Descrição de chapéu Tóquio 2020

Caçula em Tóquio, Rayssa tem mãe ao seu lado e disputará medalha no skate

Atleta de 13 anos tenta equilibrar brincadeiras com responsabilidade sobre rodinhas

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Tóquio

Atleta mais nova do Brasil na história dos Jogos Olímpicos, a skatista Rayssa Leal, 13, não demorou para demonstrar seu carisma em Tóquio.

Nos últimos dias, uma foto sua sobre o skate na escada rolante do aeroporto da capital japonesa virou a mais curtida do perfil do Time Brasil no Instagram desde a chegada dos atletas ao país.

A maranhense também criou uma conta oficial no Twitter e foi “recebida” pelos fãs da última campeã do BBB, Juliette, e de outros famosos.

Viralizar não é novidade para a adolescente. Aos seis anos, ela ganhou projeção nas redes sociais ao acertar manobras nas ruas de Imperatriz (MA) vestida com uma fantasia da personagem Sininho, que lhe rendeu o apelido de Fadinha —muitos a conhecem assim até hoje.

Mas Rayssa, 1,47 m de altura e 35 kg, não está a passeio no Japão. Segunda colocada no ranking da World Skate, a atleta chega à estreia olímpica do esporte com chances de subir ao pódio na categoria street, que será disputada a partir das 21h, no horário de Brasília, deste domingo (25).

Ela e suas compatriotas Pâmela Rosa, 22, e Leticia Bufoni, 28, terão as representantes japonesas Aori Nishimura, Momiji Nishiya e Funa Nakayama como principais concorrentes à conquista de medalhas.

Diferentemente do que ocorre em outros esportes, a federação internacional de skate não estabeleceu uma idade mínima para a participação olímpica. A britânica Sky Brown, também de 13 anos e que compete na categoria park, é meses mais nova que a brasileira.

Já se discute a possibilidade de um limite etário para Paris-2024. Em Tóquio, mesmo com as restrições impostas pela pandemia de Covid-19, Rayssa teve a presença de sua mãe autorizada dentro da Vila Olímpica. Lilian Mendes Rodrigues Leal frequenta o local durante o dia, mas dorme num hotel próximo da residência oficial. No quarto com a atleta fica a chefe de equipe do skate, Tatiana Lobo.

“Estamos muito felizes por essa conquista da Rayssa. Tanto eu quanto o pai dela e os irmãos estamos ansiosos. Poder estar ao lado dela, mais próxima neste momento, é gratificante. O dia da prova certamente será muito emocionante”, diz Lilian à Folha.

Rayssa brinca que a mãe também atua como treinadora, de tanto que já a acompanhou nas competições. “Ela sabe mais do que eu o que estou errando, as manobras que preciso aprender, as notas. Fico admirada, porque ela não anda de skate e aprendeu muito rapidamente.”

Lilian confirma que já adquiriu certa bagagem. “Desde o início eu acompanho a Rayssa, não apenas nas competições, mas também nos treinos. Por isso, eu acabei aprendendo bastante sobre o skate e passei a me interessar sobre os detalhes técnicos para, de alguma forma, poder ajudá-la.”

Vice-campeã mundial em 2019, Rayssa costuma definir sua relação com o esporte como uma “brincadeira com responsabilidade” e reconhece que a participação nos Jogos poderá ser um divisor de águas.

Rayssa, com camiseta branca com detalhes coloridos e touca verde, sorri
Rayssa Leal com o uniforme que usará nos Jogos de Tóquio em gravação de campanha da Nike, sua patrocinadora - Gabriel Bianchini/Nike

“É meio estranho do nada poder quebrar vários recordes e quem sabe ser a mais nova a ganhar o ouro. Vou dar o meu melhor para isso acontecer e deixar todos os brasileiros muito orgulhosos”, diz.

O pai, Haroldo, também se surpreende com a velocidade das mudanças pelas quais a filha vem passando, principalmente desde o começo da pandemia. “A Rayssa está crescendo e, nesse pouco mais de um ano, mostrou que isso está acontecendo muito rapidamente! Ela amadureceu no skate, porque está mais focada. Já não é mais aquela menina de seis anos que viralizou andando com uma fantasia. Agora ela é a Rayssa Leal, atleta olímpica que vai representar o Brasil nos Jogos de Tóquio”, afirma.

Os pais defendem a importância de que, além do sucesso esportivo, a adolescente não deixe de viver outras experiências fundamentais para o seu desenvolvimento. “Conversamos muito para entender se ela realmente se diverte praticando o esporte, porque isso tem que vir em primeiro lugar”, afirma Haroldo.

Moradora de Imperatriz, Rayssa alterna a agenda de eventos esportivos e comerciais com atividades rotineiras para uma menina da sua idade. Na escola —com aulas virtuais na pandemia—, a disciplina preferida é geografia. Faz todo o sentido para quem já rodou o mundo devido ao skate e se diverte ao compartilhar o que viu nas viagens. “Nos livros aparece o Vaticano, o Coliseu, e eu falo: ‘Ó, tia, já fui lá’.”

Rayssa sofreu a primeira lesão mais séria de sua vida neste ano. Machucou o pé e precisou ficar algumas semanas de molho. Sobre a experiência, fala como se estivesse num jogo de videogame, um dos seus passatempos preferidos. “Foi meio triste, queria ficar andando e treinando com as minhas amigas, mas foi uma coisa nova, um novo nível desbloqueado.” Outra dificuldade, a pandemia, atrapalhou os treinos, mas uma pista construída na casa da avó a ajudou a se manter ativa.

Independentemente do resultado em Tóquio, Rayssa tem na cabeça que pretende andar de skate por muitos anos. Após fazer com que suas amigas passassem a acompanhar o esporte, ela deseja ver mais garotas skatistas no Brasil. Também pretende morar em Los Angeles, mas só quando terminar os estudos.

“Quero quebrar o preconceito de que a maioria dos esportes é para menino e meninas não têm de estar lá."

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