apoio formal e organização. Porém, o treinador diz que fazê-lo ajuda a afastar a ideia de que é preciso adaptar o futebol para a prática dos diferentes gêneros.
"Antes eu tinha a percepção de que tinha que diminuir o gol, de que tinha que ter a bola mais leve... mas na verdade não existe futebol masculino e feminino. Futebol é um só, jogado por homens ou mulheres", defende.
Em entrevista concedida à Folha em abril, o técnico da seleção feminina Vadão afirmou que as mulheres têm mais obediência tática que os homens.
"Os jogadores gostam muito do rachão, enquanto as jogadoras preferem o treino tático. Se as mulheres falam que não estão aprendendo determinada situação, vão querer aprender. É mais fácil a mulher seguir uma orientação tática do que o homem", avaliou o treinador.
O Mundial de 2019 encerrou no domingo com recordes de audiência e dobro de cobertura da mídia global. A Fifa credenciou 1,3 mil repórteres e fotógrafos da mídia impressa para a Copa do Mundo da França, o dobro da Copa do Mundo do Canadá, quatro anos antes.
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