Em dois passos, corredor deixa de ganhar R$ 47 mil e ri no final

Segundo colocado da São Silvestre perdeu ponta na linha de chegada

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São Paulo

Faltavam dois passos para cruzar a linha de chegada e Jacob Kiplimo, 19, de Uganda, estava a caminho de vencer a São Silvestre, bater o recorde da prova e ganhar R$ 94 mil de prêmio. Em um instante, isso mudou. O jovem corredor foi ultrapassado por Kibiwott Kandie, 23, que fez espetacular sprint no final e sagrou-se campeão. 

“Eu não esperava que ele estava vindo tão rápido. Quando percebi, ele me passou", afirmou um sorridente Kiplimo minutos após os milésimos de segundo que lhe custaram R$ 47 mil, diferença entre a premiação do primeiro e do segundo colocado. Questionado sobre porque não demonstrava incômodo com o resultado, disse que "viu um amigo vencer". 

Os dois primeiros colocados iniciaram a subida da avenida Brigadeiro Luís Antônio lado a lado, entre os quilômetros 13 e 14, como aconteceu em boa parte do percurso. Já na avenida Paulista, na reta final, o atleta ugandense disparou, o que tornou a ultrapassagem e vitória do queniano a poucos instantes da linha de chegada ainda mais impressionantes.

Kiplimo diz ter tirado uma lição com a derrota. “Eu aprendi que preciso correr mais forte, passar mais rápido”. 

“Eu vi a linha de chegada e pensei: 'eu preciso ganhar essa corrida'”, explicou Kibiwott Kandie, vencedor da prova. “Nunca vi algo parecido, mas estou muito grato pela experiência. Seria muito doloroso para mim perder a corrida do jeito que ele [Jacob Kiplimo] perdeu, porque ele ficou na frente até o último metro, mas nos últimos cinco metros eu aumentei meu ritmo e consegui ganhar”, completou. 

A vitória confirmou uma hegemonia de atletas quenianos na prova paulistana. Desde que a corrida se tornou internacional, em 1945, em 16 vezes ela foi vencida por um atleta do país africano. Entre os cinco primeiros nesta terça, três eram quenianos. Kibiwott superou um conterrâneo ao bater o recorde da prova.

Levou 42min59s para completar os 15 km e bateu a marca de Paul Tergat (43min12s), que durava desde 1995. Com cara de poucos amigos após a vitória, o campeão se recusou a comentar o fato de ter quebrado o feito do compatriota, maior vencedor da corrida, com cinco títulos.

Sequência de imagens mostra o momento em o queniano Kibiwott Kandie (de branco) ultrapassa Jacob Kiplimo, de Uganda, a poucos instantes antes de cruzarem a linha de chegada da São Silvestre
Montagem mostra o momento em o queniano Kibiwott Kandie (de branco) ultrapassa Jacob Kiplimo, de Uganda, a poucos instantes antes de cruzarem a linha de chegada da São Silvestre - Amanda Perobelli/Reuters (foto 1); Miguel Schincariol/AFP (fotos 2 e 3)

A prova feminina também teve vitória do Quênia. Brigid Kosgei, 25, não teve dificuldade para correr os 15 km em 48min54s e ficou a 19 segundos de bater a melhor marca feminina na prova, da queniana Jemima Sumgong, vencedora em 2016.

Na temida subida da avenida Brigadeiro Luís Antônio, no quilômetro 13, ela já mantinha uma distância grande para a segunda colocada.

“Quando corro, não presto a atenção em outras atletas. O que interessa para mim é o meu ritmo”, disse a queniana sobre sua folgada vitória. 

“Somos acostumados a correr no Quênia subindo e descendo morros. Eu olhei o morro e subi [sobre a Brigadeiro]”, complementou Kosgei. 

Para ela, a maior dificuldade na prova foi a umidade. Em seu país, os atletas treinam a 3.200 m de altitude e com o tempo muito seco.

A vitória encerrou um ano de conquistas para Kosgei. Em outubro de 2019, ela bateu o recorde mundial feminino da maratona ao completar a prova de Chicago em 2h14min04seg. A marca anterior já durava 16 anos.

Pelo terceiro ano seguido, a São Silvestre terminou sem atletas do Brasil no pódio. 

Os melhores brasileiros foram Daniel Ferreira do Nascimento, 21, no masculino, que ficou em 11º, com o tempo de 46min32s, e Graziele Zarri, 21, no feminino, que também ficou em 11º, com o tempo de 54min56s.

O último atleta do país a vencer a prova foi Marílson Gomes dos Santos, tricampeão da São Silvestre, vitorioso em 2010. Já no feminino, Lucélia Pires, em 2006, foi a última brasileira a conseguir essa façanha.

Sem horário de verão em 2019, a elite feminina largou na avenida Paulista às 7h40. Já a masculina teve início às 8h05. Segundo a organização, 35 mil pessoas se inscreveram na competição.

Confira os resultados abaixo:

Prova masculina

  1. Kibiwott Kandie (Quênia)

    42min59s

  2. Jacob Kiplimo (Uganda)

    43min00s

  3. Titus Ekiru (Quênia)

    43min54s

  4. Geofry Kipchumba (Quênia)

    45min10s

  5. Joseph Panga (Tanzânia)

    45min33s

Prova feminina

  1. Brigid Kosgei (Quênia)

    48min54s

  2. Sheila Chelangat (Quênia)

    50min10s

  3. Tisadik Alem Nigus (Etiópia)

    50min12s

  4. Pauline Kamulu (Quênia)

    50min28s

  5. Delvine Meringor (Quênia)

    50min51s

 
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