Stephen Curry é tricampeão da NBA. Eleito o mais valioso jogador da liga norte-americana de basquete em duas temporadas, em uma delas conduziu o Golden State Warriors à melhor campanha da história do torneio, com 73 vitórias e 9 derrotas na fase de classificação.

No atual campeonato, o time californiano sofre para alcançar 50% de aproveitamento, com 31 triunfos em 63 partidas. A briga é apenas pelo décimo lugar da Conferência Oeste. E a versão 2021 de Curry talvez seja a mais impressionante de toda a sua carreira.

Aos 33 anos, o armador já não faz parte de um “supertime”, como foi chamado o Golden State que enfileirou taças entre 2015 e 2018. Sem a ajuda de velhos companheiros, como o lesionado Klay Thompson e o agora rival Kevin Durant, ele carrega a equipe em árdua luta para mantê-la relevante.

Dos principais colegas que o acompanharam na conquista do tri, só Draymond Green continua ao seu lado. Agora rodeado por jovens como o ainda instável James Wiseman, 20, Curry assumiu uma responsabilidade ofensiva maior, e o resultado tem sido espetacular.

Com 31,3 pontos por jogo, ele está empatado com Bradley Beal, do Washington Wizards, no posto de cestinha da temporada. Em abril, sua produção atingiu níveis históricos, sobretudo naquela que é sua especialidade, o tiro de longa distância.

Ninguém nunca havia acertado tantos arremessos de três pontos em um mês. Foram 96 bolas desse tipo convertidas em 15 partidas. Tivesse o craque atuado contra o Toronto Raptors no dia 2, duelo que perdeu com dores nas costas, a marca centenária teria provavelmente sido alcançada.

Nessa sequência, o camisa 30 converteu ao menos dez bolas de três em quatro oportunidades. Ele conseguiu isso outras duas vezes na temporada e um total de 21 na carreira. A título de comparação, o segundo colocado na lista é Klay Thompson, que obteve o feito cinco vezes na vida.

Os números ficam mais impressionantes se levada em conta a ausência nos Warriors de outra força ofensiva capaz de dividir a atenção das defesas. Os adversários enfrentam o Golden State com o claro propósito de impedir os arremessos de Curry, mas têm pouco sucesso.

O armador usa sua enorme habilidade no controle da bola para iludir a marcação. Sua técnica de lançamento é veloz. A precisão é notória mesmo vários metros atrás da linha de três. São fatores que tornam ainda mais complicada a tarefa de freá-lo.

Embora nada disso seja novidade, a fase é excelente até para o elevadíssimo padrão do jogador. E o que passa na cabeça do craque em um momento no qual seu aproveitamento atinge patamar inédito? “Nada.”

“Quando está nesse tipo de ritmo, você não pensa em nada. É simplesmente achar um espaço decente e posicionar os pés. O resto é memória muscular, confiança e criatividade. Então, é ficar entregue ao momento tanto quanto é possível”, explicou Curry.

“Quando você está errando, é aí que começa a pensar na mecânica do arremesso, começa a pensar em outras coisas. Isso entra na cabeça. Mas, quando você está em um fluxo, em um ritmo, não tem muita coisa na mente. É ótimo”, acrescentou.

O atleta acertou 42,6% dos arremessos de três que tentou até aqui na temporada. Ele não é o primeiro colocado na estatística –liderada por Joe Harris, do Brooklyn Nets, com 48,2%–, porém tem um volume de tiros muito maior e cria as próprias oportunidades, diferentemente de Harris.

Stephen Curry tem ainda médias de 5,5 rebotes e 5,8 assistências e é a grande razão de os Warriors estarem vivos no campeonato. Neste ano, as equipes posicionadas entre o sétimo e o décimo lugar de cada conferência disputarão um minicampeonato pelas vagas derradeiras nos mata-matas.

O Golden State hoje está no limite da tábua de classificação para avançar ao minitorneio, chamado de “play-in”. Não é nem de longe o favorito ao título, mas nenhum dos principais candidatos quer ter pela frente o armador, cuja atuação tem inspirado os companheiros.

“Se o que ele está fazendo não o motiva, é melhor se aposentar, porque você provavelmente é frágil. Para ganhar nesta liga, você tem que se importar. E, quando um cara está jogando assim, você deve a ele dar tudo de si para ganhar jogos de basquete”, afirmou Draymond Green.

O chefe também está impressionado. O técnico Steve Kerr, que era um grande arremessador em seus tempos de jogador, não se cansa de elogiar o atleta, embora já lhe faltem palavras para exaltar o trabalho de seu comandado.

“Não tenho mais maneiras de descrever o jogo do Steph. Vou parar de tentar. Volte uns três jogos aí, veja o que eu falei e use meus comentários de novo. Não sei mais o que falar. Mas eu sei que vocês precisam continuar perguntando e eu preciso continuar respondendo”, disse o treinador.

Kerr recordou momentos em que os lendários Michael Jordan e Kobe Bryant também se mostraram imparáveis antes de apontar que nem eles tinham a precisão de Curry: “Ninguém nunca arremessou assim na história do jogo”.

Em seu memorável mês de abril, Curry deixou para trás o próprio Kobe, tornando-se o primeiro atleta com ao menos 33 anos a marcar 30 ou mais pontos em 11 jogos seguidos. Bryant havia atingido os 30 pontos em dez partidas consecutivas, em 2012.

Steph superou ainda outro nome histórico, Wilt Chamberlain, que liderava os Warriors em pontos, com 17.783. Na noite em que ultrapassou o pivô, o armador anotou 53 pontos, atingiu 17.818 e não parou.

Restam nove partidas para o Golden State fechar sua campanha na fase de classificação e proteger a modesta décima colocação. Não é muito para quem se acostumou a atropelar adversários, mas cada arremesso de Curry tem sido necessário na luta pela vaga no pré-mata-mata.