Descrição de chapéu Maradona (1960-2020)

Maradona transforma esquina de bairro rico em local de devoção

Endereço é um dos pontos de peregrinação relacionados ao ídolo em Buenos Aires

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Buenos Aires

Dalma conta que toda vez que entrava em um táxi em Buenos Aires e era reconhecida como filha de Diego Maradona, não precisava nem dizer o destino. "Segurola com Habana?", perguntava o taxista.

Toda a Argentina conhecia o endereço por um simples motivo: o camisa 10 o havia dito na TV, em rede nacional.

Durante jogo do Campeonato Argentino de 1995, ele discutiu com o atacante Toresani, do Colón. Quando soube que o adversário havia dito estar pronto para briga, Maradona o desafiou com frase que se tornou um dos seus clássicos:

"Segurola com Habana, 4310, sétimo piso. Vamos ver se dura 30 segundos comigo", respondeu.

A esquina da avenida Segurola com a rua Habana, em Villa del Parque, um bairro de classe alta a 22 quilômetros do centro da capital, se transformou em um dos mais improváveis locais de devoção a Maradona após sua morte, na última quarta-feira (25).

Segundo moradores da região, centenas de pessoas vão ao cruzamento todos os dias e fazem a região quase sempre tranquila ter um movimento inédito.

"Você precisava ver isso no dia em que Diego morreu. Ninguém na vizinhança dormiu por causa da quantidade de gente e do barulho", disse Florencia Damares, 54, que trabalha em uma das casas do bairro e na tarde de domingo (29) levou um filho para conhecer a esquina.

Os nomes das placas foram substituídos. Habana virou Diego, e Segurola foi trocada por Maradona como homenagem feita pela prefeitura. A identificação da região também foi alterada. De 11 passou para 10.

As placas em homenagem ao ídolo
As placas em homenagem ao ídolo - Alex Sabino/Folhapress

Na entrada do número 4310, prédio de luxo com um apartamento por andar, há restos de cera, resquícios das velas acesas nos dias anteriores. A reportagem tocou o interfone no "sétimo piso", onde morava o craque, mas ninguém respondeu.

Todos os dias, desde a semana passada, alguns pontos de Buenos Aires se tornaram obrigatórios para os fãs que querem prestar homenagens a Diego.

Alguns são mais conhecidos, como os estádios Diego Armando Maradona, do Argentinos Juniors, e a Bombonera, do Boca Juniors. Ambos reservaram espaços para que os torcedores pudessem depositar flores, fotos, camisas e mensagens.

Foi pelo Argentinos que ele começou a carreira profissional, em 1976. O Boca é seu time do coração, onde teve três passagens distintas e depois passou a ser dono da camarote. Seu jogo de despedida, em 1997, foi na Bombonera.

A cinco quadras do estádio da Paternal [bairro do Argentinos Juniors], onde os jogadores entram em campo por um túnel inflável com o rosto de Maradona, está o número 2257 da rua Lascano. Um lado da porta está enegrecido pelo fogo das velas. A porta da casa não pode ser aberta por causa dos tributos colocados.

Esse endereço foi a residência jogador durante a maior parte dos cinco anos em que esteve no Argentinos Juniors. Os visitantes quase sempre tocam a campainha, mas ninguém atende. Desde a morte de Diego, a casa está fechada. Em 2016, o local foi aberto à visitação, mas até a semana passada era uma parte desconhecida do turismo da capital.

"Tudo o que se refere a Maradona terá muita procura a partir de agora. Não apenas pelos turistas, mas pelos portenhos também. Muito pouca gente vinha à Paternal para ver coisas ligadas à vida dele. Agora isso vai mudar. Até os carros viraram atrações", afirma Daniella Fernández, funcionária do Argentinos Juniors que levou um amigo para conhecer o endereço no último sábado (30).

Ela se refere a dois veículos dos anos 1970 que pertenceram ao craque e ficaram estacionados diante da residência, sofrendo as intempéries do tempo. Parte da pintura está gasta, os pneus murcharam e peças parecem ter sido retiradas. Mas não faltam os que querem tirar fotos ao lado dos carros que foram de Maradona.

No lado esquerdo da porta, a Prefeitura de Buenos Aires colocou uma placa identificando aquela como a casa do camisa 10.

As homenagens aconteceram em pontos de outras cidades, como no estádio Marcelo Bielsa, em Rosário, onde Diego atuou pelo Newell's em 1992 e 1993. Também no campo do Gimnasia, em La Plata, onde era técnico até a morte.

"Se alguém quiser percorrer a história de Diego, tem de começar por aqui. Pena que o campo não existe mais. Se existisse, as pessoas estariam indo lá prestar homenagens também", constata Armando Susu, responsável pelo centro cultural de Villa Fiorito, bairro onde Maradona cresceu.

A casa construída por seu pai, hoje em dia abandonada, virou outro local de visitação. Mas o campo de terra batida em que jogava todos os dias e onde foram registradas suas primeiras imagens com a bola nos pés foi invadido por prédios, bem mais humildes do que os da esquina da Segurola com Habana.

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