NBA começa temporada com tensões múltiplas e cenários explosivos

Campeonato se inicia em meio a escândalo sexual, soco na cara e outros dramas

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São Paulo

Os dramas fazem parte da NBA quase tanto quanto as enterradas. Desentendimentos entre companheiros, especulações sobre trocas de jogadores e superastros insatisfeitos são parte do entretenimento da liga norte-americana de basquete, cuja temporada 2022/23 terá início nesta terça-feira (18).

E a bola sobe para o novo campeonato com grande potencial explosivo. Há situações de tensão em várias equipes, algo bem ilustrado pelos últimos finalistas. No atual campeão, Golden State Warriors, os treinos de preparação tiveram uma briga entre colegas com soco na cara. O vice, Boston Celtics, suspendeu seu treinador por "conduta sexual inapropriada".

Nas duas costas dos Estados Unidos, nos dias que antecederam o começo da competição, mais se falou sobre esses problemas do que sobre a possibilidade de os talentosos times retornarem à decisão. Ir à série derradeira em anos consecutivos é historicamente difícil, e a tarefa se ficou ainda mais complicada.

Draymond Green e Jordan Poole se abraçaram na conquista do título da temporada passada; mais recentemente, a interação não foi tão amistosa - Adam Glanzman - 16.jun.22/AFP

"Está é a maior crise que tivemos desde que me tornei o treinador aqui", disse Steve Kerr, 57, que assumiu os Warriors em 2014 e os levou a quatro títulos. "É coisa séria mesmo. Não somos perfeitos. Mas vamos nos apoiar na experiência que temos juntos. Temos muito trabalho pela frente. Todos nós."

Em um treino no início deste mês, o sempre provocador Draymond Green entrou em um bate-boca com Jordan Poole. O veterano não gostou do que ouviu e desferiu um soco no jovem companheiro, que caiu, joelhos dobrados, nocauteado. O vídeo vazou e foi exibido pelo site de fofocas TMZ. Além de ter um grave problema interno, o Golden State se viu em uma crise de relações públicas.

Houve múltiplas reuniões entre jogadores, membros da comissão técnica e dirigentes. O craque do time, Stephen Curry, 34, atuou no sentido de aparar arestas. Poole, o agredido, foi envolvido na tomada de decisão. E, após alguns dias afastado, Green foi multado, mas não suspenso, e reintegrado ao elenco.

"Falhei como homem. Falhei como líder. Sou um ser humano de muitas falhas", afirmou Draymond, dizendo que deixou problemas e emoções virem à tona da pior maneira. "Machuquei alguém porque eu estava em um lugar de dor", acrescentou o ala, assegurando ainda que está "fazendo o trabalho" para se tornar alguém melhor.

O jogador de 32 anos, que está entrando na última temporada de seu compromisso com os Warriors, negou que a situação contratual tenha relação com o entrevero. Poole, 23, estava na mesma situação, mas chegou no último final de semana a um acordo com a direção e estendeu seu vínculo por quatro anos, com um total salarial de US$ 140 milhões (R$ 738 milhões).

Green ainda tem seu futuro indefinido e, antes de entrar em negociações, procura restabelecer a confiança dos companheiros. No Boston Celtics, o técnico Ime Udoka não terá essa chance. Por um nebuloso caso que não teve a divulgação de detalhes, ele foi suspenso pela equipe durante toda a temporada.

O comunicado sobre a decisão citava "múltiplas violações das políticas do clube" e apontava "meses de investigação". "Fazemos grandes esforços para conduzir a organização com o respeito como valor central. Prezamos um ambiente de trabalho sem assédio e sem atenção indesejada", disse o dono da franquia, Wyc Grousbeck.

Ime Udoka teve primeiro ano brilhante como técnico - Maddie Meyer - 8.jun.22/AFP

Um porta-voz dos Celtics afirmou que as violações de Udoka foram ligadas a uma mulher empregada pela equipe. Múltiplos veículos norte-americanos apontaram "um relacionamento inapropriado", ainda que, segundo fontes, consensual. "[A suspensão] é merecida e apropriada, baseada em uma pesquisa substancial, com evidências e fatos", declarou Grousbeck.

Sem Udoka, 45, que em sua primeira temporada como treinador na NBA chegou à final, a direção decidiu promover interinamente um auxiliar. Joe Mazzulla, 34, assume, de maneira desconfortável, um elenco cheio de jovens talentos e potencial. "É controlar o que podemos controlar. Esse é o nosso mantra. Precisamos deixar o barulho do lado de fora", disse o armador Marcus Smart, 28.

Há barulho também em vários outros times. Um dos mais rumorosos é o estrelado e complicado Brooklyn Nets. O astro Kevin Durant, 34, chegou a formalizar um pedido para ser trocado por não acreditar no técnico Steve Nash, 48, e no gerente-geral Sean Marks, 48. Kyrie Irving, 30, também se mostrou insatisfeito.

