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Planejamento é fundamental, mas disputa está aberta no NBB

Franca larga em vantagem na defesa do título, mas basquete não é ciência exata

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Gustavinho Lima
São Paulo

Independentemente do esporte, equipes que têm trabalhos de longo prazo costumam levar vantagem. Implantar uma filosofia requer tempo; o profissional entender o seu papel no time, idem.

No NBB (Novo Basquete Brasil) que se inicia neste sábado (15), essa parece ser a mentalidade do campeão Franca para defender o seu troféu.

São 17 equipes cobiçando a taça. Até o momento, somente cinco camisas conseguiram essa proeza: Flamengo (7 vezes), Brasília (3), Bauru (1), Paulistano (1) e Franca (1).

Apesar de supertradicional no basquete, Franca obteve só agora seu primeiro título na era do NBB, novo modelo da liga brasileira masculina. A equipe não comemorava um título nacional desde 1999, quando tinha Hélio Rubens como treinador.

Lucas Dias, destaque da equipe de Franca
Lucas Dias vive uma fase excepcional - Marcos Limonti - 13.out.22/Divulgação

O mais recente grito de campeão veio justo com o filho do multicampeão. O francano Helinho Garcia esteve no comando na irretocável campanha (38 vitórias e apenas 5 derrotas) e pôde comemorar no ginásio Pedrocão lotado.

Depois de dominar o campeonato de cabo a rabo em 2021/22 e bater o Flamengo na final, o time optou pela renovação de praticamente todos os seus jogadores. Deu continuidade a dez que ganharam a medalha de ouro e lutou para manter seu "Big Three", formado por Lucas Dias, Georginho e Lucas Mariano, importante também na seleção brasileira, vice-campeã da Copa América em setembro.

A equipe levantou outro troféu recentemente. Mesmo sem seus principais jogadores e sem o comandante Helinho, que é assistente técnico da verdinha (no basquete, o Brasil atua de verde), o time manteve a regularidade e foi à final do Campeonato Paulista. No mata-mata, já com sua formação completa, fechou em 2 a 1, na última quinta (13), a série decisiva contra o São Paulo.

Vive fase particularmente excepcional o talentoso ala-pivô Lucas Dias, que já havia sido nomeado MVP (jogador mais valioso) das finais do NBB e foi escolhido também o melhor da decisão estadual.

Mantidos os principais atletas, o time ainda foi atrás de reforços como Didi Louzada, que passou pela NBA, teve dificuldade para encontrar espaço na liga norte-americana de basquete e voltou aonde começou como profissional na tentativa de buscar seu melhor nível. Ele chega oferecendo ritmo e velocidade, com tudo para ser um dos melhores defensores do campeonato.

Se o basquete fosse uma ciência exata, daria para dizer que o planejamento francano é perfeito, mas existem muitos fatores que determinam o sucesso de uma equipe. O convívio, o entrosamento, a gestão de grupo, os egos e as lesões são determinantes no resultado final. Não dá para cravar, mas é inegável que o movimento de Franca para seguir comemorando títulos foi interessante.

No NBB, historicamente, o Flamengo sempre fez boas montagens de time. Não à toa, é o maior vencedor. Porém, neste ano, houve uma maior reformulação. O técnico Gustavo de Conti, que também comanda a seleção brasileira, perdeu seu principal jogador, o ligeiro armador Yago, que, em excelente fase, transferiu-se para o basquete alemão.

Gustavo de Conti dirige o Flamengo e a seleção - Ueslei Marcelino - 10.set.22/Reuters

Gustavinho teve que garimpar bem o mercado para repor peças do plantel. Na montagem de uma equipe, há quem diga que é importante "ferir um adversário ao contratar". Foi o que fez o Flamengo ao buscar os pontuadores Deodato e Gabriel Jaú, que defendiam respectivamente Minas e Bauru, concorrentes diretos no G4.

Na responsabilidade da armação, chegaram os argentinos Penka Aguirre e José Vildoza. Para lhes mostrar o caminho, permaneceram o versátil Rafael Mineiro e, principalmente, Olivinha, o Deus da Raça, muito identificado com a torcida rubro-negra.

Minas e São Paulo foram até as semifinais na última edição e são candidatos novamente a estar entre os quatro primeiros.

O time do Morumbi, desde que voltou à elite do basquete nacional, chegou pelo menos até as semifinais de todos os torneios que disputou. Neste ano, porém, perdeu o melhor jogador do Brasil na atualidade, Bruno Caboclo, que tentou seu retorno à NBA e acabou dispensado pelo Boston Celtics.

