Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022 Televisão

Galvão Bueno narra seu 50º jogo do Brasil em Copas de olho no 'é hexa'

Principal voz da narração no país começou trajetória em 1986, em vitória magra contra a Argélia

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São Paulo

Cinco dias antes de Galvão Bueno nascer, em 21 de julho de 1950, o Brasil já vivia um drama, no mesmo Rio de Janeiro.

O dia 16 marcou a primeira final da seleção em uma Copa do Mundo, no histórico —e dramático— Maracanazo, quando a seleção perdeu para o Uruguai por 2 a 1, de virada.

Muitos dramas, conquistas, gols e erres depois, a voz mais famosa da narração futebolística do país completará 50 jogos do Brasil em Copas nesta segunda (28), todos pela Globo, quando a seleção entrar em campo no estádio dos contêineres, o 974, para enfrentar a Suíça pela segunda rodada do Grupo G no Mundial do Qatar.

Retrato de Galvão Bueno em seu escritório, na Vila Olímpia, em 2018
Retrato de Galvão Bueno em seu escritório, na Vila Olímpia, em 2018 - Eduardo Knapp - 2.mai.2018/Folhapress

"A Copa é o auge da nossa carreira. Cada uma é a renovação dessa conquista. Você tem ideia para quantos milhões de pessoas eu falo na Copa? É o suficiente para jogar a adrenalina lá para cima", disse Galvão à Folha, em 2018, pouco antes do Mundial disputado no mesmo ano.

No Qatar, o narrador entra em ação em sua 13ª Copa (já brincou com Zagallo nas redes sociais, lembrando o número), mas é a décima em que narra jogos do Brasil na TV aberta.

Em seus 49 jogos anteriores, o retrospecto é positivo, com 34 vitórias, sete empates e oito derrotas; 88 gols marcados e 42 sofridos.

Sua estreia foi em 1986, na magra vitória da seleção contra a Argélia ainda na primeira fase, gol de Careca.

Passava de 21 do segundo tempo quando em um jogo enroscado quando ele finalmente gritou "goooooollllll do Brasil, é de Careca, número 9", com uma voz mais limpa, aos 36 anos, muito antes dos recentes "olha o gol, olha o gol, olha o gol…"

O narrador principal naquela Copa foi Osmar Santos, que só ficou ausente da partida diante dos argelinos porque teve uma crise de hemorróidas.

Em 1990, já era a voz da emissora, lembrando sempre que "ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor". Mas foi a Argentina que eliminou a seleção naquela Copa.

Seu "é tetra, é tetra, é tetra", com a voz esganiçada, como ele mesmo lembra, tornou-se marca registrada, assim como o "sai que é sua, Taffarel", que gritava para o goleiro da seleção. No começo, em tom crítico, mas depois virou um elogio, usado até em decisão de pênaltis, e que a cada quatro anos é adaptado para o cara da vez —estamos sob o signo "sai que é sua, Alisson" desde 2018.

Em 2002, o tetra virou penta, e a letra erre nunca foi tão esticada em Rrrrronaldo, Rrrrrronaldinho Gaúcho, Rrrrrrivaldo e Rrrrrrroberto Carlos —em 2022, temos Rrrrrricharlison, mantendo a tradição.

A narração mais técnica foi ganhando um tom mais crítico ao longo dos anos.

Galvão continua acompanhando o lance, dificilmente erra o nome de jogadores, mas arruma um tempinho para dar suas alfinetadas ou aumentar a carga dramática, "haaaaaja, coração", "vive um drama…".

Luiz Felipe Scolari não fala com o narrador desde os comentários de 2014, no Jornal Nacional; Neymar e amigos sempre reclamam por críticas recebidas vez ou outra, ou outra, ou outra.

"Existe pressão sobre tudo o que você fala na televisão. Eu não tenho nada com a vida pessoal de ninguém. Eu critico, comento o que é do campo", disse em outra entrevista à Folha, em agosto de 2022.

Quando os memes ainda eram coisa de criança, já tinha um "cala a boca, Galvão" ganhando a internet durante a Copa de 2010 e liderando os trending topics mundial, dividindo as atenções com Larissa Riquelme e o polvo Paul.

E se Galvão não nasceu a tempo do Maracanazo, viveu plenamente o Mineiraço. Nos 7 a 1 contra a Alemanha, pior derrota da seleção em Copas, e de Galvão, suas frases em tom de decepção para cada gol do rival são repetidas até hoje em diversos contextos: "Virou passeio", "lá vem eles de novo".

Galvão vem dizendo que está prestes a encerrar seu ciclo na televisão aberta e que sua carreira deve se movimentar para outras plataformas. Mas também já chegou a dizer em 2010 que não faria mais Copa fora do Brasil e que, portanto, 2014 seria sua última.

Talvez o narrador esteja esperando o "é hexa, é hexa, é hexa" para sair no auge. Como diria Zagallo, comentarista naquele jogo contra a Argélia em 1986, só faltam seis.

E mesmo que esta seja sua última Copa de fato, o telespectador não terá tempo de ficar tão saudoso de sua voz, cada vez mais frequente nos intervalos comerciais, redes sociais, podcats...

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