Descrição de chapéu Tóquio 2020 atletismo

Por atletismo e Olimpíadas, Tiffani abandonou projeto de ser analista de petróleo

Atleta brasileira dos 400 m teve dificuldade em convencer os pais sobre futuro no esporte

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tóquio

No que dependesse de Fabiano Marinho, Tiffani trabalharia hoje em dia com análise de petróleo em uma plataforma marítima. Foi para isso que a filha começou curso técnico em química.

Iniciou, mas não terminou. Chegou um momento em que o atletismo ficou tão sério que a garota começou a ter de contrariar os pais. Deixar o curso, sair de escola particular e ir para outra, pública, mas com horário noturno. Sair de Duque de Caxias aos 18 anos para morar em Campinas, interior de São Paulo.

Às 22h desta segunda-feira (2), ao alinhar para a largada nas qualificatórias dos 400 m, no Estádio Olímpico de Tóquio, Tiffani Marinho, 22, vai provar que estava certa.

“Meu pai é petroleiro. O sonho dele era que eu trabalhasse embarcado naquelas plataformas. Tinha uma moça que trabalhava lá e era química, analisava petróleo. Ele queria que eu fosse aquilo”, relembra.

 Tiffani Marinho integra a equipe de atletismo do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio
Tiffani Marinho integra a equipe de atletismo do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio - Lucy Nicholson - 30.jul.2021

Enquanto não encontrava sua vocação, a adolescente aceitou. Também se matriculou no curso de técnica em veterinária, conciliava tudo com aulas de inglês. Até que apareceu um professor na sala de aula perguntando quem queria participar de uma competição de atletismo.

“Eu queria estar presente em tudo. Nem sabia o que era atletismo. Mas se tinha um evento, queria estar nele”, completa, para rir em seguida com a constatação de que está agora no maior evento esportivo de todos.

Para chegar a Tóquio, ela entrou pelo sistema de pontos conquistados em torneios durante a última temporada e foi convocada pela CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo). O índice olímpico para a prova era de 51s35. Sua melhor marca desde o início de 2020 foi 52s44, obtido em Roma, na Itália.
No Mundial de Doha, no Qatar, em 2019, ela fez 51s96.

“Eu não sei nem o que falar da Olimpíada. É tão sonho, é tão louco... Realmente não tenho palavras”, admite a atleta.

Nem sua mãe, Bianca, as encontra para descrever o que significa ver a filha nos Jogos. Segundo Tiffani, quando os vizinhos perguntam, ela chora.

A corredora admite que, ainda que os pais não quisessem que ela largasse tudo por causa do atletismo, deram apoio no início.

“Eles sempre foram liberais, sempre fiz o que eu quis, dentro das regras de casa. Se quisesse fazer um curso, poderia fazer. Se falasse para eles que não queria ser atleta, eles aceitariam.”

A família abraçou de tal forma a causa no começo que quando ela precisou passar alguns dias em São Paulo, aos 15 anos, para uma competição, sua avó Helena viajou junto e cozinhou para a neta e para todas os atletas da equipe.

Tiffani (esq.) com a equipe do revezamento 4 x 400 m misto no Mundial de Revezamentos da Polônia, em maio
Tiffani (esq.) com a equipe do revezamento 4 x 400 m misto no Mundial de Revezamentos da Polônia, em maio - Aleksandra Szmigiel - 2.mai.2021/Reuters

Em pouco tempo, a evolução de Tiffani ficou clara. Ela passou a receber R$ 450 de Bolsa Atleta, que cobria suas despesas para ir treinar. Depois passou a ter plano de saúde, a receber ajuda de custo.

O conflito de atletismo de um lado e família do outro reapareceu quando, em 2017, ela deixou o ensino médio para disputar o Mundial Juvenil. Seu pai entendeu a escolha. A mãe, nem tanto. Ficou pior pouco tempo depois, com o anúncio de Tiffani de que sairia de casa para ir treinar na equipe da Orcampi, em Campinas, interior de São Paulo.

“Eu fui para longe de todo mundo. Meu pai e minha mãe foram bem difíceis. Minha mãe tenta me explicar isso até hoje. Ela ficou sem falar comigo, eu tinha acabado de fazer 18 anos e me achava a dona do meu nariz. Estava naquela fase de adolescente que quer fazer tudo”, explica.

Tiffani não mudou apenas de cidade e de casa. Trocou de prova também. A velocista dos 100 m e 200 m começou a tentar os 400 m porque seu treinador achou que ela se adaptaria melhor. Ela resistiu, mas aceitou.

“Eu não escolhi correr os 400 m. Os 400 m me escolheram.”

Tiffani Marinho percebeu que tudo tinha dado certo quando estava com a mãe em Duque de Caxias antes da viagem a Tóquio e dona Bianca disse para uma conhecida que sua filha era uma “atleta olímpica”.

“Quase morri. Hoje eu vejo que eles têm muito orgulho de mim e do que eu faço”, constata a atleta.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.