É praticamente impossível repor um jogador com o potencial de Caboclo, mas a agremiação tricolor tem uma base forte, com Elinho, Bennet, Tyrone, Marquinhos e Shamell. Os dois últimos são os maiores cestinhas do campeonato nacional, mas, lesionados, não estarão à disposição no início do campeonato.

O São Paulo foi vice-campeão paulista nesta semana, porém perdeu o jogo final por mais de 30 pontos (98 a 66), o que deixa dúvidas sobre a possibilidade de permanência entre os melhores. A equipe é a atual campeã da BCLA (Basketball Champions League das Américas), espécie de Copa Libertadores do basquete, e terá a chance de disputar a Copa Intercontinental em 2023.

Com uma estrutura de clube de ponta, o Minas entrou definitivamente no páreo na conquista das medalhas. Na última temporada, foi campeão da Copa Super 8, torneio mata-mata realizado entre os oito melhores colocados ao fim do primeiro turno do NBB, e ficou com a medalha de bronze na BCLA.

No entanto, neste ano, mais uma vez, passa por uma reestruturação grande. O treinador Léo Costa e sua comissão optaram por manter somente três jogadores que participaram das conquistas anteriores. Chegaram jogadores de destaque internacional –caso do armador argentino Lucas Faggiano, que estava na Espanha–, mas essa escolha pela não continuidade dos principais atletas pode afetar o desempenho no curto prazo.

Dois dos maiores clubes formadores do país, Pinheiros e Paulistano têm seu núcleo formado por jovens crias das categorias de base, e há de se enfatizar e parabenizar o espírito mirando o futuro do esporte.

Com representantes de Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, o NBB fortalece seus laços com os amantes da bola por todo o país e aos poucos vai deixando de ser um privilégio de alguns centros.

Na tentativa de fidelizar o público, o NBB retoma a parceria com o SporTV e mantém suas transmissões na TV aberta na Cultura. Também haverá exibições na ESPN e no canal do próprio NBB no YouTube.

Chegando à sua 15ª temporada, o NBB está de cara nova. A logomarca agora tem a silhueta do ídolo Alex Garcia, do Bauru.

Se a NBA sofre críticas por manter um logo por alguns considerado defasado –é a silhueta de Jerry West, que defendeu o Los Angeles Lakers entre 1960 e 1974–, o NBB acerta em cheio ao prestar essa homenagem a um dos maiores nomes do basquete brasileiro. Apesar de isto nunca ter sido confirmado oficialmente, o antigo logo lembra muito a silhueta do norte-americano Robert Day, que atuou por Uberlândia e Bauru.

Aos 42 anos, Alex disputou todas as edições do NBB e venceu quatro, três por Brasília, uma por Bauru.

Alex Garcia, jogador de basquete
O tradicional ganchinho de Alex inspira o novo logo do NBB - Arquivo/LNB

A liga nacional acerta ao homenagear um ídolo brasileiro no logo. O Brabo, como é conhecido, é a mistura perfeita de garra e talento, de alto "QI de basquete", com vontade de vencer.

Seu ganchinho clássico de direita (apesar de ser canhoto) foi a imagem eternizada, mas poderia muito bem ter sido escolhida uma postura defensiva. Alex foi eleito nove vezes o melhor defensor do NBB.

E continua na luta. Veste a 10 e a faixa de Bauru, onde foi eleito MVP (jogador mais valioso) em 2014/15 e ainda campeão e MVP das finais em 2016/17. Lidera a equipe do Dragão em busca de uma classificação ao G4, algo que o time dirigido por Guerrinha não consegue há três temporadas.

Novo logotipo do NBB, a liga brasileira de basquete
A justa homenagem do NBB a Alex Garcia - Divulgação

O reconhecimento da liga demonstra o cuidado com o seu produto. Cuidar da memória e enaltecer os que trilharam caminho faz parte para a criação de um futuro próspero. O reconhecimento é melhor que a fama e serve de incentivo para as próximas gerações.

O escritor Eduardo Galeano sintetiza bem o esporte: "Somos porque ganhamos. Se perdemos, deixamos de ser". Os projetos em qualquer esporte muitas vezes são analisados pelo número de vitórias, o que pode ser injusto.

No tênis, a bola pode bater na fita e pender para um lado ou para o outro. No futebol, a redonda pode bater na trave e pingar em cima da linha. No basquete, o arremesso no último segundo pode quicar caprichosamente no aro e entrar ou sair.

Planejamento de longo prazo, treinamentos, táticas na prancheta e talento individual facilitam o resultado positivo mas não o asseguram. Não é uma ciência exata, por isso é tão emocionante.

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