Descrição de chapéu Tóquio 2020

Exemplo de Rogério Sampaio serve como combustível para seleção de judô

Atletas se queixam de previsões pessimistas, e atual cartola lembra da própria história

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Tóquio

Na edição de 1º de agosto de 1992, último dia das competições de judô nas Olimpíadas de Barcelona, a Folha publicou nota para informar que os brasileiros Rogério Sampaio e Patrícia Bevilacqua competiriam naquela data. “Os dois não têm chance de medalha”, finalizava o texto.

Horas depois, Sampaio aplicava no húngaro József Csák um waza-ri, o segundo golpe mais importante da modalidade, para conquistar o ouro. Vinte e nove anos depois, Sampaio, atual diretor-geral do COB (Comitê Olímpico do Brasil), ouviu previsões parecidas, mas talvez não tão dramáticas, sobre as perspectivas da equipe masculina de judô em Tóquio. Assim como fez em 1992, não deu nenhuma importância a elas.

“Não interessa muito o que dizem os especialistas. Cada atleta que chega a uma Olimpíada tem a sua história. Todos os integrantes da seleção brasileira têm chances de medalha. Eu acredito nisso”, afirma.

Não foi apenas Sampaio quem ouviu comentários do tipo. Judocas classificados para os Jogos também se referiram, em entrevistas à Folha, a análises sobre as chances de pódio no torneio que começa no Budokan nesta sexta (23). “A gente escuta comentários de que não vamos conquistar medalhas, mas sempre penso na minha trajetória e na dos atletas do Brasil. E vejo que todos têm condições para subir ao pódio”, diz Daniel Cargnin, atleta da Sogipa, que vai lutar em Tóquio na categoria meio-leve, até 66 kg.

“É... A gente ouve, mas não dá atenção. Estou pensando só na competição, focado só nisso”, afirma Rafael Buzacarini, do Clube Paineiras do Morumby, classificado para o meio-pesado (até 100 kg).

Rafael Buzacarini é um dos representantes brasileiros do judô em Tóquio
Rafael Buzacarini é um dos representantes brasileiros do judô em Tóquio - Bruno Santos - 16.jun.2021/ Folhapress

Se existe a irritação, eles e outros judocas não deixam transparecer. Ao contrário, usam previsões pessimistas como motivação. “Você escuta ou lê algo de que não gosta, mas Olimpíadas são Olimpíadas. A gente vê muitos casos de atletas de ranking baixo que vão lá e ganham ouro. É uma luta. Quando você acorda no seu dia, ninguém segura. Eu pego isso como motivação. Se estão achando que não, eu vou provar que sim”, diz Rafael Macedo, também da Sogipa, que vai competir no peso médio (até 90 kg).

O “acordar no seu dia” serve para definir o que aconteceu com Sampaio naquele início de agosto de 1992. Ele definiu suas três primeiras lutas por ippon, o golpe mais decisivo do esporte, e, assim, poupou energias para a semifinal e a final. Algo inesperado inclusive para funcionários da Confederação Brasileira de Judô que, um dia antes, diziam que o atleta não tinha chance.

“Em 1992, embora alguns especialistas não enxergassem assim, eu acreditava estar entre os cinco melhores judocas da minha categoria [até 65 kg]. Eu treinava muito. Sabia da minha capacidade. Eu já conhecia o lutador contra o qual fiz a semifinal [o alemão Udo Quellmalz], já havia lutado duas vezes contra ele e ganhado uma. Sabia que tinha condições de vencer”, lembra ele.

Rogério Sampaio com a medalha de ouro conquistada em Barcelona-1992
Rogério Sampaio com a medalha de ouro conquistada em Barcelona-1992 - Rogério Sampaio no Facebook

O judô é um dos esportes em que o Brasil conquista medalhas com maior regularidade. A última vez em que o país passou em branco na modalidade foi em Moscou-1980. Depois disso foram 21 pódios.

O masculino, alvo maior da descrença sentida por alguns atletas, ganhou dois ouros, três pratas e 11 bronzes. A última medalha dourada foi a de Sampaio, em 1992. Já o feminino teve dois ouros e quatro bronzes, mas as mulheres passaram a competir apenas em Barcelona.

Na Rio-2016, o melhor resultado foi de Rafaela Silva, ouro na categoria até 57 kg.

Sampaio usa o próprio exemplo para dizer que quem não vê o potencial da atual seleção masculina é porque não tem as informações necessárias. “Fiquei afastado do judô por dois anos e meio, de outubro de 1989 a janeiro de 1992, mas sempre me vi entre os melhores do mundo. Talvez outras pessoas não enxergassem da mesma maneira. Acreditava que lutaria de igual para igual com qualquer um, e é o mesmo que vale agora para a seleção. Eles podem acreditar [em medalhas]. É possível e é viável”, finaliza.

O último medalhista de ouro do judô masculino brasileiro em Olimpíadas discorre sobre as memórias com calma, sem nenhuma raiva. “Nós temos de encarar tudo como um combustível. Porque sabemos que pode dar tudo muito certo. São poucos os que conseguem uma Olimpíada. Muita gente boa fica pelo caminho”, lembra Eduardo Katsuhiro (categoria até 73 kg), do Clube Paineiras do Morumby.

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