A nadadora Becca Meyers, dos EUA, anunciou que não disputará a Paraolimpíada após o comitê organizador dos Jogos de Tóquio negar um pedido para levar a própria mãe como cuidadora.
Becca tem deficiência auditiva e visual e era uma aposta de medalhas em quatro provas. Em 2016, chegou a conquistar três ouros e uma prata. Devido à recusa, no entanto, decidiu não viajar ao Japão.
Em 2016, no Rio, a atleta teve de parar de comer na Vila Olímpica por não conseguir encontrar o refeitório, algo que só mudou com a chegada e a ajuda dos pais. Por isso, desde 2017, ela tem um acordo com o comitê dos EUA: Maria, mãe de Becca, viaja com ela como cuidadora pessoal.
"Ninguém nunca me perguntou o que eu preciso. Ninguém nunca me fez essa pergunta. Quando tivemos uma reunião em maio para discutir isso, apresentei o meu caso e perguntei: 'Como faremos isso funcionar?'. E eles falaram por cima de mim. Dispensaram-me. Disseram: 'Isso é o que nós temos; você vai ter que lidar com isso'", contou ela em entrevista ao jornal americano The Washington Post.
Becca nasceu com a síndrome de Usher e, por isso, é surda desde o nascimento. Sua visão também diminui progressivamente, o que fez com que ela mudasse de categoria nos Jogos, já que as provas são definidas com base na deficiência do atleta. "Ela estava apavorada de ter que ir sozinha. E quando digo apavorada, é deitada em posição fetal, tremendo", lamentou Maria, a mãe da atleta.
Becca obteve ótimos resultados desde 2017. No ano seguinte, conquistou cinco ouros no torneio Pan-Pacífico de Paranatação, além de quatro medalhas e dois recordes mundiais no Campeonato Mundial.
Segundo a família de Becca, a decisão foi informada pelo comitê dos EUA, que teve de acatar determinação do comitê organizador e reduzir as equipes dos atletas devido às restrições causadas pela pandemia da Covid. Assim, a equipe de paranatação americana terá apenas um cuidador para os 34 atletas nos Jogos, e os seis técnicos também terão que auxiliar os competidores com as suas necessidades pessoais. Becca era a única que tem deficiência visual e auditiva no grupo.
"Essas são as Paraolimpíadas. Deveríamos estar celebrando as deficiências de todos. Quebramos barreiras na sociedade. E é assim que eles nos tratam? Como um fardo para o time?", lamentou ela.
A nadadora usa aparelhos auditivos, mas em situações em que há multidões ou sons muito altos apoia-se na leitura labial. Durante a pandemia, com o uso de máscaras, até essa alternativa foi prejudicada.
"Tem sido muito difícil. Mas agora tenho que ser forte e dizer 'chega'. Preciso proteger as pessoas mais novas. Eu tenho que fazer algo para forçar uma mudança."
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