Descrição de chapéu Tóquio 2020

Game de Tony Hawk foi crucial para popularizar cultura do skate no Brasil

Lançado nove anos antes de Rayssa Leal nascer, jogo ainda mantém impacto cultural

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São Paulo

Tony Hawk deu sua benção à skatista brasileira Rayssa “Fadinha” Leal pouco antes de a atleta de 13 anos faturar a medalha de prata na categoria street das Olimpíadas.

O skatista veterano também tem um segundo lugar de destaque, mas nas pistas virtuais. “Tony Hawk's Pro Skater 2” é o segundo melhor game de todos os tempos e só fica atrás de “The Legend of Zelda: Ocarina of Time”, de acordo com o agregador de resenhas Metacritic, referência na indústria.

O primeiro jogo “Tony Hawk” foi lançado em 1999 —portanto, nove anos antes de a Fadinha nascer. O impacto cultural do game permanece. Os jogos de Tony Hawk se destacaram pelos controles responsivos e originalidade da proposta. Basta apertar alguns botões no tempo certo para fazer manobras que custariam alguns hematomas no half-pipe de cimento.

Além disso, introduz segredos e metas típicas de videogame, como a coleta de itens espalhados em cenários icônicos. O mais notório é “Warehouse”, um armazém abandonado cheio de obstáculos e grafite nas paredes. Logo no início era preciso quebrar uma vidraça.

Cultura marginalizada e de nicho na época em que o termo “tribo urbana” não era cringe, os jogos foram um canal de disseminação do skate. “Tony Hawk’s Pro Skater” ajudou a comunidade a dar nome a manobras, pegadas, drops, entre outros movimentos e momentos da prática. Entre os vários tipos de flips, sedimentou uma linguagem comum.

Também em aspectos periféricos ao esporte, como atitude, roupas e música. Para os jogadores, a faixa de ska punk “Superman” da banda Goldfinger é boa, mas fica melhor com o ruído das rodinhas no asfalto ao fundo.

O game de “Toninho”, como a Fadinha o chamou, não foi o primeiro. A Sega já tinha lançado “Top Skater” anos antes. Mas o fato de ter um ídolo do esporte na capa ajudou a disseminar o título.

Trata-se de uma prática implementada pela Electronic Arts (EA) desde “John Madden Football”. Nos anos 1980, o ex-técnico de futebol americano foi mais que garoto-propaganda, agiu como consultor diante de programadores que entendiam pouco do esporte. Hawk também não se limitou a ceder seu nome. Participou ativamente do jogo, fazendo inclusive a captura de movimento usada no jogo.

De carona com a popularização dos X-Games nos canais a cabo, “Tony Hawk Pro Skater” se popularizou no planeta, virou uma franquia bilionária. No Brasil, o momento foi especialmente oportuno.

Com a disseminação dos CDs e a inflação controlada, a pirataria comia solta. A banca do camelô era mais acessível que o Netflix e o Game Pass. Uns trocados bastavam para adquirir os jogos de PlayStation mais relevantes da época.

A Activision, publicadora da série, lançou no ano passado “Tony Hawk's Pro Skater 1 + 2”, um pacote com versões remasterizadas dos jogos originais para PlayStation, Xbox, Switch e PCs.

O anúncio do jogo mobilizou os brasileiros. As redes sociais foram tomadas por pedidos de inclusão do skatista e vocalista da banda Charlie Brown Jr., Chorão (1970-2013), no game.

Os desenvolvedores ouviram as reivindicações e colocaram a canção “Confisco” (“Dez horas da manhã a campainha tocou / O oficial de justiça logo ele avistou”), somando assim outro histórico disseminador da cultura skater no Brasil ao game.

Com sua forte influência no Brasil, os games “Tony Hawk” podem ter indiretamente contribuído para a superação do próprio Toninho.

Se a Fadinha gravou seu nome na Tóquio-2020 ao se tornar a mais jovem medalhista olímpica do Brasil, há alguns dias outro prodígio brasileiro fez história nos X-Games, a olimpíada dos esportes radicais.

Gui Khury, de apenas 12 anos, foi o primeiro a acertar um giro de 1080º (manobra de três voltas completas) em uma competição de vertical. Ganhou ouro e superou Toninho, que estava participando da prova.

Tony Hawk foi o primeiro a conseguir a manobra de 900° nos X-Games, em 1999, mesmo ano em que lançou seu jogo.

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