Descrição de chapéu The New York Times Boxe

Lutador de MMA que enfrentou Muhammad Ali morre aos 79 anos

Antonio Inoki viveu no Brasil quando adolescente e se tornou figura popular no Japão

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Alex Traub
The New York Times

Antonio Inoki, lutador mais conhecido por ter enfrentado Muhammad Ali em uma luta de artes marciais mistas que terminou em empate, morreu no sábado (1º), em Tóquio. O japonês, que também usou seu carisma para ganhar fama e influência na Coreia do Norte, no Iraque e no Paquistão, tinha 79 anos.

A New Japan Pro-Wrestling, empresa de luta livre fundada por Inoki, anunciou que a causa foi amiloidose, uma doença rara que ataca órgãos como coração, rins e fígado.

Inoki tinha o queixo saliente de um ditador beligerante, mas também usava uma echarpe vermelha com a elegância de um cineasta francês da "nouvelle vague".

Inoki ganhou seguidores pelo mundo - Kazuhiro Yokozeki - 13.set.22/The New York Times

Ele ocupou vários papéis públicos com sucesso. Desenvolveu uma política externa pessoal em viagens ao redor do mundo como membro da Câmara Alta do Parlamento japonês. Construiu uma reputação e ganhou seguidores no Paquistão, apresentando-se quando lutava lá como um convertido ao islã. E projetou a imagem de um atleta jovial ao dar tapas na cara de fãs e outras celebridades, um gesto típico destinado a transmitir um pouco de seu espírito combativo.

Mas foi uma luta combinada anticlimática em Tóquio contra Muhammad Ali, em 26 de junho de 1976, que chamou atenção para ele nos Estados Unidos e consolidou sua fama em outros lugares.

Ali era o campeão mundial de boxe dos pesos-pesados, e a luta foi apresentada como uma disputa não apenas entre dois homens, mas entre dois esportes. A expectativa aumentou, e o Shea Stadium em Nova York atraiu mais de 30 mil pessoas para uma transmissão pela TV.

Não muito tempo depois que o sino soou, Inoki se jogou no tatame e começou a rastejar e chutar Ali, estratégia que pareceu entorpecer seu adversário. Ali dançou ao redor do ringue, absorvendo chutes dolorosos e acertando apenas dois socos durante toda a luta.

O estranho espetáculo foi considerado um empate e inspirou a multidão a atirar lixo no ringue.

"Talvez no verão passado eu estivesse sério demais", disse Inoki ao The New York Times em uma entrevista arrependida no ano seguinte. "Eu estava fazendo o meu melhor para ganhar. Não foi uma luta falsa, ou teria sido mais interessante."

Depois que Ali morreu, em 2016, o Times publicou um artigo retrospectivo sobre a luta: "A luta menos memorável de Ali".

Um comentarista especializado viu de forma diferente. Conor McGregor, o lutador de artes marciais mistas que enfrentou o invicto boxeador Floyd Mayweather Jr. em 2017, disse antes da luta que estudou a luta Ali x Inoki. De particular interesse foi um momento no sexto round, quando Ali caiu e Inoki ficou em cima dele antes que o árbitro os separasse.

"Se deixassem esse momento continuar por mais cinco segundos, ou dez segundos, Inoki teria se enrolado em seu pescoço, seu braço ou um membro, e toda a face do mundo do combate teria mudado ali mesmo", disse McGregor.

Kanji Inoki nasceu em 20 de fevereiro de 1943, em Yokohama, cidade portuária do Japão. Ele adotou "Antonio" como nome de lutador. Quando era adolescente, sua família se mudou para o Brasil. Rikidozan, um lutador profissional no Japão, visitou o Brasil, conheceu Kanji e se tornou seu mentor, orientando-o para uma carreira como um popular lutador japonês.

Informações sobre a família de Inoki não estavam imediatamente disponíveis.

O episódio de Ali não prejudicou a popularidade de Inoki em sua terra natal, onde ele se tornou uma presença na publicidade, de molho Tabasco a salões de jogos eletrônicos.

E ele astutamente atraiu favores no exterior. No Paquistão, ficou conhecido como Muhammad Hussain Inoki na imprensa local; trocou seu lenço vermelho por um verde, refletindo a cor da bandeira do Paquistão; e cultivou a rivalidade com uma famosa família de lutadores paquistaneses.

Depois que uma luta terminou de forma ambígua, Inoki optou por admitir a derrota, satisfazendo o desejo dos fãs paquistaneses por um vencedor local, de acordo com um perfil publicado em 2014 pelo site Grantland.

Inoki era uma figura popular no Japão - Kazuhiro Yokozeki - 13.set.17/The New York Times

A intervenção estrangeira mais impactante de Inoki ocorreu no Iraque. Em 1990, meses antes da Guerra do Golfo, Saddam Hussein mantinha dezenas de cidadãos japoneses como reféns. Inoki, que havia sido eleito pouco antes para o Parlamento do Japão, levou parentes dos cativos em uma viagem ao Iraque, onde organizou um "Festival de Paz, Esportes e Música".

Esse estilo de diplomacia compensou: Inoki foi "creditado por ajudar a negociar a libertação de 41 cidadãos japoneses", disse o New York Times em um perfil de 2017.

De 1995 a 2017, Inoki também se tornou uma figura popular na Coreia do Norte, visitando o país 32 vezes. O relacionamento se originou com "Collision in Korea", um evento de 1995 no qual Inoki derrotou o lutador americano Ric Flair.

Alguns no Japão criticaram a sociabilização da velha estrela do "wrestling" com autoridades de uma autocracia com armas nucleares como um golpe publicitário. Ele disse ao Times que tinha um objetivo nobre: "Estabelecer a paz por meio da diplomacia esportiva".

"A ONU, Trump e o Japão estão dizendo que precisamos aplicar mais pressão", continuou Inoki. "Mas primeiro precisamos ouvi-los e entender quais são as razões por trás de sua atividade."

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