Descrição de chapéu Tóquio 2020

Lenda do futebol local, brasileiro Ruy Ramos é tietado em Tóquio: 'Ser ídolo no Japão é assim'

Ex-jogador da seleção japonesa comprou lembranças para jogadores do Time Brasil

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Tóquio

Lenda do futebol japonês e da seleção local, um brasileiro decidiu visitar nesta quarta-feira (28) o mercado do templo budista mais famoso de Tóquio, o Sensoji (região de Asakusa), para comprar souvenirs e presentear os jogadores da equipe brasileira masculina de futebol que disputam as Olimpíadas.

Naturalizado japonês há mais de 30 anos, Ruy Ramos, 64 de idade e 44 de Japão, achou que não haveria muita gente no templo, muito menos imprensa.

A cidade, em razão da pandemia da Covid-19, está sem receber turistas e em estado de emergência, o que diminuiu a circulação dos moradores em uma das áreas mais turísticas da anfitriã dos Jogos Olímpicos.

O ex-jogador, camisa 10 da seleção japonesa, não teve sossego. Às vezes destampando o nariz, a máscara até escondia um pouco o rosto, mas os cabelos mais longos, que ele mantém desde os tempos de camisa 10 do Verdy Kawasaki, revelaram sua identidade.

Um dos jogadores mais idolatrados do país, Ramos sugeriu que a entrevista à Folha fosse dada com ele andando para não despertar muita atenção.

“Eu não vinha aqui havia 12 anos porque não consigo parar para comprar. Ser ídolo no Japão é assim. O povo não tem memória curta como no Brasil. Estive na seleção japonesa, briguei por eles, e eles reconhecem”, diz.

Ex-jogador Ruy Ramos visita templo Sensoji, em Tóquio, nesta quarta-feira, onde foi comprar souvernirs para jogadores da seleção brasileira olímpica - Leandro Colon

Nascido de família pobre em Mendes (RJ), ele chegou ao Japão em março de 1977 para ficar dois anos e nunca mais foi embora.

Foram cinco títulos nacionais, um continental asiático por clube e outro (Copa da Ásia) pela seleção japonesa, na qual jogou por cinco anos (1990 a 1995). Atuou até os 41 anos, quando se aposentou, em 1998.

Hoje vive de palestras e dá seu nome a quadras de escolinhas de futebol pelo país. “Eu viajo o país inteiro para dizer para as pessoas não desistirem de seus sonhos”. Aventurou-se, por um período, a dirigir a seleção de futebol de areia do Japão.

Ele contou que o ex-jogador Branco, coordenador da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o convidou a visitar a seleção brasileira masculina que disputa as Olimpíadas.

Foi aí que decidiu dar um pulo no famoso mercado de Asakusa para comprar souvenirs locais. Lamenta não poder assistir às partidas nos estádios.

“Podia ter pedido para a federação uma brechinha, mas não forcei a barra para não dizerem ‘o Ramos e outros não?' Preciso ser coerente”.

Segundo o ex-jogador, há um sentimento de preocupação dos japoneses com as Olimpíadas, por causa da pandemia, mas também de frustração porque o país preparou-se para receber turistas e mostrar sua cultura ao mundo.

“O pessoal sente, porque todos estavam esperando mostrar a beleza do Japão, um país tão bonito, até porque muita gente não tem oportunidade de vir para cá, é fora de mão. Seria a grande chance”, diz.

Vacinado contra a Covid-19 com duas doses, ele afirma que o governo japonês demorou a reagir à crise sanitária, inclusive no processo de vacinação da população, mesmo ciente de que, apesar das pressões, as Olimpíadas não seriam canceladas.

“Senti que eles demoraram muito a agir, e as coisas foram ficando ruins. Já que ia ter, todo mundo tem que se unir e tomar seus cuidados”, afirma.

“O Japão é lento em algumas coisas. Muita gente foi contra aos Jogos, mas a partir do momento em que estão sendo realizados, temos que torcer para dar certo.”

Segundo ele, os canais de televisão locais fazem uma cobertura a favor do evento esportivo.

Ramos aponta problemas internos, mas defende o rigor de planejamento e organização do país. “As Olimpíadas só ocorreram porque são no Japão. Em outro lugar, não teríamos, não haveria condições”, diz o ídolo japonês.

Ruy Ramos é tietado por japoneses no templo Sensoji, em Tóquio. Ele jogou cinco anos na seleção japonesa (1990 a 1995) - Leandro Colon

O ex-jogador viveu a transição do futebol japonês dos anos 1980 para 1990, quando o profissionalismo se fortaleceu, e a liga local ganhou prestígio no mercado mundial.

Ramos divide com Zico e Alcindo o pódio de brasileiros idolatrados pelos japoneses –no caso de Ramos, com a diferença de ter se naturalizado e jogado pela seleção nacional.

Pai de dois filhos e dois netos japoneses, ele diz que não há qualquer plano de um dia retornar ao Brasil. “O Japão é um país com segurança incrível e sabe reconhecer o que você fez."

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