Depois de 13 anos e quase R$ 12 bilhões, City está perto do título da Champions

Time deixou de ser patinho feio de Manchester para se tornar potência europeia

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São Paulo

Há quase 22 anos, em 30 de maio de 1999, a torcida do Manchester City fez uma festa que foi capa de quase todos os jornais ingleses. Com dois gols nos acréscimos, a equipe empatou uma decisão e depois venceu nos pênaltis.

Era o playoff final da terceira divisão do Campeonato Inglês. O adversário era o Gillingham. Era tempo em que os torcedores veneravam o artilheiro bermudenho Shaun Goater e o meia-atacante escocês Paul Dickov.

Pep Guardiola levanta o troféu da Premier League de 2019 ao lado dos jogadores
Pep Guardiola levanta o troféu da Premier League de 2019 ao lado dos jogadores - Toby Melville-12.mai.19/Reuters

Pouco mais de duas décadas mais tarde, equipe está perto do mais importante título de clubes da Europa. Neste sábado (29), às 16h, decide a Champions League contra o Chelsea, no Estádio do Dragão, no Porto, em Portugal, com transmissão da TNT Sports e Facebook.

O final dos anos 1990 era uma época em que os torcedores do rival Manchester United, então campeão continental, gozavam os fãs do City de que o time não ganhava nada, mas pelo menos as torres de iluminação do decrépito estádio de Maine Road, hoje demolido, eram as mais altas da Inglaterra.

Tudo mudou em pouco mais de 20 anos. Se o adversário de cidade não consegue se recuperar da aposentadoria do técnico Sir Alex Ferguson, em 2013, o Manchester City se transformou na principal força do futebol nacional. Venceu três das últimas quatro ligas do país. Mas a cereja do bolo, o objetivo final (principalmente a partir de 2008), sempre foi a Europa.

O troféu de design mais conhecido do futebol mundial se tornou obsessão a partir do momento em que o clube foi comprado há 13 anos pelo Abu Dhabi United Group, do sheik, vice-primeiro ministro e membro da família real dos Emirados Árabes Mansour bin Zayed. Dizer que o City ganhou na loteria seria pouco.

O time passou a pertencer, basicamente, a um país e o dinheiro estava disponível a fundo perdido. O principal patrocinador é a companhia aérea Etihad Airways, que também tem ligações com a família real do país.

Essa foi uma das razões para a Uefa chegar a suspender o City de suas competições em 2020, por ter, supostamente, violado o Fair Play Financeiro. Regra implementada para que nenhuma agremiação gaste mais do que arrecada. A punição depois foi revertida.

Desde a chegada do novo dono, o Manchester City contratou 107 jogadores. Gastou 1,98 bilhão de euros (R$ 12,6 bilhões pela cotação atual) em reforços em 13 anos.

A primeira grande aquisição dos novos donos foi Robinho, em 2008. O City foi o único time a aceitar o valor pedido pelo Real Madrid (43 milhões de euros ou R$ 274 milhões em valores atuais) quando o atacante fazia de tudo para ir para o Chelsea. Ao ser avisado de que jogaria em Manchester, ele pensou se tratar do United. Nem sabia que existiam dois times na cidade inglesa.

Ter dinheiro a rodo possibilitou contratar os jogadores que mudaram a história do clube, mas também proporcionou gastos que, em perspectiva, hoje em dia chamariam a atenção.

Foram 24 milhões de euros (R$ 152 mi em valores atuais ) pelo brasileiro Jô e 6,4 mi de euros pelo zagueiro israelense Tal Ben Haim (R$ 40,7 mi em valores atuais ). O clube pagou 15 milhões de euros (R$ 95,5 mi em valores atuais ) pelo volante inglês Jack Rodwell e 32 mi pelo atacante marfinense Wilfred Bony (R$ 204 mi em valores atuais ).

Com o passar dos anos, o City começou a acertar onde colocar seus petrodólares. As três aquisições mais importantes da história da agremiação foram realizadas em 2010 e 2011. Yayá Touré, David Silva e Sergio Aguero foram três nomes que fizeram o lado azul de Manchester sair da sombra da parte vermelha representada pelo United.

A recompensa veio em 2012, quando Aguero fez o agônico gol, aos 48 do 2º tempo, que deu ao clube o primeiro título inglês depois de 44 anos.

Foi um momento de afirmação, o instante em que o time deixou de ser apenas o “vizinho barulhento”, como definiu Ferguson depois que o City tirou do United outro argentino, Carlos Tevez.

Provocadora, a diretoria comemorou a aquisição com um outdoor no shopping Arndale, o mais movimentado da cidade, em que a foto do jogador tinha a frase “bem-vindo a Manchester”, uma gozação de que o distrito de Trafford, onde fica o estádio do rival, na verdade não seria Manchester.

O time foi campeão inglês com o italiano Roberto Mancini e o chileno Manuel Pellegrini, mas os insucessos na Europa abriram a porta pela busca do técnico ideal. Este chegou em 2016: Pep Guardiola. Desde então, são oito títulos em cinco anos. Além dos três campeonatos nacionais, foram quatro Copas da Liga (2018, 2019, 2020 e 2021) e a Copa da Inglaterra de 2019.

Mais do que isso, Guardiola identificou as posições e os jogadores necessários para fazer o City se aproximar, a cada ano, do troféu europeu. Depois de sua primeira temporada, em que terminou de mãos abanando, ele percebeu que precisava “reformular o sistema defensivo do elenco”. Chegaram Ederson, Mendy, Walker, Danilo e Laporte. O custo total foi de 245 milhões de euros (R$ 1,5 bi em valores atuais ).

Mas o catalão também revolucionou a carreira de atletas como Ilkay Gundogan e Kevin De Bruyne, este último que já se torna um dos favoritos a ser eleito melhor do mundo no final do ano, principalmente se o City derrotar o Chelsea neste sábado. Também percebeu o momento certo de dar chance ao meia inglês Phil Foden, um dos melhores jogadores europeus na temporada.

A vitória na Champions terá um sabor especial também para o treinador. Não será a primeira. Ele já conquistou o torneio em 2009 e 2011, mas agora o ganhará longe do Barcelona, o clube que o revelou como jogador e pelo qual explodiu no mundo do futebol como técnico.

Será também uma festa que vai começar em Manchester e terminar a 7.400 km de distância, em Abu Dhabi.

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