Descrição de chapéu Futebol Internacional

Times europeus são criativos para driblar silêncio do futebol na pandemia

Alternativas envolvem sons gravados por torcedores, figuras de papelão e 'drive-in'

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São Paulo

No início da pandemia da Covid-19, quando começou a se discutir a possibilidade de realizar partidas em estádios vazios, houve oposição de técnicos, jogadores e associações de torcedores.

Uma das frases mais citadas foi a do treinador escocês Jock Stein, campeão europeu com o Celtic em 1967: "futebol sem torcida não é nada".

Como se tornou impossível pensar em reiniciar a maioria dos campeonatos com público, surgiram alternativas para que os jogos tenham o mais próximo possível de um clima competitivo, sem o silêncio das arquibancadas desertas.

Entre as principais ligas europeias, alemã e portuguesa já recomeçaram. A espanhola será retomada nesta quinta (11). Inglesa e italiana, na semana que vem.

"Nós desenvolvemos um sistema para que o torcedor possa apoiar sua equipe a distância, e ele pode ser usado pelos clubes não apenas em situações em que o estádio está vazio. Serve também se a capaciade está reduzida", afirma Yuki Seto, do departamento de negócios em nuvem da Yahama.

A companhia japonesa criou o aplicativo "Remote Cheerer" (torcedor remoto, em inglês). É possível mandar gritos de incentivo, músicas ou vaias que serão reproduzidos em 58 caixas de som espalhadas pelo estádio. O app tem um filtro que bloqueia xingamentos e palavras identificadas como preconceituosas.

A Yamaha testa o sistema nas arenas do Jubilo Iwata e do Shimizu S-Pulse, clubes da J-League, o Campeonato Japonês, e afirma negociar com torneios europeus. A aposta deles é que os torcedores não voltarão tão cedo às arquibancadas.

Nos jogos do Campeonato Alemão, a preocupação tem sido tentar passar para quem vê pela televisão um clima de normalidade. Os sons do público são colocados de maneira artificial. A Sky alemã, canal que detém os direitos de transmissão, deixa um técnico de som assistindo à partida e inserindo vaias, cantos e gritos de acordo com o que acontece em campo.

A companhia hack-CARE sugeriu aos clubes o uso do aplicativo My Applause (meu aplauso, em inglês), em que os usuários poderiam transmitir suas reações de acordo com as ações no jogo.

O Borussia Mönchengladbach espalhou imagens de torcedores feitas de papelão e as colocou em cadeiras para que aparecessem na TV e reduzissem a sensação de vazio. É uma ideia que clubes ingleses, como o Brighton, estudam seguir.

Jogadores do Borussia Mönchengladbach fazem saudação para imagens de papelão de torcedores colocadas no estádio
Jogadores do Borussia Mönchengladbach fazem saudação para imagens de papelão de torcedores colocadas no estádio - Martin Meissner-31.mai.20/AFP

A organizadora do Campeonato Espanhol mostrará ao vivo o que promete ser um aprimoramento do pioneirismo alemão na reprodução de sons durante a transmissão das partidas.

A liga espanhola contratou a empresa norueguesa VIZRT, responsável por exibir nas transmissões uma torcida virtual, que ocupará as arquibancadas dos estádios com torcedores digitalizados em escala real e com as cores do time da casa.

A imagem do público virtualizado também abrirá a possibilidade, durante as interrupções do jogo, de exibir mensagens institucionais do clube ou de LaLiga, além de servir como mais um espaço publicitário.

A transmissão espanhola também contará com um pacote de sons que pertence à empresa Electronic Arts, responsável pelo game de futebol Fifa, que captou canções e ruídos dos estádios do país para inclui-los nos games e que estarão à disposição, adaptados ao que acontece dentro de campo em cada momento do jogo, nas transmissões do restante da temporada.

"Você vai ver de forma digital o estádio cheio, com o som ambiente da torcida. O som vai parecer o mais próximo possível de uma partida que é disputada em sua normalidade", diz Alberto Castelló, delegado de LaLiga no Brasil.

É algo que pode ser estendido para a próxima temporada. O inglês Wolverhampton, por exemplo, estuda mostrar vídeos com mensagens de torcedores no túnel e na lateral do campo.

"Nós temos otimismo que os torcedores poderão estar presentes nos estádios na próxima temporada. Mas até lá temos de achar uma maneira de tornar as partidas o mais atrativas possível para quem ver pela televisão", diz Richard Masters, dirigente da Premier League.

Todos os 92 jogos restantes do torneio serão transmitidos. Quatro deles pela BBC. Será a primeira vez na versão moderna do Campeonato Inglês, iniciada em 1992, que jogos serão mostrados ao vivo em TV aberta.

Até que o público retorne aos estádios britânicos, uma proposta foi apresentada pela Beyond 90, empresa de Manchester especializada em festas a céu aberto. Ela propôs a criação de um estúdio para torcedores. Entre 50 e 2.000 deles ficariam no mesmo espaço, observado o distanciamento social, e veriam o jogo juntos. Suas reações seriam mostradas nos telões dos estádios. A ideia ainda não foi adiante.

Nenhuma das principais ligas do continente, porém, foi tão inovadora quanto a dinamarquesa. O líder, FC Midtjylland, colocou dois telões no estacionamento do seu estádio para que os torcedores possam assistir aos jogos sem sair do carro, como num cinema drive-in. Já o Aarhus mostra imagens do público no estádio por meio do aplicativo de conferência Zoom.

Torcedores dentro de carro com bandeiras do time, nas cores laranja e preto, em frente ao veículo
Torcedores do FC Midtjylland assistem a jogo da equipe de seus carros na Dinamarca - Ritzau Scanpix - 1º.jun.20/Mikkel Berg Pederses/Reuters
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