Figura-símbolo da Mancha, Serdan quer torcida única para evitar brigas
Luciano Amarante - 13.fev.2015/Folhapress | ||
Paulo Serdan antes do desfile de Carnaval da Mancha Verde |
Paulo Serdan, 48, já não tem mais cargo ativo em torcidas organizadas desde 2005. Mas é a cara da Mancha Verde (Mancha Alviverde desde 1997), entidade que presidiu entre 1992 e 2005. Aliás, manchas verdes, literalmente, estão em seu rosto.
Serdan tatuou na cor do Palmeiras as cicatrizes que tem na face, decorrentes de estilhaços de fogos de artifício. Segundo ele, o acidente aconteceu em um Réveillon.
Ele é conhecido pelos episódios de violência que protagonizou –deu um soco no treinador da categoria sub-14, em 2007; coordenou uma invasão à sede do Palmeiras, participou de várias brigas envolvendo torcidas e tem uma condenação de três anos de reclusão (conseguiu recurso para não cumprir a pena).
Apesar disso, defende medidas drásticas para conter a violência nos estádios, como a realização de clássicos com torcida única. "Se for para não morrer mais ninguém, sou favorável", diz.
"É feio ver o estádio assim, ainda mais para quem já curtiu um Palmeiras x Corinthians com o Morumbi dividido ao meio, com 80 mil para cada lado. Naquela época, dizem que as torcidas eram mais radicais, mas a gente jogava no Morumbi direto e não saia tanta confusão."
Ele defende ainda outras medidas polêmicas, como a escolta da PM aos torcedores.
"A gente combinava os caminhos, porque quando 50 ônibus se cruzam, não tem o que fazer. Eu era o primeiro a dar o soco. No outro dia, a gente conversava para saber o que aconteceu, quem errou. Mas na hora, não tem como segurar ninguém", afirma.
Para Serdan, uma medida foi definitiva para o aumento da violência. No afã de conter as brigas, o promotor Fernando Capez, hoje deputado estadual em São Paulo pelo PSDB, tentou proibir as organizadas. A própria Mancha, por exemplo, foi refundada como Mancha Alviverde. Na prática, porém, trata-se da mesma agremiação.
"As torcidas organizadas nunca vão acabar. O Capez tentou extinguir as torcidas. Sabe o que aconteceu? Ele dispersou o poder, fortaleceu os núcleos dos bairros. Antigamente, a sede mandava nos sócios. Hoje em dia, a sede não tem mais o poder."
Serdan não sabe explicar porque as torcidas brigam. Mas tem sua teoria.
"As torcidas brigam pela situação de adrenalina. Basta uma faísca. O discurso de ódio nunca fez sentido. Mas é algo incontrolável", diz.
CONSELHEIRO
Nos assuntos da torcida organizada, da qual é presidente de honra, Serdan, só atua quando solicitado, como uma espécie de consultor.
Presidente da escola de samba Mancha Verde desde sua fundação, ele não terá muito tempo para digerir o rebaixamento para o grupo de acesso do Carnaval, sacramentado na terça (17).
Em poucos dias, Serdan vai mergulhar de cabeça em outra função: ser conselheiro deliberativo do Palmeiras.
A eleição de Serdan marca um momento importante na história do clube. Pela primeira vez, um ex-líder de torcida organizada assume um cargo na política palmeirense.
"Eu sempre ouvia, na época que frequentava estádio: 'Enquanto eles estão do lado de fora, tudo bem'. Eles, os diretores e conselheiros, sempre se sentiram muito confortáveis, com a gente distante. Agora eles começam a se incomodar mais, porque a gente está dentro do clube", diz.
Até o momento, Serdan elogia o segundo mandato de Paulo Nobre à frente do clube –em quem não votou.
No entanto, criticou duramente o dirigente quando ele não ajudou financeiramente sua escola de samba no desfile deste ano, que comemorava o centenário de fundação do Palmeiras.
"Conheço o Paulo desde 1979. Antes de ele imaginar, eu já dizia que ele seria presidente. A gente se conhecia de arquibancada, faltou respeito", afirmou.
Paulo Nobre não quis comentar as declarações.
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