Aos 12, lutadora do Itaim Paulista tem 101 medalhas no jiu-jítsu

Samara Uno disputa competições na periferia de SP e mira torneios internacionais

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Danielle Lobato
São Paulo | Agência Mural

Quando tinha quatro anos, Samara Uno, 12, mostrou interesse pela natação. Mas por falta de dinheiro da família, que vive no Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo, não iniciou as aulas. Aproveitou a experiência da mãe para aprender jiu-jítsu, atividade que os primos já praticavam.

“Quando ela era bebê, já me acompanhava. Enquanto treinava, ela me olhava”, conta Andressa Souza, 33, vice-campeã mundial master pela Confederação Brasileira de Jiu-Jítsu, título conquistado em Las Vegas.

“Sempre agradeço a minha mãe por ter insistido em mim”, diz a estudante. “Precisava fazer um exercício físico, e o único que ela podia me dar naquele momento era a arte marcial."

Samara Uno e sua mãe, Andressa, na academia de treinos de jiu-jítsu
Samara Uno e sua mãe, Andressa, na academia de treinos de jiu-jítsu - Danielle Lobato/Agência Mural/Folhapress

Samara tem se destacado nos tatames da zona leste de São Paulo e do Brasil. Ao todo, soma uma coleção de 101 medalhas, das quais 57 são de ouro. Ela treina junto dos primos, que também competem e são campeões no esporte.

A conquista mais importante veio em 2016, quando ela ficou com o título mundial disputado em São Paulo.

Nas últimas semanas, a garota levou o terceiro lugar no Campeonato Paulista de Jiu-Jítsu na categoria infanto A —colorida— na faixa laranja. O evento é oficializado pela CBJJE (Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo).

Samara nasceu na Santa Casa de Suzano, na Grande São Paulo, mas sempre morou no Itaim Paulista, bairro do extremo leste da capital, onde começou a lutar.

O jiu-jítsu é uma arte marcial que tem como característica o combate no solo, com foco na imobilização e finalizações como chaves de braço, perna e estrangulamento.

A atleta mirim quer ser médica-cirurgiã, mas não vê o futuro sem a luta. Pretende disputar competições internacionais. O jiu-jítsu ainda não é uma modalidade olímpica, mas Samara não descarta migrar para o judô, esporte que já está treinando há dois anos. A luta tem semelhanças com a que pratica, como técnicas de quedas e imobilizações.

Apesar de ter a mãe como sensei (termo usado para chamar os professores), a pequena não tem moleza: treina de segunda-feira a sexta-feira na academia "Barbosa — B9 Zona Leste". “A minha mãe consegue fazer muito bem os papéis de mãe e sensei. Aqui eu sou a aluna, a referencio como sensei”, fala a atleta.

A rotina é pesada, principalmente nas semanas que antecedem as lutas, quando a dinâmica dos treinos muda. É praticada mais a parte dos movimentos da luta do que a luta em si. “Nessa fase, a ideia é trazer similaridade da competição. É trabalhado qualquer déficit de capacidade física que o atleta apresenta e que seja de extrema importância para a luta”, diz Andressa.

Dentre os movimentos que são mais ensaiados por Samara está a guarda —defender no chão e equalizar os pesos do agressor e do agredido. “Percebo um pouco da dificuldade que tem no chão na hora da guarda e sempre pego no pé dela”, ressalta a mãe.

Quando chega o dia da luta, Samara procura seguir protocolos que a ajudam a acalmar. A princípio, ouve os conselhos da mãe. Procura conversar com outras competidoras sobre assuntos que não estão ligados ao jiu-jítsu. “Isso me acalma”, diz a menina.

Sobre os conselhos, a sensei conta que tenta falar que, se Samara perder a luta, ainda será o orgulho das pessoas que torcem por ela.

“Sou atleta e sei como é perder. São anos de treinamento para em minutos esvair. O pior sentimento é decepcionar quem está lá fora”, conta Andressa.

Ser conhecida como uma criança que pratica artes marciais não é uma das tarefas mais fáceis dentro da escola. Enquanto algumas pessoas pensam que a qualquer momento Samara irá usar o que sabe de maneira irresponsável, ela pontua: “A luta te traz disciplina, concentração e paciência”.

“Tenho consciência que se uma pessoa vir brigar comigo na escola, eu não posso usar o que eu sei. O máximo que devo fazer é autodefesa, segurar a mão, empurrar para longe ou imobilizá-la. A minha força e técnica são diferentes das da pessoa."

Por outro lado, a luta ajudou Samara no ambiente escolar, em especial para estudar matemática. Diz que a atuação nos tatames ajudou no raciocínio lógico. “Percebi que, quanto mais eu ficava boa no jiu, mais melhorava na matemática. Meus reflexos ao ver uma conta formada mudaram."

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