Há dois anos, Allyson Felix teve uma gravidez cheia de complicações, que colocou em risco sua vida e a de Camryn, sua filha. Ela passou um tempo sem conseguir andar e ganhou bastante peso após a cirurgia de emergência. E, em Tóquio, aos 35 anos, conseguiu ultrapassar o conterrâneo Carl Lewis e se tornou o esportista dos Estados Unidos, entre homens e mulheres, com mais medalhas no atletismo olímpico.
No Japão, ela levou um ouro ao subir no seu 11º pódio, no revezamento 4 x 400 m, na manhã brasileira de sábado (7). Junto com sua equipe, superou as polonesas (prata) e as jamaicanas (bronze).
Na véspera, Felix obteve sua melhor marca nos 400 m desde 2015.
Os 49s46 que ela levou para fazer a volta na pista do Estádio Nacional a colocaram em um surpreendente terceiro lugar. O bronze havia feito da norte-americana a mulher com mais medalhas no atletismo na história dos Jogos Olímpicos. Com dez, ela deixou para trás a jamaicana Merlene Ottey.
Então veio o ouro, e o recorde entre os dois gêneros.
“Parabéns, Allyson Felix. Ter 35 anos nunca pareceu tão bom”, escreveu Lewis quando ela ganhou o bronze, apostando que seu recorde também seria quebrado. “Que carreira e que inspiração! Agora, para o revezamento!”, acrescentou o ex-atleta de 60 anos, que acumulou nove ouros e uma prata nos Jogos de 1984, 1988, 1992 e 1996.
Um dia depois, a liderança estava com ela.
Felix chegou a Tóquio com seis ouros e três pratas, mas jura que não tinha a medalha como principal objetivo. “Soa como um clichê, mas acho honestamente que é mais do que correr para mim. Não fico muito presa nessa coisa de ganhar mais medalhas. A maior coisa para mim foi ter voltado”, afirmou.
“Mais cedo, eu estava revendo algumas gravações que fizemos quando eu estava no hospital com a Cammy. O trilho para recuperação teve momentos muito, muito difíceis, e foi nisso que pensei. Claro que eu sempre corro para o ouro, mas eu só queria sentir alegria, independentemente do que acontecesse na pista”, acrescentou.
Classificada com o sétimo tempo, ela não entrou na final como uma das favoritas, mas conseguiu surpreender. Se não foi possível acompanhar o ritmo de Shaunae Miller-Uibo, das Bahamas, ou buscar a dominicana Marileidy Paulino, Felix travou ótimo duelo com a jamaicana Stephenie Ann McPherson pelo bronze.
A norte-americana estava atrás nesse confronto, porém apertou o ritmo nos 50 metros finais e conseguiu a marca de 49s46 que não alcançava fazia tempo. Ficou 0s15 à frente de McPherson, ultrapassada nas últimas passadas.
Felix era a veterana do time na prova de revezamento. Também penduraram o ouro no pescoço Sydney McLaughlin, 22, Dalilah Muhammad, 31, e Athing Mu, 19.
Assim que a corrida acabou, o quarteto se reuniu e orou na pista. Em seguida, as atletas posaram para fotos com a bandeira americana.
As primeiras semanas de Cammy, a bebê da medalhista, foram passadas numa unidade de terapia intensiva neonatal. Felix tinha medo de não conseguir recuperar o fôlego para voltar às pistas olímpicas.
Em 2019, quando a filha tinha seis meses, a corredora participou de uma audiência pública no Capitólio para falar sobre as disparidades raciais nos índices de saúde e mortalidade materna.
Disse não acreditar que mulheres morriam no parto, não atletas profissionais como ela, em bons hospitais do país. No fim da gravidez, ela descobriu ter pré-eclampsia grave, uma condição que pode ser fatal para mãe e feto.
Foi quando descobriu que mulheres negras morriam três vezes mais do que brancas ao dar à luz.
Após receber seu ouro, dois anos depois, disse sentir que "estou absolutamente onde eu deveria estar".
VEJA TODAS AS MEDALHAS E OS TEMPOS DE ALLYSON FELIX
Tóquio 2020 (2)
ouro no revezamento 4 x 400 m (3min16s85)
bronze nos 400 m (49s46)
Rio 2016 (3)
ouro no revezamento 4 x 100 m (41s01)
ouro no revezamento 4 x 400 m (3min19s06)
prata nos 400 m (49s51)
Londres 2012 (3)
ouro no revezamento 4 x 100 m (40s82)
ouro no revezamento 4 x 400 m (3min16s87)
ouro nos 200 m (21s88)
Pequim 2008 (2)
ouro no revezamento 4 x 400 m (3min18s54)
prata nos 200 m (21s93)
Atenas 2004 (1)
prata nos 200 m (22s18)
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.