Nenhuma troca que satisfizesse os dirigentes se materializou, e Durant foi convencido a permanecer. Um dos argumentos foi a possibilidade de testar o entrosamento com Ben Simmons, 26, que chegou durante a última temporada e está recuperado de lesão. Pode dar certo. E pode ser que as especulações sobre eventuais trocas cresçam rapidamente.

No Phoenix Suns, como descreveu o experiente repórter Marc J. Spears, o clima na volta ao trabalho foi de "funeral". O dono da equipe, Robert Sarver, 60, foi multado em US$ 10 milhões (R$ 52,7 milhões) e suspenso pela NBA por um ano. Uma investigação descobriu reiterados casos de racismo e assédio moral de sua parte.

Jogadores importantes de outras agremiações, como LeBron James, consideraram a punição extremamente branda e se manifestaram. Mas, nos bastidores, o comissário da liga, Adam Silver, 60, agiu para que Sarver colocasse a franquia à venda. O que aliviou a pressão, mas não resolveu os problemas dos Suns.

Robert Sarver foi pressionado e colocou os Suns à venda - Christian Petersen - 13.out.21/AFP

Há um clima tenso entre o técnico Monty Williams, 51, e o pivô Deandre Ayton, 24, que se considera subutilizado no ataque. Ayton tentou deixar o Phoenix, assinando um pré-acordo com o Indiana Pacers, mas os Suns tinham o direito de exercer sua prioridade, igualando a oferta e segurando o jogador.

A situação é mais um desconforto, que Deandre não fez a menor questão de esconder. Ele até tentou dizer que está empenhado em cumprir seu papel e ir em frente, porém deixou claro que a relação com o treinador não é boa. Questionado sobre o assunto, deu respostas monossilábicas e afirmou, após o primeiro treino da pré-temporada, que não falava com o chefe havia meses.

Mesmo com todo o drama, claro, haverá basquete do mais alto nível, exibido no Brasil por Band, ESPN, Star+, TNT Sports, YouTube e Twitch, além do serviço de transmissões do próprio site da NBA. Será um ano de homenagens a Bill Russell, lenda do Boston, dono de 11 títulos da liga, que morreu aos 88 anos.

E tem tudo para ser um ano de celebração a LeBron James, 37, que vai para a sua 20ª temporada com a possibilidade real de se tornar o maior cestinha da história da NBA. Ele já tem esse título se contabilizados os pontos marcados nos "playoffs", mas os norte-americanos têm por hábito incluir na conta apenas jogos de temporada regular.

Por esse parâmetro, o ala, que passou por Cleveland Cavaliers e Miami Heat antes de chegar ao Los Angeles Lakers, tem 37.062 pontos. Está atrás apenas de Kareem Abdul-Jabbar, 75, que passou pelo Milwaukee Bucks, fez história nos próprios Lakers e soma 38.387, boa parte dos quais anotados em seu icônico gancho.

"É algo enorme, acredito. É um dos recordes mais buscados no esporte", afirmou o craque, que afirmou, sem cerimônia, não ter "relação nenhuma" com Abdul-Jabbar. De qualquer maneira, a caça aos números de Kareem será uma das histórias do campeonato e mais um atrativo para a liga, que ainda se recupera do baque econômico da pandemia de Covid-19.

Se mantiver sua média de 27 pontos no Los Angeles Lakers, LeBron James levará 49 partidas para ultrapassar Kareem Abdul-Jabbar - Richard Mackson - 12.out.22/USA Today Sports

"A NBA é especialista em monetizar seus grandes momentos. Além de conteúdos nas redes sociais e futuros documentários, um leque de produtos com esse feito deverá ser produzido e comercializado. A mobilização atrai também novos fãs, fundamentais", afirmou Renê Salviano, CEO da agência Heatmap, especialista em marketing esportivo.

A busca de LeBron, de maneira apropriada ao que se desenha neste ano, não será sem drama. Os Lakers têm "um elefante na sala", Russell Westbrook. O armador de 33 anos tem um jogo que não se encaixa ao de James, mas um contrato de valor alto, o que tem dificultado bastante as tentativas de trocá-lo.

James claramente desejava ver o colega negociado, o que tornou a reapresentação do grupo recheada de constrangimento. Para piorar, o time de Los Angeles contratou um velho rival de Westbrook, Patrick Beverley, 34. A pré-temporada já teve cenas em que Russell deixou as rodas do grupo para ficar sozinho, recusando-se a ouvir os companheiros.

Os Lakers abrirão sua campanha às 23h (de Brasília) desta terça, com transmissão do Prime Video, em duelo com os Warriors. LeBron e Westbrook tentarão mostrar que está tudo bem. Draymond Green e Jordan Poole, também. Será realizada a cerimônia de entrega dos anéis de campeão da temporada passada aos atletas do Golden State. E haverá até basquetebol.

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