Marroquinos comemoram feito histórico na Copa e provocam tumultos na Holanda

Festa tomou as ruas de vários países e teve apoio de outros povos africanos e árabes

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Kaouthar Oudrhiri
Rabat (Marrocos) | AFP

O templo do futebol do Marrocos, Casablanca, e sua plácida capital, Rabat, explodiram em júbilo nesta terça-feira (6) após a classificação histórica de sua seleção para as quartas de final da Copa do Mundo às custas da Espanha (0 a 0 no tempo normal e 3 a 0 nos pênaltis).

Ao final de um suspense insuportável, cânticos, gritos, lágrimas, sinalizadores e o som estridente de buzinas comemoraram a classificação dos Leões do Atlas, primeiro time árabe a chegar a esta fase da competição.

"Éramos milhões apoiando o Marrocos. Esta equipe representa um espírito, uma união", disse Imad Aït Ounejjar, gerente de um movimentado restaurante em Casablanca, exultante.

Torcedores marroquinos comemoram a classificação às quartas de final da Copa na capital Rabat; alguns chegaram a pular na fonte de uma praça
Torcedores marroquinos comemoram a classificação às quartas de final da Copa na capital Rabat; alguns chegaram a pular na fonte de uma praça - AFP

"Essa vitória é do Marrocos, da África, do mundo árabe e de todas as nações que acreditaram em nós. Temos orgulho de ser marroquinos", afirmou.

Na verdade, Marrocos é a última equipe africana ou árabe ainda em disputa no Qatar.

Apenas equipe africana ou árabe

"Não posso acreditar! Esta equipe está fazendo milagres! É tão bonita!", disse Lamia Afria, de 24 anos. "Estou orgulhoso, fizemos o impensável!"

"Mágico". Para todos eles, é um sonho realizado depois de tantos anos de espera e frustração.

O Marrocos nunca havia ido tão longe em uma Copa do Mundo. Antes da vitória contra a Espanha, seu melhor resultado na maior competição do futebol foi em 1986, quando chegou às oitavas de final.

Neste restaurante de Casablanca, a atmosfera parecia irreal. Os torcedores —homens e mulheres— envoltos em bandeiras vermelhas e vestindo a camisa verde da estrela torceram pelos Leões até o final.

Após a vitória, todos gritaram em uníssono: "Que venha o próximo!" e "Dima Maghrib!" ("Sempre com Marrocos").

Em Paris, várias centenas de torcedores marroquinos lotaram a Champs-Élysées para comemorar a histórica classificação às quartas de final, apurou um repórter da AFP.

Os torcedores, vestidos com as cores vermelho e verde, se reuniram perto do Arco do Triunfo em meio a sinalizadores e sob o olhar atento de vários policiais.

O triunfo marroquino também foi comemorado na Holanda, onde a polícia teve de evacuar duas praças, em Amsterdã e Roterdã, após o lançamento de fogos de artifício.

Além disso, em Haia, a polícia prendeu três pessoas após pedir aos torcedores que desocupassem uma rua de um bairro popular.

'Irmãos e vizinhos'

Este duelo épico ganhou ares de clássico: separadas pelo Estreito de Gibraltar, as costas espanholas distam apenas 14 km das de Tânger.

Para além da vertente puramente desportiva, Rabat e Madrid partilham interesses comuns, tanto econômicos como na luta contra a imigração ilegal.

Depois de um conflito diplomático de quase um ano em torno do território do Sahara Ocidental, os dois vizinhos normalizaram as suas relações em meados de março.

Hoje eles parecem estar em boa harmonia.

Vários jogadores marroquinos jogam no Campeonato Espanhol, incluindo o atacante Youssef En-Nesyri e o goleiro Yassine Bono (Sevilla), o ala Ez Abde (Osasuna) e o zagueiro Jawad El Yamiq (Real Valladolid).

A estrela da seleção nacional Achraf Hakimi, que marcou ao estilo "Panenka" o pênalti decisivo para selar a vaga de sua equipe, nasceu em Madrid e treinou no Real Madrid.

Mas os Leões do Atlas também conquistaram corações além das fronteiras do Marrocos.

Cenas de júbilo irromperam na Síria, na Arábia Saudita e em lugares distantes como Gaza após as partidas do Marrocos na fase de grupos.

Os torcedores palestinos até improvisaram uma música em homenagem ao time marroquino.

Por sua vez, os heróis marroquinos posaram para fotos após a partida com a bandeira palestina.

Mesmo no contexto da aguda crise entre Marrocos e Argélia, o futebol conseguiu unir os dois "povos irmãos".

"Longe de todos os trolls odiosos e maliciosos nas redes sociais, o povo argelino está ao lado do povo marroquino (...) Seus irmãos e vizinhos estão com você", escreveu na terça-feira a página DZfoot, que tem mais de um milhão de seguidores no Twitter.

Vários jogadores argelinos também comemoraram a conquista marroquina nas redes sociais.

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