Descrição de chapéu Copa Libertadores

De ônibus e avião, flamenguistas invadem Lima para Libertadores

Autoridades de segurança do Peru esperam 30 mil torcedores brasileiros

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Lima e São Paulo

Lucélia Gómez, 63, saiu à porta do prédio onde mora, na calle Maunel Bañon, para ver o que acontecia no residencial, caro e elitista distrito de San Isidro, em Lima.

“A gente nunca presenciou nada parecido com isso. Por Deus!”, ela disse, admirada.

Centenas de torcedores do Flamengo quase paravam o tráfego na quarta-feira (20) à noite nas ruas de acesso ao hotel onde a delegação está hospedada para a final da Copa Libertadores. No próximo sábado (23), às 17 horas (de Brasília) o time brasileiro enfrenta o River Plate por um título continental que não vence desde 1981.

Torcedores do Flamengo assistem ao treino do time em Lima - Guadalupe Pardo/Reuters

Consultada pela Folha, a Prefeitura de Lima disse não saber quantos torcedores do Flamengo estão ou estarão na cidade. A rede hoteleira trabalha com um número de 50 mil pessoas, incluindo argentinos. Para o general Gastón Rodríguez, diretor Nacional da Ordem e Segurança do Peru, serão cerca de 30 mil brasileiros na capital peruana.

Se a maior porcentagem de flamenguistas chegaria entre a noite desta quinta (21) e a manhã de sábado, como prevê a polícia, a presença deles já é inescapável, principalmente em bairros mais turísticos, como Miraflores. Ao caminhar pelo circuito das praias, basta alguém gritar “em dezembro de 1981”, para que uma ou mais pessoas devolvam “botou os ingleses na roda”, música da torcida que é o hit do clube na final da Libertadores.

É uma versão rubro-negra da canção “Primeiros Erros”, de Kiko Zambianchi e a alusão aos “ingleses” vem a calhar porque, se ganhar do River Plate, o Flamengo poderá enfrentar o mesmo Liverpool na final do Mundial de Clubes.

O que une todos eles em Lima é o sonho do título e a camisa do Flamengo sempre no corpo, mesmo que seja uma só para passar quase uma semana. As procedências e as histórias até a chegada à cidade são muito diversas.

“Meus filhos não param de me ligar e a mulher não ficou muito contente, mas teve de entender. Ela já me conheceu Flamengo, então não pode reclamar”, afirma o motorista de aplicativo Sergio Gomes, 45, que deixou Duque de Caxias, na Baixada Fluminense do Rio, na segunda (18) para um périplo com escalas em Brasília e Santiago até a chegada a Lima.

Os filhos Fabrício, 16, e Felipe, 9, são tão fanáticos quanto ele, reconhece Gomes. Mas só havia dinheiro para uma pessoa viajar. O “vencedor” na escolha não poderia ser outro.

A história dele é comum a de outros torcedores brasileiros. Na compra ou troca do bilhete aéreo, descobriram que voltar no domingo, dia seguinte à final, seria muito caro. O jeito vai ser permanecer até terça (26), quase 72 horas após a final.

“Se ganhar a gente fica comemorando, pelo menos. Mas e se…?”, questiona o autônomo, Edson Mandarino, 42, que chegou na quarta de manhã, vindo em voo que saiu de Salvador mas teve duas escalas.

Ele não consegue completar a pergunta, que seria: “Mas e se a gente perder?”

Assim que o Flamengo eliminou o Grêmio e avançou à final, ele começou o plano. Tinha R$ 700 guardados. Queria vender coisas de casa, mas a mulher não deixou. Pediu dinheiro a amigos, parentes e a quem quer que escutasse sua história. Conseguiu juntar o bastante para a passagem aérea, afirma. E só. Sobraram trocados para comer e tomar algumas cervejas.

Ingresso para o jogo, ele não tem. Hotel para ficar também não.

“Para dormir, eu me viro. Me encosto em qualquer canto e acho um lugar para tomar banho. Mas para o ingresso, preciso de um milagre”, reconhece. “Vou poder pelo menos dizer a todo mundo que estava em Lima quando o Flamengo ganhou a Libertadores.”

Para quase todos eles, a decisão de sábado é a final de uma geração. Nem todos são como o comerciante Marcelo Paiva, 42, de Vitória-ES, que se lembra da decisão contra o Cobreloa (CHI) em 1981, apesar de ter apenas quatro anos. Recorda-se até usar a camisa que o pai lhe deu de presente, o segundo uniforme daquele ano, número 11, vestido pelo meia Lico. Para a maioria, estar na decisão da Libertadores é sensação inédita depois de 14 eliminações consecutivas.

É o caso dos amigos Derick Almeida, 27; Priscila Lima, 28; e Everton Ribeiro (“como o craque do Mengão, escreve aí”, ele pede, se referindo ao jogador do time homônimo), 33. Eles saíram de Manaus no último domingo em uma viagem de carro, ônibus até Puerto Maldonado, já no Peru, e avião até chegar à capital.

O carro deles foi um dos 100 automóveis brasileiros a cruzar a fronteira entre Brasil e Peru, de acordo com Santiago Salazar, encarregado pela imigração na fronteira de Puerto Maldonado.

"Tivemos também seis ônibus cheios. Não esperava que tanta gente passasse por aqui para ir ao jogo em Lima", afirma ele. 

Com tanto flamenguistas juntos, o agente de turismo Agnaldo Marques, 48, viu a oportunidade de ganhar algum dinheiro. Ele saiu do Rio com cem faixas de campeão da Libertadores com as fotos dos jogadores. Na quarta à noite, pedia US$ 5 (R$ 20) por cada uma.

“É só para pagar a cerveja”, garante.

Não teve grande sucesso porque os outros viram naquilo um mau agouro. O próprio Marques sabia disso, tanto que se recusou a tirar foto com a faixa.​

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