Gonçalo Ramos oxigena seleção portuguesa em má fase de Cristiano Ronaldo

Condição de reserva do craque histórico, porém, é situação de difícil administração

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Doha (Qatar)

Após um passe de João Félix, o destro Gonçalo Ramos girou sobre a marcação e, com o pé esquerdo, finalizou violentamente, fazendo a bola atingir 106 km/h no primeiro gol de Portugal na vitória por 6 a 1 sobre a Suíça.

Tão veloz quanto o chute do atacante –aferido pela Fifa– só mesmo a renovação que ele impôs à seleção portuguesa durante a Copa do Mundo no Qatar.

O jovem de 21 anos ocupou a vaga de Cristiano Ronaldo, 37, que, barrado pelo técnico Fernando Santos, viu o seu substituto fazer o que ele nunca conseguiu: marcar pela equipe lusitana na fase de mata-mata do Mundial. E várias vezes.

Com três gols do garoto, a formação rubro-verde avançou às quartas de final. Enfrentará Marrocos, no sábado (10), no estádio Al Thumama.

Cristiano Ronaldo abraça Gonçalo Ramos depois de vê-lo fazer três vezes o que não conseguiu nenhuma: marcar no mata-mata da Copa do Mundo - Gabriela Biló/Folhapress

Cristiano Ronaldo nunca tinha sido reserva em um jogo de Copa nas cinco edições que disputou. Foi um duro golpe para ele experimentar isso na terça-feira (6), em Lusail.

Era difícil para o camisa 7 esconder o semblante de frustração, principalmente vendo seu rosto aparecer no telão do estádio de tempos em tempos, enquanto a seleção portuguesa dominava a Suíça sem precisar de sua ajuda.

O time teve sua melhor atuação na competição, o que levantou a dúvida: teria Portugal encontrado sua formação ideal justamente sem seu maior ídolo?

"Esta foi a formação ideal para este jogo, foi aquela formação que o treinador entendeu que era a melhor para este jogo", desconversou Bernardo Silva, 28.

Boa parte do elenco levado por Fernando Santos ao Qatar cresceu e se profissionalizou assistindo às jogadas de Cristiano Ronaldo. Nomes como os zagueiros António Silva, 19, e Rúben Dias, 25, o lateral Dalot, 23, o meia Vitinha, 22, e os atacantes, Gonçalo Ramos, 21, Rafael Leão, 23, e João Félix, 23, são alguns exemplos.

Mais velho dessa lista, Rúben Dias estava apenas iniciando sua carreira no Benfica, em 2017, quando o camisa 7 já tinha três Copas do Mundo no currículo, além de ter levado Portugal a seu primeiro título na história, a Eurocopa de 2016.

Mesmo disputando posição com o astro, não é fácil para muitos deles vê-lo em má fase.

Mas ninguém fica mais frustrado com isso do que o próprio capitão da seleção portuguesa. A condição de reserva, no entanto, foi provocada em parte por ele mesmo. Substituído antes da metade do segundo tempo contra a Coreia do Sul, ainda na fase de grupos, deu pequeno chilique.

Fernando Santos nega que isso tenha sido o motivo. "Nem eu nem Cristiano confundimos a questão humana com os aspectos do jogo", afirmou o técnico após o duelo com os suíços.

Apesar disso, ele evitou comprometer-se com a volta do camisa 7 já na próxima partida. Disse apenas que vai estudar Marrocos e montar a escalação com nomes que representem "a melhor estratégia para o jogo".

A nova estrela portuguesa, Gonçalo Ramos, também exaltou a importância do camisa 7 para o time. "Ele se portou naturalmente no vestiário, motivou-nos, como nosso capitão, como sempre fez."

Na reapresentação da equipe nesta quarta-feira (7), Cristiano Ronaldo não treinou junto com os reservas. Em vez disso, fez uma atividade voltada para aqueles que atuaram boa parte dos 90 minutos contra os suíços.

Na véspera, ao apito final, foi o primeiro a deixar o gramado no estádio Lusail, enquanto seus companheiros celebravam com a torcida. Algo visto como mais um sinal de sua insatisfação.

Cristiano teve comportamento semelhante na Inglaterra antes de entrar em litígio com o Manchester United às vésperas da Copa do Mundo. A relação com o técnico Erik ten Hag ficou marcada por conflitos nos momentos em que ele era preterido.

A situação o levou a disputar o Mundial em uma rara condição em sua carreira, como desempregado, dependendo de boas atuações no torneio para definir o tamanho de seu próximo clube. Daí, também, a frustração de ficar na reserva.

Fernando Santos sabe que administrar isso não vai ser fácil. A imprensa portuguesa classificou como "ousada" a decisão de barrar o astro. Nem ele imaginava que daria tão certo, a ponto de sua opção agora contar com grande respaldo da mídia de seu país.

Os veículos ainda fazem questão de defender o camisa 7. "O momento de Gonçalo Ramos não pode servir para diminuir Cristiano Ronaldo", escreveu o jornal A Bola. Mas mesmo as publicações mais tradicionais já se renderam ao talento do garoto que substituiu o capitão.

Depois dos três gols na goleada, é difícil não querer vê-lo como titular até o final da trajetória portuguesa em busca do inédito título.

Com destacou o periódico português Record, "Gonçalo Ramos fez história".

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