Criança que estava no colo de pai que invadiu gramado do Beira-Rio passará por perícia

Em depoimento, torcedor disse que tentava defender a filha no momento das agressões

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Porto Alegre

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul detalhou, nesta terça-feira (28), os próximos passos da investigação sobre o caso do torcedor do Internacional que invadiu o gramado do estádio Beira-Rio com uma criança de três anos no colo e brigou com jogadores do Caxias na noite de domingo (26), após a semifinal entre os dois times pelo Campeonato Gaúcho.

O homem de 33 anos, na condição de investigado, e sua mulher, na condição de testemunha, prestaram depoimentos no final da tarde de segunda-feira (27), acompanhados da advogada Taiane Paixão. Ele responde a dois inquéritos distintos, pela sua conduta com a filha e pela invasão de campo e agressão a um cinegrafista.

A Folha tentou contato com a advogada nesta terça, sem sucesso. Ao final do depoimento, na segunda, ela falou que o seu cliente agiu "para proteger a filha". A identidade do homem está sendo preservada para não expor a menina.

Homem invade o campo com criança no colo após derrota do Internacional e agride jogadores do Caxias no Beira-Rio, em Porto Alegre - Reprodução/Premiere

Na esfera civil, o Ministério Público de Canoas solicitou uma medida protetiva que pode afastar a menina do pai, mas ainda não houve resposta da Justiça. Também foi solicitada uma audiência junto ao Conselho Tutelar e ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social de Canoas.

De acordo com a delegada Elisa Ferreira de Souza, da 2ª DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) de Porto Alegre, que comanda a investigação sobre possíveis violações ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), o casal saiu da delegacia com dois pedidos de perícia para avaliar se a menina teve sequelas físicas ou psicológicas do episódio.

A primeira perícia, de acordo com a Polícia Civil, é rápida e poderá ser feita assim que a mãe comparecer com a criança à delegacia. Já a perícia psíquica envolve uma série de entrevistas, com um resultado que demora mais tempo.

Segundo os policiais, a mãe da criança não estava no estádio no momento da briga. Ela teria visto as imagens ao vivo pela TV e ligado pelo marido "apavorada". Ele atendeu após a briga, a caminho de casa, dizendo que estava tudo bem.

Em depoimento, o torcedor negou que tenha invadido o campo. Ele disse que, por ter estar sendo pressionado na confusão por outros torcedores e estar com uma criança no colo, um segurança do Beira-Rio abriu o portão para que ele entrasse no gramado.

Ele afirmou aos policiais que, no campo, sentindo-se ameaçado, desferiu golpes a esmo para proteger a filha. Segundo a polícia, ele não demonstrou arrependimento no seu depoimento.

Para o delegado Fernando Sodré, chefe da Polícia Civil do RS, "há imagens que falam por si", contestando a versão do homem. Antes da conclusão do inquérito, a polícia deseja ouvir os três seguranças do Internacional que contiveram o torcedor e um familiar que acompanhava pai e filha no estádio. O delegado chamou a atenção para o risco a que a menina foi exposta.

"Ele agrediu o jogador [do Caxias] por trás. Se ele reagisse instintivamente contra o agressor, poderia ter atingido em cheio a criança", disse Sodré.

O torcedor responderá na Justiça por "submeter a filha a vexame e constrangimento", com pena prevista é de seis meses a dois anos de reclusão. No segundo inquérito, referente à agressão ao cinegrafista, ele responderá por lesão corporal leve e por invasão de campo, com penas também que podem chegar a dois anos de reclusão. Ele foi suspenso do quadro social do Inter e impedido de ingressar no estádio.

Diferentemente do informado inicialmente pela polícia, o homem não fazia mais parte de torcidas organizadas desde 2019. Segundo a polícia, pai e filha costumavam ir ao Beira-Rio com frequência, eventualmente em companhia da mãe, que é torcedora do Grêmio. No domingo, a menina se animou e pediu para acompanhar o pai após vê-lo arrumando-se para o jogo contra o Caxias.

Sodré disse ainda que tem uma reunião marcada com Luciano Hocsman, presidente da Federação Gaúcha de Futebol, para discutir medidas contra a violência no futebol gaúcho.

Em 2022, o Beira-Rio e seu entorno tiveram outros dois episódios de violência: uma pedrada contra o ônibus do Grêmio ferindo um jogador, em 19 de fevereiro, e um telefone arremessado no rosto de um jogador adversário, em 26 de março, durante a comemoração de um gol no clássico Gre-Nal.

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