Descrição de chapéu Futebol Feminino

Dérbi feminino decide finalista do Brasileiro e simboliza transformação

Jogo de ida da semifinal do Nacional é marcante para história do clássico Corinthians x Palmeiras

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São Paulo

Palmeiras e Corinthians escreverão neste domingo (8), às 20h, no Allianz Parque, um capítulo simbólico da história do dérbi.

Os rivais fazem o jogo de ida pela semifinal do Campeonato Brasileiro Feminino. A volta será na segunda-feira (16), às 19h, na Neo Química Arena.

Nos principais palcos dos clubes, cercadas de expectativa entre os torcedores e com exibição ao vivo pela Band, as partidas terão visibilidade que nem sempre acompanhou este clássico quando disputado pelas mulheres.

Se a história do dérbi masculino é recheada de registros históricos, o mesmo não acontece com o feminino.

Disputado a partir de 1997, segundo registros dos próprios clubes, o confronto tem várias lacunas em sua história de poucos mais de duas décadas. Quase não há, por exemplo, informações sobre o primeiro jogo entre os rivais, pelo Campeonato Paulista, realizado há 23 anos.

Tamires (centro), do Corinthians, vibra ao marcar contra o Grêmio  
Tamires (centro), do Corinthians, vibra ao marcar contra o Grêmio   - 2.nov.20/Ag. Corinthians

A ex-meio-campista Marcia Tafarel estava em campo com a camisa alvinegra naquele dia, 13 de abril de 1997. Ela se recorda de ter feito o gol da vitória, com uma cobrança de falta, que definiu o placar em 1 a 0. “Eu chutei quase do meio de campo”, afirma à Folha. A memória dela, porém, não vai muito longe.

Marcia tinha dúvidas sobre onde o jogo foi disputado. “Acredito que foi no Ibirapuera”, arrisca. Não seria difícil checar a informação se os clubes ou a Federação Paulista de Futebol tivessem a súmula do duelo. Mas esse registro se perdeu no tempo, assim como as escalações dos times.

A Band, emissora que transmitiu aquele jogo, também não possui mais a gravação. Procurada pela reportagem, disse que detinha apenas os direitos de transmissão e por isso não arquivava os duelos.

O gol e os melhores momentos acabaram se perdendo. Um dos poucos registros do jogo é uma pequena nota do jornal Gazeta Esportiva. “Corinthians pega o Palmeiras” era o título do texto que informava a realização do clássico às 11h15 daquela quinta-feira, no estádio Ícaro de Castro Mello, no Ibirapuera.

Marcia Tafarel (1ª da esq para dir, em pé) e o Corinthians de 1997 
Marcia Tafarel (1ª da esq para dir, em pé) e o Corinthians de 1997  - Arquivo Pessoal

A ex-meio-campista estava correta sobre o local do jogo, mas esse não é um acerto que a deixe feliz. “O fato de essas imagens não terem sido guardadas mostra a invisibilidade que o futebol feminino tinha”, aponta. “Apesar de ter sido transmitido em televisão aberta, existia a falta de respeito com a gente.”

Jovens jogadoras dos atuais elencos de Corinthians e Palmeiras sentem reflexos disso. Artilheira do time alvinegro no Nacional, com sete gols, Giovanna Crivelari, 27, não se lembra de ter visto times femininos na TV durante sua infância. “Acho que só aos 17, 18 anos que eu vi um jogo pela primeira vez na TV, na Rede Vida. Quando era criança, costumava ver jogos do masculino com meu pai e amigos.”

Giovanna se orgulha de fazer parte de uma geração que tem mais visibilidade. “As meninas que sonham em jogar futebol, que se espalham em nós, agora podem nos acompanhar pela TV e sonhar em jogar um dia também.”

Time do Palmeiras que disputou o Campeonato Paulista Feminino em 1997
Time do Palmeiras que disputou o Campeonato Paulista Feminino em 1997 - Arquivo Pessoal

Para a ex-preparadora física Walesca Buceme, que trabalhava no Palmeiras em 1997 e chegou a dirigir o time como interina, as conquistas ainda não afastaram o preconceito no futebol feminino. “Machismo sempre vai ter no futebol. No Brasil e no mundo, a cultura é essa, futebol é coisa para homem.”

Ela, no entanto, diz que vê uma evolução em curso, com transformações puxadas pelo desempenho da seleção brasileira desde o início da trajetória da atacante Marta com a camisa amarela, em 2002. “O sucesso da Marta, com as chuteiras de melhor jogadora do mundo, ajudou o país a repensar o futebol feminino.”

As transformações, contudo, ainda são em um ritmo lento. O próprio Campeonato Brasileiro está apenas em sua sétima edição. Campeão em 2018, o Corinthians busca o segundo título. Já o Palmeiras, que só recentemente voltou a investir no feminino, luta pelo troféu inédito.

A equipe alviverde disputa a elite feminina pela primeira vez, depois de ter conseguido o acesso em 2019, ano em que o time feminino foi reativado após ter sido extinto em 2012.

Esse, portanto, será o primeiro dérbi em um mata-mata do Nacional, oportunidade que motiva a zagueira Augustina, 27. “As expectativas sempre são grandes. Nós vamos enfrentar um dos melhores times do país e realmente é um desafio que nos estimula”, disse a palmeirense.

Ao longo da história, corintianas e palmeirenses se enfrentaram dez vezes, com quatro vitórias palestrinas e seis triunfos alvinegros, segundo os registros dos clubes. Entre esses jogos está a única semifinal de uma competição oficial já disputada pelos rivais, em 2001, quando o Palmeiras ganhou por 4 a 1, na campanha que levou o time ao título.

Jogadoras do Palmeiras comemoram gol contra a Ferroviária, pelas quartas de final do Campeonato Brasileiro Feminino, no Allianz Parque
Jogadoras do Palmeiras comemoram gol contra a Ferroviária, pelas quartas de final do Campeonato Brasileiro Feminino, no Allianz Parque - Fabio Menotti - 28.out.20/ Ag. Palmeiras

Neste ano, na abertura do Nacional, o clube do Parque São Jorge ganhou do rival por 3 a 1, com gols de Grazi, Giovanna e Erika. Carla descontou para o Palmeiras e é, atualmente, a artilheira do torneio, com 12 gols marcados.

Quem avançar desse confronto poderá ter pela frente um novo clássico na decisão, já que na outra chave o São Paulo disputa a semifinal do Brasileiro contra o Avaí-Kindermann. O jogo de ida também será neste domingo, às 18h, na Arena Barueri, com transmissão do perfil @BRFeminino no Twitter. O duelo de volta será no próximo sábado, às 16h, na Ressacada.

Entre as partidas decisivas, corintianas, palmeirenses e são-paulinas também vão dividir atenções com o Campeonato Paulista. O Corinthians lidera o Grupo B, enquanto São Paulo e Palmeiras estão em segundo e terceiro, respectivamente, no torneio.

Erramos: o texto foi alterado

O primeiro clássico do futebol feminino entre Corinthians e Palmeiras foi realizado em 13 de abril de 1997, não em 13 de março desse mesmo ano. O texto foi corrigido.

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