Cléber Machado diz que 'grana' motivou sua dispensa da Globo

Narrador admite ter ficado surpreso com demissão após 35 anos na emissora

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Cléber Machado, 60, tinha um plano. A vontade do narrador era aposentar-se na TV Globo, mas não antes de narrar a Copa do Mundo de 2026. Seria a décima de sua carreira. Mas, há alguns dias, ele foi surpreendido com a notícia de que seria desligado da empresa em que estava havia 35 anos.

"Há um mês, 15, 20 dias, eu não imaginava isso", afirmou à Folha o profissional, que recebeu o comunicado sobre sua saída na última quarta-feira (22).

Cléber buscou os executivos da emissora para entender os motivos. Na conversa, ficou claro para ele que a razão era financeira, "pelo critério que foi adotado".

Cléber Machado está fora da Globo após 35 anos - João Miguel Júnior - nov.22/Globo

"Eu perguntei: 'Vocês não me querem mais ou é grana?'. Responderam a opção B", disse o narrador.

Questionado se o salário dele havia se tornado alto demais para o padrão atual estabelecido pela Globo, limitou-se a dizer: "É possível".

O paulistano era um dos profissionais que estavam havia mais tempo no esporte da emissora. Existia uma expectativa de que seria o substituto natural de Galvão Bueno, 72, como narrador principal do canal carioca —embora ele negue essa perspectiva, porque "nunca se discutiu uma sucessão para o Galvão".

Sinais de que o prestígio dele já não era o mesmo começaram a surgir no ano passado, quando o narrador foi preterido na escolha da equipe levada pela Globo para cobrir a Copa do Mundo no Qatar. Ele fez parte do time que ficou no Brasil para trabalhar a distância.

Cléber nega ter ficado magoado, embora observe: "Quem não quer cobrir uma Copa do Mundo?".

O profissional assegurou, no entanto, que foi em tom de brincadeira seu comentário ao vivo, durante o Mundial, sobre um vídeo que mostrava homenagem da Fifa (Federação Internacional de Futebol) a Galvão por ele ter trabalhado em 12 finais.

"Também quero dar parabéns para mim. Eles podiam mandar uma coisinha dessa aí para mim, é a nona Copa do Mundo. Aqui é a nona Copa do Mundo. Não sei se vale a distância, mas...", disse, na ocasião. A condecoração valia para profissionais que haviam trabalhado em pelo menos oito mundiais.

Cléber afirmou que os executivos da Globo foram "muito gentis" com ele ao avisá-lo com antecedência sobre o time escalado para viajar ao Qatar.

"Falaram comigo antes de [divulgar] a lista [à imprensa]", conta. "Quando chegou junho, julho, eles falaram para mim que eu não ia para a Copa."

Apenas Galvão Bueno, que deixou de ser narrador na emissora carioca, e Luís Roberto, que continuam no canal, narraram o torneio in loco pela TV aberta.

"De uns tempos para cá, o Luís Roberto cresceu, eu não acho que eu diminuí", disse Cléber.

O narrador contou que já tinha planejado férias para maio antes de saber que sairia da Globo e pretende cumprir o período de descanso da mesma forma, mas não descartou trabalhos antes disso, sem revelar se isso diz respeito a um canal tradicional de TV ou a alguma plataforma de streaming.

"Se bobear, acho que vai rolar alguma coisa antes de maio", brincou.

A expectativa dele se baseia na nova configuração do mercado de transmissões esportivas, imposta pelas plataformas de streaming desde que elas pulverizaram os direitos de exibição dos campeonatos, algo que Cléber vê com bons olhos.

"Pra gente, para o mercado, ter mais transmissões significa que tem mais gente trabalhando, tem mais emprego", opina. "Eu entendo que alguém, alguma empresa, queira ter uma exclusividade. Mas eu acho que a competição é saudável."

Ele cita como exemplo o retorno da Libertadores à grade da TV Globo este ano após três edições no SBT. A emissora carioca havia deixado de exibir o torneio em 2020 depois de fracassar na tentativa de renegociar o contrato com a Conmebol, dona dos direitos de transmissão do campeonato.

O narrador acredita que a concorrência entre as emissoras afetou o valor do torneio. "Se você tem um comprador que topa pagar porque ele não admite perder é muito mais fácil para quem vende", afirma.

Cléber, aliás, tem um carinho especial pela Libertadores. Cita com saudosismo as transmissões que fez do torneio, sobretudo das finais de times brasileiros.

"Não tenho do que me queixar", afirmou ele sobre a chance de narrar grandes eventos e de ter também vivenciado a transformação do status do narrador esportivo no país, mérito que atribui sobretudo à trajetória de Galvão Bueno.

Durante a entrevista à Folha, Cléber deixa escapar uma ideia do que gostaria de fazer na TV: um programa que misture esporte com variedades, política e economia. É um sonho antigo. Segundo ele, a proposta é dar voz para as pessoas opinarem sobre áreas distintas das quais elas atuam.

O narrador entende que os programas atuais investem muito em especialistas e falta mais "pluralidade em pontos de vista".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.