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Perdemos para um Brasil maravilhoso, diz italiano que marcou na final de 70

Boninsegna lamenta que técnico não tenha escalado os melhores, como fez Zagallo

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São Paulo

Roberto Boninsegna havia acabado de finalizar sua primeira temporada com a Inter de Milão e curtia suas férias no verão europeu de 1970 quando recebeu uma ligação inesperada.

Era um funcionário da federação italiana de futebol pedindo que o atacante arrumasse suas coisas o mais rápido possível e se apresentasse no aeroporto. Às pressas, Boninsegna estava convocado para disputar a Copa do Mundo.

"A seleção já estava no México e eu estava na Itália, quando alguém da federação me ligou dizendo que eu deveria pegar o primeiro voo. Pietro Anastasi não poderia jogar em razão de uma lesão e a seleção tinha apenas dois atacantes", lembra Boninsegna, hoje com 76 anos, em entrevista à Folha.

A convocação do centroavante não foi surpreendente apenas pelas circunstâncias do chamado, mas pela própria trajetória do jogador, que não estava nos planos do técnico Ferruccio Valcareggi já havia algum tempo.

Boninsegna recebeu sua primeira oportunidade na seleção em novembro de 1967, quando era atleta do Cagliari. Foi em um empate de 2 a 2 contra a Suíça, em Berna, pelas eliminatórias da Eurocopa, sua única partida pela Itália até receber a ligação que o levou ao México.

De casa, assistiu à consquista da Azzurra na Euro em 1968. Na semifinal diante da União Soviética, após empate sem gols, a classificação italiana foi decidida no cara ou coroa.

Nova igualdade na final, contra a Iugoslávia, obrigou as equipes a disputarem uma segunda partida da decisão, que terminou com vitória da Itália por 2 a 0, em Roma, gols de Riva e Anastasi, este cortado do Mundial por uma lesão no testículo que o obrigou a passar por cirurgia.

Roberto Boninsegna, ídolo da Inter de Milão, disputou as Copas do Mundo de 1970 e 1974 pela Itália
Roberto Boninsegna, ídolo da Inter de Milão, disputou as Copas do Mundo de 1970 e 1974 pela Itália - Reprodução/Federação Italiana de Futebol

Com a base campeã da Europa, os italianos ainda teriam o reforço de Boninsegna, que havia marcado 25 gols em 46 atuações em sua primeira temporada com a camisa da Inter de Milão.

Na Copa do Mundo do México, os italianos fizeram uma campanha irregular na fase de grupos. Venceram a Suécia na estreia por 1 a 0 e empataram sem gols os dois jogos seguintes, contra Uruguai e Israrel.

Depois de eliminarem os anfitriões mexicanos no primeiro compromisso do mata-mata com uma vitória por 4 a 1, Boninsegna marcaria seu primeiro gol no Mundial –e também pela seleção– na semifinal contra a Alemanha, considerada até hoje uma das grandes partidas da história das Copas.

O atacante da Inter de Milão abriu o placar aos 8 minutos. Schnellinger empatou aos 45 do segundo tempo, levando para a prorrogação. No tempo extra, os alemães chegaram a virar, mas os italianos marcaram três vezes e conseguiram a classificação à final com o triunfo por 4 a 3.

"No dia seguinte ao jogo com a Alemanha estávamos mortos. O Brasil teve uma semifinal bem mais tranquila", diz Boninsegna.

O quarto gol da Itália diante da Alemanha, que levou a equipe à final no estádio Azteca, foi marcado por Gianni Rivera, ídolo do Milan, mas reserva de Sandro Mazzolla na seleção –ele inclusive substitui Mazzolla no intervalo da semifinal.

Na visão de Boninsegna, escalar um em detrimento do outro foi um dos principais erros do técnico Ferruccio Valcareggi no Mundial. Enquanto isso, do outro lado da decisão, Zagallo conseguiu incluir todos os seus jogadores mais talentosos do meio para frente, com Gerson, Rivellino, Pelé, Jairzinho e Tostão juntos.

"Nosso treinador cometeu alguns erros durante a Copa e alguns jogadores tinham problemas com ele, eu inclusive. Mas nenhum erro foi maior do que deixar Gianni [Rivera] no banco contra o Brasil. Ele seria titular de qualquer seleção daquele Mundial, possivelmente do Brasil também. Nem os brasileiros puderam acreditar também quando viram Gianni no banco. Valcareggi achava que Mazzola e ele não poderiam jogar juntos. Eu achava uma bobagem, mas...", lamenta Boninsegna.

No dia 21 de junho de 1970, Brasil e Itália se enfrentaram no estádio Azteca. Ambos buscavam o tricampeonato e a posse definitiva da taça Jules Rimet.

Aos 18 minutos de jogo, Pelé abriu o placar com um gol de cabeça. Aos 37, a Itália aproveitou erro na saída de bola do Brasil para empatar. Clodoaldo tentou dar um toque de calcanhar na intermediária e foi interceptado por Boninsegna. Félix saiu desesperado do gol e Boninsegna ganhou a dividida com Brito. Sem goleiro, tocou rasteiro para deixar tudo igual.

"Foi um erro de marcação brasileiro e quando vi, a bola estava no meu pé apenas para chutar para o gol vazio​. Meu gol aconteceu no primeiro tempo, quando ainda conseguimos manter um padrão semelhante ao Brasil principalmente na parte física​", lembra o centroavante.

Apesar da reação italiana no fim da etapa inicial, o Brasil se aproveitou do cansaço do rival após uma desgastante semifinal com os alemães. Mais inteiro, o time de Zagallo encaminhou com facilidade a vitória.

Na Copa do Mundo do México, dos 19 gols da equipe, 12 saíram nos últimos 45 minutos, um prêmio à preparação física minuciosa e pioneira planejada pela comissão técnica.

Gerson, em chute de fora da área, Jairzinho e Carlos Alberto Torres —no gol que melhor ilustra o talento individual e coletivo daquela geração– marcaram e confirmaram o triunfo por 4 a 1, que deu à seleção brasileira o tricampeonato mundial.

Herói da semifinal, Gianni Rivera entrou somente aos 39 minutos do segundo tempo, com o placar já marcando 4 a 1 para o Brasil.

Boninsegna foi quem saiu para a entrada do meio-campista, que nada pôde fazer para evitar a derrota italiana e ainda assistiu ao gol de Carlos Alberto. Hoje, aos 76 anos, o ex-atacante segue lamentando que Rivera tenha visto a maior parte da Copa do Mundo do banco de reservas, mas recorda a campanha no México com carinho. Afinal, não era nem para ele estar lá.

"Perdemos a final para uma seleção brasileira que era maravilhosa. Não tenho lembranças ruins, mesmo achando que Rivera poderia fazer a diferença na final. Eu fui chamado quando não esperava. Achei que veria o torneio pela TV e ainda fiz um gol na decisão. Não vou reclamar", completa o italiano.

Carlos Alberto Torres ergue a taça de campeão do mundo após o Brasil golear a Itália por 4 a 1 na final da Copa de 1970
Carlos Alberto Torres ergue a taça de campeão do mundo após o Brasil golear a Itália por 4 a 1 na final da Copa de 1970 - 21.jun.70/Popperfoto/Getty Images
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