Advogado de vítima diz que ela reconheceu Cuca como 'estuprador'

Suíço Willi Egloff, que atuou no caso de 1987 em nome da menina de 13 anos, refuta versão do treinador

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São Paulo | UOL

Apresentado sob protestos no Corinthians pelo caso de violência sexual registrado em 1987, na Suíça, Cuca afirmou ser inocente e usou como argumento o suposto fato de a vítima não tê-lo apontado como um dos agressores. O advogado Willi Egloff, que representou a menina de 13 anos e sua família no processo, negou a versão apresentada pelo ex-jogador.

De acordo com o suíço, "a garota o reconheceu como um dos estupradores". Ele reiterou uma informação publicada na época do episódio pelo jornal Der Bund, de Berna, que apontou que sêmen de Cuca fora encontrado no corpo da vítima. O advogado disse que o exame foi conduzido no Instituto de Medicina Legal da Universidade de Berna.

Willi Egloff afirmou ainda que o então atleta "foi condenado por relações sexuais com uma menor". O Código Penal Suíço mudou de lá para cá, mas os artigos violados à época, declarou o advogado, foram os que citavam "coerção" e "fornicação com crianças".

Cuca, em sua apresentação no Corinthians, na qual disse que a vítima de 1987 não o reconheceu como agressor; o advogado dela afirmou o contrário - Rodrigo Coca - 21.abr.23/Ag. Corinthians

Formado na Universidade de Zurique em 1974, o suíço disse ter sido procurado pelo pai da vítima para auxiliá-la na denúncia. Ele, que hoje presta consultoria nas áreas de direito de mídia e direito autoral, afirmou que a garota tentou suicídio após o episódio de 1987.

O caso se deu quando Cuca tinha 24 anos e havia acabado de chegar ao Grêmio, que fazia excursão na Europa. Ele foi detido em hotel de Berna ao lado de três companheiros, o goleiro Eduardo, o zagueiro Henrique e o atacante Fernando. Julgado e condenado em 1989, não chegou a cumprir a pena estipulada para o crime, que prescreveu, mas o caso voltou à tona e vem provocando forte rejeição, especialmente após o anúncio de sua contratação pelo Corinthians.

"Subiu uma menina para o quarto em que eu estava com mais três jogadores. Eram duas camas de casal. Essa foi minha participação. Sou totalmente inocente", declarou na última semana, sem oferecer detalhes. "Tenho uma lembrança muito vaga, porque faz muito tempo."

Há 36 anos, liberado ao fim da fase de instrução no processo, Cuca voltou ao Brasil. No julgamento, teve sentença de 15 meses de prisão e pagamento de US$ 8.000, mesma pena aplicada a Henrique e Eduardo. Fernando foi considerado culpado apenas por coerção e condenado a três meses de prisão, com multa definida em US$ 4.000.

Cuca não foi à Suíça para se defender nem para cumprir a pena estipulada. O caso teve repercussão na imprensa, mas esfriou e não foi grande empecilho para a carreira do paranaense como meia e, até pouco tempo atrás, a sua trajetória como técnico. Foi só nos últimos anos, na esteira de transformações na sociedade e no crescimento de feministas, que o episódio ressurgiu.

Willi Egloff, advogado suíço que representou a vítima no processo em que Cuca foi condenado por violência sexual na Suíça; o caso ocorreu em 1987
Willi Egloff, advogado que representou a vítima no processo - Reprodução

Confira a entrevista com o advogado da vítima

Alexi Stival, o Cuca, negou envolvimento no crime e disse que apenas estava no quarto. Segundo ele, três vezes, a vítima disse que ele não era um dos agressores. Você pode confirmar ou negar essa versão? A vítima o reconheceu como um dos criminosos?
Egloff:
A declaração de Alexi Stival é falsa. A garota o reconheceu como um dos estupradores. Ele foi condenado por relações sexuais com uma menor.

O jornal Der Bund mencionou que o sêmen de Cuca foi encontrado na vítima. Você confirma que essa foi uma das provas usadas no processo? Você se lembra de como o exame foi feito? Em 1987, a análise forense de DNA ainda estava em seus primeiros anos.
Egloff:
É correto que o sêmen de Alexi Stival foi encontrado no corpo da garota. O exame foi realizado pelo Instituto de Medicina Legal da Universidade de Berna.

Segundo o mesmo jornal, a vítima tentou cometer suicídio depois do crime. Isso realmente ocorreu? Não gostaríamos de invadir a privacidade da vítima, mas essa informação ajudaria o público a entender a extensão do trauma pelo qual ela passou.
Egloff:
Essa informação está correta. No entanto, eu não me lembro com certeza se isso ocorreu imediatamente após o evento ou mais tarde.

Os jornalistas brasileiros têm tentado obter acesso ao processo completo na Justiça suíça, mas ele está atualmente em segredo. Existe alguma maneira de acessá-lo?
Egloff:
Como o caso foi realizado sob proteção de privacidade, é difícil ter acesso ao arquivo.

Você se lembra exatamente por quais crimes os réus foram condenados? Você pode mencionar o artigo do Código Penal Suíço que eles violaram?
Egloff:
Alexi Stival foi condenado por violar o artigo 181 (coerção) e o artigo 191 (fornicação com crianças) do Código Penal Suíço. Desde então, o Código Penal Suíço foi revisado várias vezes. O antigo artigo 191 corresponde ao artigo 187 (atos sexuais com crianças) do atual Código Penal Suíço.

Como você ficou sabendo do crime? Como conheceu a vítima e seus pais e qual foi o seu papel no processo?
Egloff:
Fui contratado pelo pai [da vítima]. Como advogado da vítima, tive acesso completo ao processo.

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